Foto: Vinicius Becker (Diário)
O Orçamento da prefeitura de Santa Maria para 2026 está estimado em R$ 1,69 bilhão. A previsão de despesas com a máquina pública cresce R$ 170 milhões em relação ao valor atual, de R$ 1,45 bilhão. Apesar da ampliação, o projeto aponta um déficit de R$ 66 milhões para o próximo ano – ponto que travou um embate entre a base e os opositores do governo Rodrigo Decimo (PSD). O texto foi aprovado pelos vereadores em sessão extraordinária realizada na madrugada desta sexta-feira (12).
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Já passava da meia-noite quando a Mesa Diretora da Câmara deu início aos trabalhos. O horário avançado foi alvo de críticas da oposição, que reivindicava mais tempo para analisar o projeto. Mas foi na discussão do Orçamento que a tensão ficou ainda maior. De um lado, a base do governo argumentou que votava a favor do projeto amparada no parecer da Assessoria Técnica da Câmara e nas necessidades do município. Já a bancada de oposição se apegou a declarações do chefe do Executivo que, na interpretação do bloco, responsabilizou o Legislativo pela aprovação do Orçamento com déficit de R$ 91 milhões deste ano.
A crise financeira do município também foi pauta. Em março do primeiro ano do governo, o Executivo gere o município com um decreto de contenção de gastos “embaixo do braço”. As dificuldades financeiras ficaram ainda mais evidentes com as discussões sobre a Reforma da Previdência. Estudos apontam para um déficit atuarial de R$ 4,5 bilhões – que é o cálculo que simula o valor necessário para pagar servidores ativos e inativos se eles se aposentarem em um mesmo momento. Só em 2026, a estimativa de gasto com o Ipassp é de R$ 479,2 milhões, o que representa quase um terço do orçamento.
Diante desse contexto, vereadores da oposição não hesitaram em declarar na Tribuna:
– Eu não serei responsável por essa conta – afirmou Marina Callegaro (PT).
Em tom de ironia Tubias Callil, do Partido Liberal, declarou:
– A cidade está esburacada, não tem obra, tem fantasia. E o prefeito tem razão: a responsabilidade é nossa.
Representantes da base foram para Tribuna e rebateram a oposição. Citaram outros municípios com déficit em seus orçamentos, a exemplo do que acontece no Estado e na União. Em novembro, a Assembleia Legislativa aprovou o orçamento do governo Eduardo Leite (PSD) para 2026 com déficit projetado de R$ 3,79 bilhões. Já o governo Lula (PT) enviou ao Congresso uma estimativa de gastos e arrecadações que tem como saldo um rombo de R$ 23,3 bilhões.
– Parece que só Santa Maria está passando por dificuldades – ironizou Alexandre Vargas (Republicanos), em relação às críticas da oposição.
Luiz Roberto Meneghetti (Novo) frisou que a situação financeira do município é consequência do déficit previdenciário. Ele reconheceu a legitimidade dos servidores municipais protestarem contra a Reforma, mas alertou para o comprometimento das finanças:
– O ponto é saber até quando esses direitos vão estrangular o caixa do município.
Emendas
Junto com o Orçamento, foram aprovadas as emendas impositivas dos vereadores. Cada parlamentar terá quase R$ 1 milhão para suas propostas em 2026.
Placar do projeto do Orçamento
Votaram a favor
- Adelar Vargas (MDB)
- Admar Pozzobom (PSDB)
- Alexandre Vargas (Republicanos)
- Givago Ribeiro (PSDB)
- Guilherme Badke (Republicanos), Manequinho
- João Ricardo Vargas (PL), Coronel Vargas
- Lorenzo Pichinin (PSDB)
- Luiz Carlos Fort (Progressistas)
- Luiz Roberto Meneghetti (Novo)
- Marcelo Bisogno (União Brasil)
- Rudys Rodrigues (MDB)
- Sergio Cechin (Progressistas)
- Tony Oliveira (Podemos)
Votaram contra
- Alice Carvalho (PSol)
- Helen Cabral (PT)
- Luiz Fernando Lemos (PDT)
- Marina Callegaro (PT)
- Sidi Cardoso (PT)
- Tubias Callil (PL)
- Valdir Oliveira (PT)
- Werner Rempel (PCdoB)
Entenda o orçamento de 2026
No Orçamento de 2026, as pastas de Educação e Saúde concentram a maior parte dos recursos previstos: R$ 336,87 milhões e R$ 188,95 milhões, respectivamente. A Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade, responsável por obras, manutenção de vias e pavimentação, deverá contar com R$ 110,08 milhões.
