“O palco da tragédia sempre vai existir, mas ressignificá-lo é muito importante”, afirma psicólogo sobre construção do Memorial da Kiss

Foto: Beto Albert

Mais do que uma memória permanente para Santa Maria, a construção do Memorial da Kiss ressignifica uma história que perdura há 11 anos. Desde o dia 27 de janeiro de 2013, o prédio da boate viu de perto a dor das famílias, as homenagens e os incansáveis pedidos de justiça. Quase uma década depois, a antiga ruína da Kiss, aos poucos, vai dando lugar ao Memorial. A construção pensada para ser um espaço de lembranças, cultura e educação, também deve significar alento para quem, de alguma forma, ainda sente a tragédia.


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Para o psicólogo Patrick Ramos Camargo, o Memorial não faz esquecer o que aconteceu, mas pode amenizar a dor e o sofrimento das famílias:

– Querendo ou não, o palco da tragédia sempre vai existir, mas ressignificar é muito importante. Ter um lugar para chegar, lembrar com carinho e acender uma vela traz alento e conforto para as famílias. Não vamos extinguir as memórias daquele dia, mas vamos tentar amenizar esse sofrimento.

Ainda conforme Camargo, a tragédia da Kiss é uma ferida aberta que se manifesta de diversas formas. Nas homenagens às vítimas, nos dias 27 de janeiro, no julgamento, na falta de condenação aos culpados e na espera por justiça. Assim, o Memorial chega para conseguir, de alguma forma, levar conforto para as famílias em meio ao sofrimento vivido a cada novo capítulo dessa história.

– Episódios como esse fazem com que a ferida seja aberta mais um pouco. As famílias voltam naquela noite do 27 de janeiro de 2013 porque existe sempre esse ciclo de lembranças. Então, tudo que vier para acalentar, amenizar e dar um significado precisa ser feito. E o Memorial vai ajudar, cada um da sua maneira, a tentar amenizar a sua dor – afirma o psicólogo. 

Segundo ele, na psicologia, ressignificar é dar um novo sentido para as experiências já vividas, entre elas, as mais traumáticas. Retirar o prédio da Kiss, que é um símbolo forte da tragédia, e substituí-lo por um espaço novo, com flores e estruturas para prestar homenagens e fazer eventos de prevenção e conscientização, ajuda nesse processo de ressignificação. Ou seja, um novo símbolo que ajuda a dar um novo significado.

É como se a gente pudesse superar aquela dor, aquele momento, cada um no seu tempo. O prédio da Kiss é um símbolo muito forte de tudo o que ocorreu, então dá um novo significado ter esse Memorial mais bonito, com tudo novo. É um lugar em que vai sair aquela ruína, que tem uma tristeza muito grande, e dar um sentido de um novo espaço em que se pode contemplar a saudade, a paz. De alguma maneira, a pessoa pode se confortar naquele lugar novo. Ele vai servir para muitas coisas. Assim como no atentado do 11 de Setembro, onde foi feito o memorial, as pessoas vão lá e virou um ponto turístico, o prédio da Kiss, as pessoas, querendo ou não, também virou um ponto turístico. As pessoas queriam ir lá na Kiss para prestar alguma homenagem e tentar entender essa tragédia. Esse Memorial vai servir para as pessoas, além de entender a história e ela não ficar no passado, também servir como meio de educação e prevenção para as gerações futuras. E até mesmo servirá para a visitação de outros órgãos de prevenção – conta Camargo.


Memória para a comunidade e futuras gerações

A construção do Memorial também ajudará a contar a história para as gerações futuras. Conforme o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Gabriel Rovadoschi, o desejo é que seja um espaço de memória, educação e cultura. Com a discussão de pautas como prevenção de incêndio, segurança dos estabelecimentos e justiça, a ideia é inserir a comunidade no Memorial.

Para Camargo, esse movimento é importante para narrar os fatos e abrir espaço para futuras homenagens:

Mesmo quem não viveu a tragédia, convive com ela. Por isso, é importante mostrar o local da tragédia para que a informação possa ser repassada. Assim como temos museus, teatro e cinemas, o memorial vai servir para proliferar o conhecimento sobre leis, fiscalização e regras do espaço. Então, tudo isso vai ajudar a contar a história para futuras gerações e ressignificá-la para quem viveu a tragédia.


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