Não sei se isso acontece com os amigos leitores (imagino que em parte sim), mas a rotina das notícias sobre as múltiplas safadezas nacionais tende, de alguma forma, a nos anestesiar. A banalização dos fatos escabrosos – e das notícias sobre eles – cada vez mais parece reduzir o impacto que os mesmos deveriam produzir em nossas consciências acerca das mazelas políticas, econômicas e sociais que, desde sempre, angustiam quantos têm mínimo compromisso com a ideia de futuro.
Há, é inegável, uma espécie de fastio de tanta desventura, de tanto desencanto, de tanto ultraje, de tanto vilipêndio à dignidade que deveria ser assegurada a todos, inclusive, é óbvio e indispensável, aos milhões de irmãos postos à margem dos processos civilizatórios e de implementação da cidadania. Esses mesmos irmãos que, não raras vezes, servem de massa de manobra para demagogos populistas e salvadores da pátria de todos os naipes e calibres.
Precisamos com urgência nos desatrelar de determinados paradigmas que só fazem com que nos afastemos ainda mais de quaisquer possibilidades de mudança.
Ou os senhores acham que Lula, com toda a barafunda de sofismas, mentiras e desmentidos em que está enredado e envolvido, pode ser solução mágica para os problemas éticos e sociais do país? Ou que um presidente produto de um descarado golpe parlamentar e sem qualquer apoio popular, envolvido até a raiz dos cabelos em denúncias de corrupção, como o senhor Temer, tem alguma legitimidade para propor, com apoio de um Congresso desmoralizado e em boa parte comprometido com falcatruas e negociatas, mudanças que afetem a vida e o futuro de milhões de cidadãos?
Ou creem que ultraconservadores retrógrados, como Bolsonaro; que aventureiros “outsiders”, como João Doria ou Luciano Huck; que senadores insossos, como Marina Silva; que neoliberais de carteirinha como os demais representantes do tucanato, à feição de Geraldo Alckmin, ou ainda invenções midiáticas tipo Joaquim Barbosa alterariam alguma coisa? Honestamente, alterariam? Seriam eles capazes e teriam apoio parlamentar e popular para adoção de medidas moralizadoras da vida pública e da política brasileiras, como, por exemplo, acabar com as emendas parlamentares, o mais funesto dos mecanismos de compra e venda de votos da história de nosso país.
E estamos a um ano das eleições. O que assusta pela ausência de alternativa capaz de galvanizar a nacionalidade e conduzir o país a um novo patamar ético e de desenvolvimento que permita crescimento econômico sustentável e duradouro e avanços sociais restauradores do equilíbrio entre os vários brasis, que, hoje, sequer se comunicam, por rigorosa ausência de políticas públicas contempladoras da totalidade dos brasileiros, e que nos mantêm na inglória liderança mundial de concentração de renda e má divisão da riqueza nacional.
Quem sabe Ciro Gomes, se conseguir domesticar seus impulsos e sua instabilidade emocional, quem sabe o pensador Fernando Haddad? Os dois têm o melhor discurso político do Brasil atual. Mas será isso suficiente para que nos conduzam na tormentosa travessia que precisamos cumprir?