Com Brasil na 10ª posição do ranking mundial, especialistas fazem alerta sobre índices de prematuridade durante Novembro Roxo

Arianne Lima

Com Brasil na 10ª posição do ranking mundial, especialistas fazem alerta sobre índices de prematuridade durante Novembro Roxo
Entre tantas causas, o dia 17 de novembro é conhecido como de alerta mundial sobre a prematuridade. No Brasil, 340 mil bebês nascem com menos de 37 semanas de gestação todo ano. Ou seja, são 931 nascimentos do tipo por dia ou seis prematuros a cada 10 minutos, o que justifica que o país ocupe a 10ª posição no ranking mundial de prematuridade.

Ainda segundo os dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), o nascimento de bebês prematuros já corresponde a mais de 12% dos nascidos vivos no país, o que é considerado o dobro do índice de países europeus. Os números tem gerado preocupação para profissionais de diversas áreas da saúde, especialmente por ser um cenário que pode ser evitado.

Durante o Novembro Roxo, a prevenção e sensibilização da prematuridade dá espaço ao diálogo sobre a importância do pré-natal para cuidar tanto do feto quanto da gestante.

Foto: Gabriel Haesbaert (Arquivo/Diário)

O que é a prematuridade?

A prematuridade está ligada a idade gestacional com que um bebê nasce. A enfermeira obstetra e coordenadora do Mestrado Profissional de Saúde Materno Infantil da Universidade Franciscana (UFN), Dirce Stein Backes, explica que o tempo é essencial para entender a prematuridade:

– Às vezes, não comentamos, mas um ou dois dias que essa criança nasce antes do tempo previsto, faz com que ela não esteja madura o suficiente. Por isso, o parto normal é o mais aconselhado. Mas, para isso a mãe precisa ser aconselhada não ali na maternidade, porque não é ali que ela vai optar pelo parto normal. O parto fisiológico ocorre quando de fato a criança está madura, está preparada e ela autonomamente escolhe nascer. Então, qualquer hora ou qualquer dia antes deste processo, pode e deve ser considerado prematuro.

Algumas complicações também pode levar a esta condição durante a gestação. São elas:

Infecções;

Insuficiência istmocervical (abertura do colo do útero);

Colo do útero curto;

Partos prematuros anteriores;

Rotura prematura da bolsa;

Tabagismo;

Miomas;

Gravidez de múltiplos;

Descolamento prematuro da placenta;

Diabetes gestacional;

Pré-eclâmpsia (aumento da pressão arterial na gravidez);

Alterações clínicas na gestante ou no feto que necessitem de interrupção antes do tempo esperado.

Fonte: Ministério da Saúde

Para Dirce, além dos contratempos e patologias pulmonares, cardíacas, de ordem do sistema renal, entre outras gerados pela prematuridade, é preciso pensar no aspecto emocional:

– As primeiras desordens que vão acontecendo são as questões pulmonares. Às vezes, o pulmão não está bem formado ainda. Então, a criança vai ter que ir para um tubo ou para a UTI Neonatal e isso cria todo um desconforto por estar longe da mãe e da família. Sem falar das questões mentais e de ordem emocional tanto para a mãe, quanto para o bebê.

Faça o pré-natal

Para previnir doenças que colocam tanto a saúde do feto quanto da gestante em risco, a enfermeira Dirce Backes orienta que seja realizado o pré-natal. O processo, que é composto por anamnese (entrevista), consultas, exame físico e análises de exames laboratoriais e de imagens, pode ser feito gratuitamente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

– Desfechos favoravéis da gestação geralmente estão relacionados a qualidade do pré-natal. Ou seja, uma mãe que consegue fazer as seis consultas pré-natais preconizadas pelo Ministério da Saúde com qualidade, estará previnindo uma série de questões, tanto relacionadas as doenças crônicas de ordem física, quanto as de ordem emocional. Ela fazendo essas consultas o profissional também estará mais próximo para detectar e ajudar neste processo – enfatiza Dirce.

