reviravolta no caso

Estudante da UFSM é denunciado porque teria forjado ataque racista contra ele próprio

da redação

Depois de seis ataques racistas registrados nos últimos dois anos no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) _ nenhum deles com autoria definida _, parte da investigação teve uma reviravolta. Um dos estudantes que teria sido vítima do segundo ataque _ Elisandro Ferreira, 44 anos _ foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por quatro crimes: injúria racial, falsidade ideológica, ameaça e denunciação caluniosa.

Em 2017, Elisandro havia sido vítima de um ataque registrado nas paredes do Diretório Livre do Direito (DLD) no prédio da Antiga Reitoria, no Centro. O caso aconteceu em 14 de setembro, quando o nome dele e de outra estudante apareceram escritos na parede junto de frases racista, com os seguintes dizeres: "Elisandro e Fernanda, o lugar de vocês é no tronco, fora negros, negrada fora".

Quanto a esse primeiro ataque, a Polícia Federal informou que ainda não chegou a uma conclusão sobre a autoria. Porém, segundo a denúncia do MPF, cerca de três meses depois da suposto crime, Elisandro procurou a PF e disse receber, por celular, mensagens de ameaça e de cunho racista. Ele teria dito que desconfiava de um outro estudante do Direito da UFSM. Fernanda, que foi vítima do ataque na UFSM, foi novamente atacada e recebeu, por mensagem no celular, relatos com o mesmo teor racista.

A PF começou a investigar e concluiu que o conteúdo era enviado do aparelho de Elisandro, mas de outro chip. Para a procuradora da República substituta de Santa Maria, responsável pela denúncia de Elisandro, Camila Bortolotti, ficou comprovado "de forma inequívoca" que, além de enviar as mensagens a si mesmo, ele também mandou para Fernanda. Além disso, a PF e o MPF concluíram que ele usou o CPF do colega quando comprou o chip usado no envio das mensagens.

A procuradora explica que, por isso, ele foi indiciado pelos quatro crimes: ameaça e injúria racial, por suspeita de ter enviado mensagens com esse teor para Fernanda; falsidade ideológica, por suspeita de ter usado os dados de um terceiro na compra do chip e, por fim, denunciação caluniosa por suspeita de mover uma investigação de um crime que sabia ser inexistente.

- A Polícia Federal pediu quebra de sigilo dos dados telefônicos do Elisandro e também da linha telefônica que supostamente estava enviando as mensagens para ele. E a partir do cruzamento de dados, do e-mail utilizado por ambos chips das linhas telefônica e também das estações rádio-base, que eram utilizadas para envio de mensagens, se chegou a conclusão que o Elizandro tinha comprado um chip e tinha registrado em nome do colega de aula a quem ele estava atribuindo a autoria das mensagens e estava mandando mensagens para si próprio - comentou a procuradora. 

Fernanda, que acompanha as investigações desde o início, disse que ficou sabendo que o colega foi denunciado por meio da imprensa e que ficou muito triste. Até então, tudo que ela sabia é que o mesmo número de telefone que enviava as mensagens para ela, mandava a Elisandro, mas desconhecia o envolvimento dele:

_ Para mim, é muito difícil acreditar que tenha sido ele. Nós dois fomos vítimas naquele outro caso (na UFSM) e, até então, éramos vítimas de novo. Eu fico triste com a situação, me dói acreditar que ele foi o responsável, mas caso isso seja confirmado ao longo do processo, que as medidas cabíveis sejam tomadas _ comentou Fernanda.

Elisandro Ferreira deve se manifestar em uma coletiva de imprensa marcada para manhã de quarta-feira. 

Por meio de nota, a UFSM disse que ainda não tinha sido comunicada sobre a denúncia. Veja, na íntegra, o que disse a instituição: 

A Universidade Federal de Santa Maria informa que, até o momento, não foi comunicada e não teve acesso ao inquérito policial envolvendo o acadêmico Elisandro Ferreira.

Atualmente contamos com mecanismos institucionais de apuração e responsabilização para eventuais irregularidades praticadas por membros da comunidade universitária, inclusive discentes, e reafirmamos nosso total compromisso ao combate a quaisquer formas de discriminação e intolerância.

*Colaboraram Thays Ceretta e Michelli Taborda 

OS CASOS NA UFSM
Foram três casos de ódio registrados na UFSM em 2017 e outros três registrados entre 2018 e 2019:

  • 17 de agosto de 2017 _ Na sala do Diretório Livre do Direito (DLD), os alunos encontraram o desenho de uma suástica na parede da sala, que não tinha chaves e ficava permanentemente aberta.
  • 14 de setembro de 2017 _ Também na sala do DLD, frases com "Fernanda e Elisandro, o lugar de vocês é no tronco, fora negros, negrada fora", foram deixadas em uma das paredes. O caso gerou uma série de atividades de manifestação contra o racismo na instituição e os alunos participaram da Tribuna Livre da Câmara dos Vereadores, onde pediram um posicionamento por parte da UFSM. Os dois ataques no DLD ainda não tiveram autoria identificada pela PF. O caso chegou a ser arquivado, por falta de provas, mas voltou a ser investigado.
  • 21 de novembro de 2017 _ Aconteceu na sala do diretório do curso de Ciências Sociais, em Camobi, quando alunos encontraram a frase "Brancos no topo, fora macacos" ao lado do nome de três alunos do curso, na parede da sala.
  • 10 de outubro de 2018 _  Dois jovens negros sofreram agressões verbais dentro da Avenida Roraima - no campus principal - por um gari que os chamou de "macacos" e "negros sujos". Neste caso, o autor foi identificado e na última segunda-feira indiciado pela Polícia Civil. ,
  • 26 de outubro de 2018 _ Um vaso sanitário do Colégio Politécnico da UFSM recebeu a frase "esses pretos fedidos vão morrer" com o desenho de uma suástica nazista e ainda "#B17", o que seria uma referência ao então candidato à Presidência, Jair Bolsonaro.
  • 24 de abril de 2019 _ No Banheiro da Biblioteca Central, foram escritas as palavras "pretos imundos", "macacos", babuínos" e "pretos na senzala".








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