Voltada à zeladoria urbana, a Secretaria de Serviços Públicos terá R$ 68,49 milhões. Já o Desenvolvimento Social, área que registra aumento constante na demanda por atendimentos, deve receber R$ 28,5 milhões no próximo ano.
O maior volume de recursos, porém, está no Instituto de Previdência. São R$ 479,29 milhões destinados ao pagamento de aposentadorias e pensões, encargos sociais e à cobertura do desequilíbrio financeiro do Ipassp. A Câmara de Vereadores contará com um orçamento de R$ 50,5 milhões.
No total, a receita prevista para 2026 soma R$ 1,624 bilhão, valor insuficiente para cobrir a despesa projetada de R$ 1,690 bilhão. O município, portanto, inicia o próximo ano com um desequilíbrio de R$ 66 milhões, que o Executivo pretende enfrentar com cortes, revisão de contratos e busca por novas fontes de arrecadação.
Detalhes do Orçamento para 2026
- Receita: R$ 1,624 bilhão
- Despesa: R$ 1,690 bilhão
- Déficit: R$ 66 milhões
Orçamento por secretaria e órgão
- Secretaria da Educação R$ 336, 87 milhões
- Secretaria da Saúde R$ 188,95 milhões
- Secretaria de Desenvolvimento Social R$ 28,51 milhões
- Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária R$ 2,43 milhões
- Secretaria de Município de Segurança e Ordem Pública R$ 26,49 milhões
- Secretaria de Licenciamento e Desburocratização R$ 13,45 milhões
- Secretaria de Meio Ambiente R$ 8,57 milhões
- Secretaria de Resiliência Climática e Relações Comunitárias R$ 2,95 milhões
- Secretaria de Serviços Públicos R$ 68,49 milhões
- Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade R$ 110,08 milhões
- Secretaria de Governança R$ 6 milhões
- Procuradoria Geral do Município R$ 5,10 milhões
- Secretaria da Fazenda R$ 23,83 milhões
- Secretaria de Comunicação R$ 6,64 milhões
- Secretaria de Gestão de Pessoas R$ 11,97 milhões
- Secretaria de Planejamento e Administração R$ 21,77 milhões
- Secretaria de Transparência e Controle R$ 5,35 milhões
- Secretaria Extraordinária de Projetos Especiais R$ 1,32 milhão
- Secretaria de Urbanismo e Projetos R$ 6,96 milhões
- Secretaria de Cultura R$ 6,82 milhões
- Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação R$ 5,63 milhões
- Secretaria de Desenvolvimento Rural R$ 9,74 milhões
- Secretaria de Esporte e Lazer R$ 6,45 milhões
- Secretaria de Turismo R$ 2,70 milhões
- Reserva de Contingência R$ 170,91 milhões
- Ipassp R$ 479,29 milhões
- Câmara de Vereadores R$ 50,50 milhões
Impostos na fatia do Orçamento
Receitas próprias
- ISS – R$ 151.849.000
- IPTU – R$ 92.119.000
- Taxas – R$ 38.391.000
- ITBI – R$ 38.336.000
Receitas de repasses
- FPM – R$ 180.360.000
- ICMS – R$ 176.150.000
- IPVA – R$ 83.500.000
- ITR – R$ 3.360.000
- IPI – R$ 2.100.000
O que disseram os vereadores na Tribuna
Confira, abaixo, o que disseram os parlamentares durante a discussão do projeto na sessão extraordinária. A ordem segue a sequência das manifestações da Tribuna.
