Santa Maria sempre foi pródiga em bares noturnos. Ao longo dos anos, muitos surgiram e outros desapareceram. Faz parte do jogo. E, nesse mundo dos bares, uma mulher fez e faz história. Seu nome é Lourdes Da Cas, mas todos a conhecem por Lourdinha. O curioso é que nunca imaginou trabalhar neste ramo. O destino caiu de paraquedas na sua vida.
Na juventude, veio de Ibarama para estudar em Santa Maria. O desejo era fazer Odontologia na UFSM, mas acabou cursando Pedagogia na antiga FIC – Faculdade Imaculada Conceição. Estudava de noite e trabalhava de dia. O primeiro emprego foi no supermercado Trevicenter, hoje Nacional da Av. Medianeira. De lá, recebeu uma proposta e foi trabalhar no escritório do Cinemas Cupello, que funcionava em cima do antigo cinema Glória, na Rua Ângelo Uglione, quase esquina com a Riachuelo. A partir daí, sua vida deu uma guinada.
Um certo dia, quando chegou para trabalhar, estava tudo lacrado. Havia ocorrido uma intervenção estadual na empresa. Poucos dias depois, um colega de serviço, que também tinha uma lancheria na esquina, ao lado do cinema, recebeu uma proposta de trabalho e foi embora para Rio Grande. Antes de ir, porém, ofereceu-lhe o ponto, pelo preço de oitocentos cruzeiros. Como não tinha esse valor, Lourdinha foi atrás de um sócio. Conseguiu uma amiga e fecharam o negócio, pagando metade à vista e o resto parcelado. A inauguração foi em 2 de março de 1991, com o nome de “Ponto de Cinema: Famintos e Sedentos”. Anos depois, como o bar parecia ter dois nomes, ficou apenas “Ponto de Cinema”.
No começo, funcionava apenas com almoço. Como o espaço era pequeno e com poucas mesas, o negócio não estava se pagando. Com isso, a estratégia foi mudada. O bar passou a abrir somente de tardezinha, com happy hour. Na época, havia um grande número de bares e boates na volta, como “Belos e Malditos”, “Panaceia”, “Bar do Boni”, “Ancoradouro” e “Grecos”, o que trazia uma boa expectativa para a nova proposta, o que comprovou-se com o andar da carruagem.
A inserção da música ao vivo também surgiu por acaso. Como nas segundas-feiras o movimento era muito fraco, um músico se ofereceu para tocar nesse dia. Seu nome: Renato Mirailh. Mas havia um pequeno problema: a casa não tinha dinheiro para pagá-lo. O combinado, então, foi que ele receberia caso houvesse movimento. De saída foi bem complicado. Pouca gente se fazia presente. Mas Renato insistiu e foi uma, duas, três, quatro, cinco vezes, até que lá pelas tantas o pessoal tomou gosto e começou a ir em peso às segundas-feiras, virando esta noite uma tradição no bar e, porque não dizer, na cena noturna da cidade. A partir daí, começou a ter música ao vivo todos os dias.
Depois de 27 anos de Ponto de Cinema, atualmente Lourdinha está, junto com o cunhado e a filha, à frente do Bar da Casa, na esquina da Bozano com a Barão do Triunfo. Segue com a mesma energia e motivação, sempre comunicativa e mantendo a excelência no atendimento e o capricho no bem servir, fazendo do bar uma extensão da casa dos seus clientes.
A vida, muitas vezes, traça caminhos que nunca imaginamos. Lourdinha é um exemplo. Sonhava ser dentista, se formou em Pedagogia, trabalhou em algumas empresas e, no final das contas, foi atuar no ramo de bares, tornando-se uma empreendedora de sucesso e uma referência no setor.
Leia todos os Colunistas