Homenagem às vítimas

Intervenção com 242 cruzes, caminhada e vigília em frente à boate marcam último ato antes de júri

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Eduardo Ramos (Diário)

As 242 cruzes brancas fixadas nos canteiros laterais do viaduto Evandro Behr, na Rua do Acampamento, no cair da noite de sábado, eram prenúncio da série de homenagens a cada uma das vítimas do incêndio da boate Kiss. Ao mesmo tempo, cerca de 80 pessoas já se reuniam na Praça Saldanha Marinho para a confecção de faixas e cartazes levantados durante a caminhada que seguiu até a frente do prédio da boate, na Rua dos Andradas. Lá, por volta das 20h30min, começou uma vigília.

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_ É a manifestação até para que a cidade dê uma acordada e lembre do que aconteceu e as consequências cruéis que deixou. Costumo dizer, que a tragédia não matou somente 242 jovens, mas continua matando durante todos esse tempo: pais e mães morreram de sofrimento por não aguentarem a perda e desistiram de viver _  relata Flávio Silva, presidente da AVTSM e pai de Andrielle Righi da Silva, uma das vítimas do incêndio. Ele mesmo fixou dezenas de cruzes na noite deste sábado. Os materiais estavam guardados desde que o júri foi transferido de Santa Maria para Porto Alegre, em 2020, e seriam fixados no campus da UFSM.

Desde 2013, com exceção às medidas de isolamento social durante a pandemia, nenhum dia 27 de cada mês passa despercebido aos olhos de quem cruza o centro em Santa Maria, seja em ações em frente à tenda -  onde está o banner com a foto das 242 pessoas que perderam a vida pela tragédia - ou por meio de outras intervenções. Porém, neste sábado, o encontro marcou o último ato antes do júri do Caso Kiss, que começa dia 1º de dezembro, na próxima quarta-feira, no Foro Central I, em Porto Alegre, e os 106 meses da tragédia.

_ Eu me questionei muito se eu precisava estar aqui e se eu deveria ir ao júri. A resposta é que meu filho não morreu sozinho naquela madrugada e com ele, se foram outros 241. Por isso, é em nome de todos que eu vim aqui e irei a Porto Alegre acompanhar esse julgamento. Estamos juntos, continuaremos juntos _ relatou a professora aposentada Áurea Flores, 47 anos, enquanto caminhava pela Avenida Rio Branco em direção ao local da vigília. Ela é mãe de Luis Eduardo Viegas Flores, uma das vítimas do incêndio.

A propósito, a expectativa pelo julgamento junto do apelo por justiça foi a tônica do encontro que contou com manifestações dos participantes e imagens projetadas no prédio da boate que exibiram comentários de apoiadores, imagens de arquivo e a carta aberta de sobreviventes. A atividade integrou a campanha "Kiss: É hora da justiça!", e a projeção foi do artista visual Calixto Bento, com apoio da TV OVO.

VÍDEO: tudo o que você precisa saber sobre o júri da Kiss

Em desabafo, Flávio Silva falou da sua luta ao longo dos últimos anos e do quanto à iminência do júri e as estratégias utilizadas pela defesa de alguns réus afetaram a própria saúde. A irmã Lourdes Dill, a psicóloga Lígia Trevisan e o jornalista Vilceu Godoy também participaram das manifestações.

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Cerca de 80 pessoas participaram da vigília antecedida por uma caminhada que partiu da Praça Saldanha Marinho até a frente da boate

Por volta das 21h30min, uma caminhada de volta à Praça Saldanha Marinho, passando pela Avenida Rio Branco e pela Rua do Acampamento, encerrou as homenagens de sábado. A programação contou com a presença do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

O CASO

O incêndio ocorreu em 27 de janeiro de 2013,em Santa Maria. Morreram 242 pessoas e outras 636 ficaram feridas. O julgamento do processo foi transferido para a Comarca da Capital, por decisão da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Inicialmente, o desaforamento (troca de cidade)foi concedido a três dos quatro réus - Elissandro Spohr, Mauro Hoffmann e Marcelo de Jesus. Luciano Bonilha Leão foi o único que não manifestou interesse na troca (o julgamento chegou a ser marcado em Santa Maria) mas, após o pedido do Ministério Público, o TJRS determinou que ele se juntasse aos demais.

No processo criminal, os empresários e sócios da Kiss, Elissandro e Mauro, e os integrantes da Banda Gurizada Fandangueira, o músico Marcelo, e o roadie (encarregado pela troca de instrumentos) Luciano , respondem por homicídio simples (242 vezes consumado, pelo número de mortos; e 636 vezes tentado, número de feridos).

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