Werner Rempel (PCdoB)
"Estamos dizendo para a população de Santa Maria que não estamos nem aí para a Lei [...]. O Legislativo tem suas prerrogativas que precisam ser respeitadas. Eu pretendia ler com calma até terça-feira, para ser responsável com o mandato que eu tenho, para falar com muito mais propriedade. E dessa forma, não me restará outra coisa, se não votar contra a Lei Orçamentário, para que fique em paz com a minha consciência."
Sidi Cardoso (PT)
"Na Educação, cortaram R$ 20 milhões (no orçamento em relação a 2025) e na Saúde, R$ 10 milhões. Mas, na Secretaria de Infraestrutura (e Mobilidade), de R$ 67 milhões foi para R$ 110 milhões. Então, se cortaram na Saúde e na Educação, por que ainda se tem esse déficit de R$ 66 milhões? Então, por que ele insiste em enviar um projeto da LOA com déficit orçamentário? Para dizer que foi aprovado pela Câmara."
Luiz Roberto Meneghetti (Novo)
"Novamente se discute a questão do déficit. É extremamente relevante apontar que, na LOA, as despesas previdenciárias do município vão atingir 29% do Orçamento. Não me parece saudável, para qualquer município, ter esse percentual aplicado em previdência. Tivemos a demonstração da organização dos servidores públicos, e estão corretos na defesa dos seus direitos, mas o ponto é até quando esses direitos vão estrangular o caixa do município."
Tubias Callil (PL)
"O governo vem nos atrapalhando. Vem atrapalhando a cidade. Para mim, fica cada vez mais claro, que essa gestão não tem experiência nenhuma. O prefeito pode mandar a Lei Orçamentária com déficit? Pode. O que vai acontecer é que ele vai falar na rádio e mandou o projeto com déficit e a Câmara aprovou porque quis. Então, essa responsabilidade não vai ser minha. Vou cumprir meu papel de fiscalizador."
Valdir Oliveira (PT)
"Neste ano, mesmo ele (Rodrigo Decimo) jogando a culpa para cima de nós, pelo menos poderia ter corrigido e mandado um Orçamento que não fosse deficitário. Não vamos ser, mais uma vez, coniventes com essa irresponsabilidade fiscal. E me chama muita atenção, que se reduz o orçamento para os distritos de R$ 30 milhões para R$ 9 milhões. Já temos uma dificuldade enorme de atendimento às demandas rurais, e ainda se reduz."
Helen Cabral (PT)
"Diziam que as contas estavam em dia, que não existiam problemas nas contas da prefeitura. Por que não disseram a verdade? Na realidade, o que a gente percebe é uma falta de planejamento e ainda mandam para esta Casa uma peça orçamentária com um déficit de R$ 66 milhões. Nós queremos explicações. E não podemos ficar calados diante dessa situação porque os serviços vão colapsar."
Luiz Fernando Lemos (PDT)
"Se hoje o governo apresenta um Orçamento com esse déficit, não podemos deixar de enxergar de onde vem isso. E eu não podia deixar de usar a Tribuna neste momento pensando que há pouco tempo atrás moravámos no melhor mundo e, de uma hora para outra, o que temos em Santa Maria é só problema. Esse déficit que se apresenta é oriundo de uma política construída para isso, onde foram mascarados os problemas."
Marina Callegaro (PT)
"Nós mesmos não sabíamos que iríamos votar a Lei Orçamentária, que vai definir políticas públicas para o próximo ano. Por que não apresentamos uma proposta para Santa Maria? Eu estou disposta a sentar e dialogar, para buscar alternativas. Se Santa Maria está no buraco, eu acho que devemos nos unir em prol da cidade. Votarei contrária porque essa conta não é minha."
Alexandre Vargas (Republicanos)
"O que eu vejo é que a eleição não terminou. Parece que é só o município de Santa Maria que está passando por dificuldades. Vários municípios têm deficit. Porto Alegre tem um R$ 1 bilhão de déficit."