Em Santa Maria, apenas 13 casos da doença foram tratados nos últimos oito anos. O dado fornecido pela coordenação do Programa de controle da Tuberculose e Hanseníase do município representa um cenário no qual não há surto, mas pode haver subnotificação devido a falta de informação e busca por diagnóstico para doença.
Nesta matéria, saiba quais são os sintomas, como funciona os encaminhamentos de casos no município pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e quando buscar informação no setor de Tuberculose e Hanseníase de Santa Maria.
Sintomas
Considerada uma doença de notificação compulsória e investigação obrigatória, a Hanseníase é transmitida pelo ar, a partir da tosse ou do espirro de uma pessoa infectada. De acordo com a coordenadora do Programa de controle da Tuberculose e Hanseníase, Lindamara Martins, no momento em que se inicia o tratamento, o paciente para de transmitir a doença após 15 dias.
– O problema é que a Hanseníase é uma doença de incubação muito longa. A bacteria pode levar até cinco anos incubada para depois se manifestar – alerta.
A especialista sugere que a procura por atendimento médico ocorra ao apresentar os seguintes sintomas:
Manchas de cor avermelhada ou esbranquiçada na pele
Diminuição ou perda da sensibilidade ao calor, dor ou tato
Sensação de picada, dormência ou formigamento nas áreas afetadas
Fraqueza nos braços, mãos, pernas e pés
Ínguas ou caroços vermelhos e dolorosos
Febre
Sintomas muito parecidos com crises de reumatismo
Lindamara ainda reforça que o diagnóstico não virá de um sinal isolado, mas sim de um quadro em que todos os sintomas estão relacionados, sendo necessário a testagem para confirmar ou não o caso.
Casos
Em Santa Maria, 13 pacientes foram diagnosticados e tratados para Hanseníase de fevereiro de 2015 a janeiro de 2023. Deste quantitativo, dois casos foram recessivos e 11, novos quadros. A faixa etária dos pacientes era de 23 a 78 anos.
– Desses oito anos que estou aqui, teve um em que tivemos cinco pacientes em tratamento. Vários que chegavam aqui, nós desconfiávamos que fosse. Encaminhavamos para a referência do Hospital Universitário e não se confirmava diagnóstico. Neste ano, já houveram quatro encaminhamentos e por enquanto, não tivemos nenhuma confirmação de diagnóstico também. Pela primeira vez, estou sem nenhum paciente em tratamento – relata a profissional.
Apesar disso, Lindamara não descarta a possibilidade de subnotificação no município e cita a falta de informação como um dos fatores que contribui para o cenário:
– Nos preocupamos por ser uma doença mais difícil de obter diagnóstico. Sabemos que, aqui em Santa Maria, há pessoas que nem imaginam que tenham. Então, sempre que possível, procuramos estar presentes e orientando sobre Hanseníase e Tuberculose em feiras de saúde e campanhas de vacinação. As pessoas ainda se espantam, porque acha que não existe mais. Mas, ainda existe sim.
Encaminhamentos
Assim como em todas as redes públicas de saúde, o primeiro acolhimento ao paciente ocorre na unidade de saúde.
– A orientação é: tem suspeita, consulta com o clínico geral na unidade de saúde mais próxima. Se suspeitar de Hanseníase, ele vai colocar este paciente na regulação, que vai encaminhar para um dermatologista no Husm. Na medida em que o quadro de sintomas for confirmado, o paciente volta com o laudo pronto, indicando o tipo de Hanseníase e a medicação, que é a de seis meses ou a de 12 meses – explica Lindamara.
Encaminhado pela 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS), o medicamento recomendado é disponibilizado pelo setor de Tuberculose e Hanseníase, que faz parte da Policlínica José Erasmo Crossetti, no Bairro Centro. No espaço, também é feito o acompanhamento da primeira dose, além do fornecimento de informações e orientações sobre o restante do tratamento. Lindamara faz questão de enfatizar que a doença tem cura e o tratamento medicamentoso pode ser feito todo pelo SUS, ou seja, gratuitamente:
– Mesmo que a pessoa venha de um dermatologista particular ou do convênio, vai pegar a medicação aqui. É só aqui que é dispensado. Não tem em farmácia essa medicação. É tudo pelo SUS.
A busca por maior qualidade de vida envolve a análise mensal do quadro do paciente. Além do Husm, que é uma instituição local, o Programa de controle da Tuberculose e Hanseníase também conta com suporte em outros municípios.
– Caso haja necessidade também, temos a possibilidade de encaminhar esse paciente para o ambulatório de dermatologia em Porto Alegre, que é referência no Rio Grande do Sul em Hanseníase. Então, já teve casos de pacientes que chegavam, recebiam o diagnóstico tardio e eram encaminhados para lá. Um deles teve que fazer cirurgia, que é realizada só quando necessário – relata a coordenadora.
A prevenção também envolve prezar pela saúde de pessoas que vivem com pacientes com Hanseníase. De acordo com a especialista, nesses casos específicos, é indicado a aplicação de outra dose da vacina bacilo Calmette–Guérin (BCG), que também é eficaz contra a Tuberculose. Em fevereiro, a equipe coordenada por Lindamara, em parceria com outras políticas de saúde do município, deve realizar novas ações de rastreamento. A primeira será em instituições penais de Santa Maria.
Setor de Tuberculose e Hanseníase em Santa Maria
Horário de funcionamento – De segunda a sexta-feira, das 7h30min às 12h e das 13h às 16h30min
Onde – Policlínica José Erasmo Crossetti (Rua Floriano Peixoto, 1.752, Bairro Centro)
Telefone – (55) 3921-7060
Estratégias nacionais de redução do risco
Como parte da programação nacional, o evento Hanseníase no Brasil ocorreu na última terça-feira (24). Na oportunidade, o Ministério da Saúde anunciou a distribuição de 150 mil testes rápidos para detecção da doença. Os materiais deve ser distribuídos a partir de fevereiro para todo o país, sendo destinados a pessoas que tiveram contato com pacientes com o diagnóstico.
O SUS também contará com dois novos exames de apoio: o teste rápido (sorológico) e o de biologia molecular (PCR). Durante o evento, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que a pasta assumirá o compromisso de erradicar a hanseníase no país. Entre as metas de combate à doença até 2030, estão reduzir em 55% a taxa de casos em menores de 15 anos de idade; reduzir 30% o número absoluto de casos novos com grau de incapacidade física; e tomar providências perante manifestações sobre práticas discriminatórias relacionadas à hanseníase e registradas na ouvidoria.
Arianne Lima – [email protected]
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