Além disso, o pré-natal também serve para tirar dúvidas, apresentar preocupações e até mesmo, obter informações importantes. A enfermeira e doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lenise Dutra da Silva, 28 anos, desenvolve pesquisas na área de saúde materno e neonatal. Para ela, o ideial é que a gestante não perca tempo dentro do sistema, sabendo para onde ir na hora do parto ou onde buscar assistência.

– Aqui, em Santa Maria, temos a Casa de Saúde, de baixa complexidade, e o Hospital Universitário, que é alta complexidade. A mulher que está lá na Unidade Básica precisa ter conhecimento sobre onde ela precisa ir, porque o tempo que ela perde dentro deste sistema pode acarretar em uma complicação maior e este bebê acabar vindo a óbito. Então, ela ter esta rede interligada e essa comunicação assertiva de onde ela precisa ir, acredito que vai reduzir tanto o índice de prematuridade, quanto as possíveis complicações na vida deste bebê.

Investimentos para diminuir os efeitos da prematuridade

Desde setembro deste ano, o Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) conta com um aparelho para aplicação de laser em recém-nascidos diagnosticados com Retinopatia da Prematuridade (ROP) grave. A instituição hospitalar é a única do interior do Estado a ofertar o tratamento pelo SUS. O aparelho, que é avaliado em R$ 230 mil, foi adquirido com recursos destinados pela Justiça Federal.

A médica oftalmologista do Husm e especialista em Retinopatia da Prematuridade, Aline Reetz Conceição, explica quais são os fatores que contribuem para doença, considerada uma das maiores causas de cegueira infantil na América Latina:

– Essa doença se desenvolve com alguns fatores de risco, que seriam o baixo peso, a idade gestacional precoce e a exposição acentuada ao oxigênio. Muitas vezes, se necessita de muito oxigênio para esta criança se desenvolver, porém, é comprovado que isso é nocivo para a formação natural da retina.

Monitoramento

Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, a equipe monitora crianças nascidas com idade menor ou igual a 33 semanas de gestação ou com peso menor ou igual 1,5 kg que estão em maior risco. Crianças prematuras extremas, que nasceram com menos de 1kg e foram expostas a suplementação excessiva de oxigênio também passam pelo teste do fundo de olho, o principal exame para diagnóstico. O processo, que é realizado a cada dois dias, consiste na aplicação de um colírio capaz de dilatar a pupila da criança para visualizar as estruturas internas do globo ocular. 

Por ano, no Husm, muitas crianças são diagnosticados com a doença. Porém, em média quatro a sete bebês acabam necessitando do procedimento com laser. A aplicação dura entre 2 a 3 horas e a chance de resolução do problema é de em torno de 80%. A importância de disponibilizar este serviço para Santa Maria e região é enfatizada por Aline:

– Este tratamento era realizado somente por profissionais que vinham de fora de Santa Maria. Então, o grande benefício é ter o aparelho aqui disponível para acelerar o tratamento desta criança e não perdermos tempo, porque a retinopatia da prematuridade grave e com indicação de laser têm um tempo certo para que seja realizado o procedimento. Caso o contrário, aumenta muito o risco de descolamento de retina.

Na maioria das vezes, o tratamento é resolutivo, mesmo podendo trazer consequências. Após o procedimento com laser, o paciente precisará ser acompanhado pelo hospital durante os próximos anos. 

– O laser salva a visão da criança, que teria grandes chances de ser fadada a cegueira irreversível. Mas, ele não isenta de futuros problemas como a perda de campo visual, o desenvolvimento de problemas refracionais como a miopia, além do estrabismo. Esses são os principais fatores – comenta a oftamologista.

Na foto, a oftamologista Aline realiza o teste do fundo do olho em um bebê prematuro. O processo de monitoramento da retinopatia da prematuridade serve para determinar se há necessidade ou não de procedimento com laser

Arianne Lima – [email protected]

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