Foto: Renan Mattos (Diário)
No Boi Morto, o Papai Noel dispensa o uso das renas ou do trenó. Na verdade, desde 2008, ele trocou os cervídeos por um trator, responsável por levá-lo pelas vias do bairro e distribuir presentes para a criançada da comunidade. Essa mudança de estilo do bom velhinho foi possível graças ao empenho do casal Fátima Vilanova, 47 anos, e Robinson Noal, 66, que recolhe doações de balas, brinquedos e roupas para serem distribuídos em um percurso de algumas horas, na semana do Natal.
- Tiramos recursos do bolso e contamos com ajuda de amigos. Desde o ano passado, meus colegas do Colégio Castello Branco ajudam. Em 2018, os brinquedos vieram da colaboração de ex-colegas do meu marido - diz Fátima, que, das 10 edições, atuou como Noel em oito.
A edição deste ano do passeio solidário do Noel foi realizado no sábado passado, dia 22, para a alegria da gurizada. Nessas últimas duas edições, o responsável por trajar as vestes do Bom Velhinho foi o servidor público Jeferson Bodini, 53 anos, amigo do casal. Na oportunidade, além de brinquedos, foram distribuídos guloseimas aos pequenos na região Oeste da cidade.
O PROJETO
Foi durante a virada do milênio, em 2000, que Fátima foi morar no Boi Morto com Robinson. Anos mais tarde, o engenheiro civil aposentado voltou à infância para resgatar a ideia de um Papai Noel motorizado com um trator. É que na década de 1980, familiares e vizinhos de Robinson já protagonizavam uma ação semelhante pela cidade, comandada pelo então bom velhinho Antônio Augusto Centurião, o Pito. Mal sabia Robinson que a iniciativa voltaria a fazer parte da vida dele, quase 40 anos depois.
- Naquela época, as famílias nos intimavam para distribuir presentes nas casas. Em quatro décadas, tivemos três Papais Noéis: Pito, minha esposa e Jeferson - recorda Robinson.
Fotos: Arquivo pessoal
Moradoras do bairro, como a professora Carolina Durlo Vieira, 30 anos, aprovam a ideia do casal. No dia da celebração, a euforia dos filhos de Carolina, Miguel, 6, e Sophia, 2, anunciava a chegada do Papai Noel:
- Acompanho o projeto todos os anos. Miguel e Sophia ficam ansiosos esperando o trator chegar. O sorriso encantador de sempre e os presentes entregues pelo "próprio" Noel alegram o dia deles.
MOTIVAÇÃO
Além de ser o Papai Noel da criançada do Bairro, Jeferson também é pai de Rafaela, de 8 anos. A pequena, que faz questão de acompanhar o pai durante os passeios, ficou tão envolvida com a ação que se tornou a assistente do Noel, caracterizada com uma roupa especial. A relação com a filha, inclusive, foi fundamental para Jeferson compreender a importância do papel assumido. Ao notar a emoção das crianças do Boi Morto ao avistarem o Bom Velhinho, o representante comercial percebeu que ser alicerce disso tudo é muito mais sério do que ele imaginava.
- Na primeira vez que vi a expressão das crianças recebendo os presentes, percebi que a iniciativa não tem preço. É muito bom poder ser o Noel delas - relata.
A artesã Roberta Pedroso Garcia, 34, é uma das contribuintes do projeto. Neste ano, ela doou bonecas de pano confeccionadas por ela para serem entregues às crianças:
- Muitas crianças não têm oportunidade de ganhar um presente e muito menos de ver o Noel. É lindo quando o trator passa! Elas ficam emocionadas.
Fátima diz que as doações chegam com facilidade, visto que as pessoas contribuem com disposição. O desejo dela e do marido é de conscientizar as pessoas a respeito da importância de fazer ações sociais. Se depender dela, Papai Noel vai frequentar o Boi Morto em uma máquina agrícola por muito tempo:
- Pequenos gestos em favor do próximo fazem muita diferença. Muitas vezes, as pessoas que precisam de nossas ações estão bem do nosso lado - diz.
*Colaborou Lorenzo Seixas