Algo que começou com traição. História marcada pelo ardil e pela necessidade de proteção de si e de seus comparsas. Governo sem base social. Inflação baixa movida à recessão e à “pseudo estabilidade” econômica. Este é o país onde eu e você vivemos. O reino do faz-de-conta, com um rei impostor.
Sistema com aura de democracia, mas que encobre um ambiente elitizado, autoritário e repressor, onde quem pode mais chora menos. Paraíso das oligarquias, igualdade coisa nenhuma.
Sim, este é o país onde o dinheiro aparece quando for para comprar o silêncio dos colegas. E se aparece! Denúncias? Que venham, por aqui não passarão.
Expressões muitas, e curtas, para tentar desenhar o Brasil em letras. Tentar alertar que algo está muito errado, que estamos retrocedendo, e que, se nada for feito, vamos acabar nas mãos de extremistas iluminados, o que nos levaria à dança dos polos – esquerda, direita, pode, não pode. Confusão que atinge até mesmo o Judiciário, já hoje perdido.
Era óbvio que a saída simplória de “tira um, coloca outro” era uma besteira, e que iria nos custar três anos. Qualquer inteligência média e desapaixonada faria essa previsão, porque o problema não estava numa pessoa, mas no sistema apodrecido da qual ela (e todos mais) fazia parte, e para o qual teria que ajoelhar-se.
A governabilidade, de fato, tem sido impossível. O equilíbrio entre os poderes, mesmo entre Executivo e Legislativo, já não existe mais. O respeito entre os agentes públicos esfacelou-se faz horas, inviabilizando a administração de um colosso como esse, cheio de gente querendo empreender, crescer e somar, mas freados por uma capital isolada em sua ganância arrecadadora e sua necessidade de autopreservação – que na verdade é a preservação de seus privilégios, contrastantes com as parcas condições do cidadão comum.
Isso. Em Brasília a prioridade é o umbigo. E é verdade que sempre foi assim, e talvez sempre será. Mas hoje vivemos um momento único, que reinaugura a experiência cinzenta de governos ilegítimos. Hoje, o paradigma é justamente quem não deveria ser. O presidente.
Ele é o prevaricador-mor do umbigo. Com duas denúncias, um inquérito, mais uma fila de possíveis investigações, sabe que sairia do Planalto diretamente para um presídio, e, por isso (só por isso), luta tanto para ficar onde está, custe o que custar, doa a quem doer.
E está doendo, porque viver num país onde 200 milhões de pessoas sabem que não mais que 5% delas escolheria pelo presidente atual, dói muito.
Ilegítimo na entrada, mais ilegítimo na saída. Golpe para subir, descaradas fraudes para manter-se. Um epílogo triste para um país que parecia estar se alinhando com as grandes potências mundiais há menos de uma década. Um tropeço da democracia, que o Brasil vai lembrar por muitos anos, e que esta nova geração de caras-pintadas vai ter que rebolar para reescrever de forma menos vergonhosa. Porque sempre existirá alguém para dizer: Olha, gente: nem sempre “bater panelas” foi sinal de cidadania.