tenda da vigília

Expectativas, dor revivida e solidariedade: o último dia de júri na tenda da vigília

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Marcelo Oliveira (Diário)/

No último dia de júri do Caso Kiss, a tenda da vigília montada na praça Saldanha Marinho, em Santa Maria, continuou com movimento de público, seja de curiosos, familiares ou aqueles que de alguma forma, foram impactados pela tragédia. Assim como nos outros dias, as pessoas de Santa Maria seguiram demonstrando carinho e solidariedade aos familiares que acompanham o júri, seja em Porto Alegre ou de outra cidade. 

Com cerca de cinquenta cadeiras, os espectadores mais concentrados assistiam sentados à transmissão, ocupando metade dos assentos. A exibição é feita em um telão de led, que permaneceu na praça durante os 10 dias de julgamento. 

Uma das pessoas que passavam pelo local na manhã desta sexta-feira foi Maria Odete Dias de Campos, que perdeu na tragédia a filha de 18 anos, Michele Dias de Campos. A época, Michele cursava o segundo semestre do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A mãe, Maria Odete, relata que ao assistir ao júri, e reviver todas as memórias daquele dia, sente "cutucar a ferida" da perda da filha que não cicatrizou. Michele era a mais nova de três filhas, sonhava em fazer mestrado e doutorado nos Estados Unidos, e toda a família estava empenhada em ajudá-la a realizar essa meta.

- Passar na praça e ver a fotinho dela no banner de vítimas já era dolorido, mas agora eu sinto como se meu coração despedaçasse de novo o tanto que eu demorei pra reconstruir. Ligo a TV e estão falando disso, venho para o Centro e está sendo transmitido na praça, as pessoas me param e perguntam como eu estou. Eu estou tentando viver, mas tá difícil. Minha filha estava feliz e realizada fazendo aquilo que gostava, e tudo isso foi roubado da gente. Ela saiu de casa sorrindo, e quando eu vi ela tava lá morta, durinha.

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style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Marcelo Oliveira (Diário)/
Maria Odete deixou uma mensagem na colcha de retalhos

Segundo a mãe, Michele fazia parte da comissão de formatura do curso, e por este motivo havia ido na festa na Boate Kiss naquela noite. Ela conta que se sente dividida quanto ao que esperar do desdobramento do julgamento, pois ao mesmo tempo que espera que alguém pague pelo ocorrido, também pensa que não quer que ninguém mais sofra:

- Tudo isso mexe com a gente. Nossos sonhos foram levados por uma sucessão de eventos e acontecimentos que poderiam ter sido evitados, e não foram. Alguém negligenciou, houve negligência por parte de alguém porque aquilo dali não tinha condições de funcionar. Não tinha porta de emergência, não tinha sinalização adequada, mais um monte de coisa que tava indevida. Não tô dizendo que foi alguém ou uma pessoa, mas esse é o fato.

SOBRE O JULGAMENTO 
Nesta sexta, às 15h30, os jurados devem se reunir para votação sobre o destino dos quatro réus do Caso Kiss, fato que divide as opiniões dos santa-marienses que acompanham fielmente as transmissões de cada turno de julgamento. Como é o caso do autônomo Paulo Roberto Dias, que naquela noite de janeiro de 2013 havia cogitado ir à festa da Boate Kiss. Foi por uma ligação da mãe, preocupada, que ele ficou sabendo que a tragédia havia ocorrido. Nos dias do júri, o autônomo acompanhou as transmissões em casa e na praça Saldanha Marinho, e tem sua opinião formada quanto ao julgamento: 

- Ao meu ver, mais pessoas deveriam estar sentadas nas cadeiras de réus, deveria haver maior responsabilidade do poder público, por exemplo.

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Músico há 30 anos, Ivan Alencar de Moura, que cursava tecnologia de alimentos na UFSM em 2013, perdeu dois amigos da faculdade na tragédia, além de um aluno de violão. Ivan mora há meia quadra da boate, e na madrugada do incêndio foi até o local para ajudar no salvamento das vítimas. Sobre o julgamento, Ivan se coloca no lugar dos jurados que decidirão o desfecho, e diz que não saberia qual atitude tomar:

- Eu não serviria para ser jurado, para mim, existe uma linha muito tênue entre justiça, injustiça e vingança. Foi uma tragédia, um acidente, ninguém queria que isso acontecesse, é muito difícil de julgar. 

COLCHA DE RETALHOS

Iniciativa do curso de Terapia Ocupacional da UFSM, a colcha de retalhos é composta de mensagens de apoio e sentimentos escritos por inúmeras pessoas desde o ano de 2013. 

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A oportunidade de demonstrar afeto e força a comunidade afetada foi disponibilizada durante os três turnos dos últimos 10 dias na praça Saldanha Marinho. Acadêmicos dos cursos de psicologia, fisioterapia e terapia ocupacional da UFSM ofereceram escuta a todos que se sentiram confortáveis para falar de suas dores, que impactaram toda a cidade. 

Caso Kiss pode terminar de três formas diferentes

Ao todo, foram mais de 100 retalhos escritos com o apoio de 35 voluntários. Após o júri, as colchas tomarão dois rumos, uma será levada ao prédio do curso, no campus da UFSM, e as demais serão entregues como forma de apoio aos pais e familiares das vítimas da tragédia. 

 *Colaborou Eduarda Nenê da Costa

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