projeto Estamos Juntos

Aos 37 anos, morador de rua conquista seu primeiro emprego formal

Pâmela Rubin Matge


Foto: Renan Mattos (Diário)

Márcio* assinou ontem os documentos que atestaram sua efetivação no emprego. Ele tem 37 anos e nunca teve a Carteira de Trabalho assinada. Aliás, nem sequer teve um trabalho formal e recém adquiriu o documento. O que o separou do mercado foram as consequências de quase duas décadas vivendo em situação de rua.  

Porém, uma oportunidade atravessou seu caminho. Isso porque, no fim de junho, a prefeitura de Santa Maria promoveu uma capacitação para servidores públicos, sindicatos e outros setores com o objetivo de incluir pessoas em situação de rua no mercado de trabalho.

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A proposta é da Viater, uma construtora de Belo Horizonte (MG) que, desde março, participa do Programa Estamos Juntos e oferece uma aliança entre o poder público e a sociedade. O objetivo é garantir a inclusão produtiva para a população em situação ou com trajetória de vida nas ruas.

Santa Maria é a primeira cidade do Estado e a segunda do país a receber o programa. Márcio é um entre os primeiros três contemplados no município. A Viater presta serviço de manutenção das ferrovias no Estado, e Márcio trabalhará na função de conservador de trilhos, fazendo a manutenção de dormentes de trilhos.

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EM PRÁTICA
O trabalho do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) municipal foi a ponte entre Santa Maria e Belo Horizonte. A integração começou quando o coordenador do Sine, Ramiro Dutra Rodrigues, trouxe a psicóloga Etiene Azevedo da Silva, responsável pelo projeto da construtora mineira, e a apresentou às profissionais do município. A partir de então, foi estabelecida a parceria com o Creas, por meio da assistente social Annie Jacques e da psicóloga Maria Conrado. 

- Trabalhamos com a conscientização progressiva, com o resgate desse público (de rua) para que eles sejam protagonistas da própria história. Isso nada mais é do que a efetivação da política pública. Minha colega Annie já tinha conhecimento do projeto por meio de uma reportagem. Daí, o Ramiro trouxe a Etiane para o Creas, uma feliz coincidência - diz Maria Conrado.

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A responsável pelo projeto acrescenta que a iniciativa tem se expandido pelo Brasil e oportunizado uma nova possibilidade de vida a muitas pessoas.

- Começamos em Belo Horizonte com a proposta de restabelecer a cidadania para que o público de rua tivesse como reconstruir a vida. Como a Viater oferece alojamento e alimentação, ficaria até mais fácil de acolhê-los. Em Santa Maria, o caminho que fiz foi procurar o Sine e ir ao Creas. Eles fizeram oficinas e seleções. Depois, nós fizemos outra triagem - conta a psicóloga.

*O nome é fictício. O entrevistado pediu para não ser identificado nesta reportagem.

PASSADO NAS RUAS

Aos 17 anos, Márcio começou a beber e em pouco tempo foi vencido pelo alcoolismo. Mais tarde, o uso de outras drogas também afetaram sua trajetória. A perda da mãe há cinco anos, seu único vínculo familiar, agravou a situação.

_ Meu pai morreu quando eu era criança. Da mãe, eu era filho único, mas caí na rua e cheguei ao fundo do poço. O problema é que eu não conseguia mais sair. Fui ao fundo do poço e perdi o controle da vida, principalmente quando a mãe morreu. Um dia, graças àqueles cafés da praça pedi ajuda e hoje estou aqui, pronto para trabalhar. Espero que, agora, as pessoas não tem preconceito com o passado da gente e que outras oportunidades sejam dadas _ diz.

A ajuda que Márcio refere veio do Núcleo de Apoio de Pessoas em Situação de Rua de Santa Maria (Naps-SM), que promove, entre outras ações, Cafés Solidários aos sábados, na Praça Saldanha Marinho. Por meio do grupo, Márcio foi encaminhado a uma fazenda de recuperação para dependentes químicos na região, de onde saiu há cerca de dois meses ei abraçado pelo Programa Estamos Junto. Atualmente, o recém-empregado também frequenta grupos dos Alcoólatras Anônimos.

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