Conheça Priscila de Arruda Trindade, uma das homenageadas do 1º Prêmio Ana Primavesi

Conheça Priscila de Arruda Trindade, uma das homenageadas do 1º Prêmio Ana Primavesi

Foto: Thaís y Castro

Priscila na sala de um laboratório no Centro de Ciências da Saúde, que possui uma cabine de segurança biológica adequada para trabalhar com amostras clínicas positivas para SARS-CoV-2. No registro, ela aparece fazendo um dos primeiros sequenciamentos. Essa parte que não envolve risco biológico, então, era realizada na sala que ela ocupava como professora, em 2021 .

Com conhecimento e dedicação, é possível fazer a diferença até mesmo nos momentos mais difíceis. Para valorizar contribuições principalmente femininas nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, o Grupo Diário promove o Prêmio Ana Primavesi. Na primeira edição, 10 mulheres serão homenageadas em uma cerimônia na próxima quarta-feira (31), no Theatro Treze de Maio. Na última reportagem da série, conheça a trajetória da farmacêutica-bioquímica e professora da UFSM, Priscila de Arruda Trindade.


Família

Filha da professora aposentada Catarina Antonina de Arruda Trindade, e do economista aposentado, Anísio Dário Marramon Trindade, Priscila de Arruda Trindade nasceu no dia 10 de outubro de 1975 em Santa Maria. Tem um irmão mais novo, Anísio Ari. Da infância e adolescência, a professora guarda boas lembranças junto aos pais e avós:

– Quando criança, uma coisa que eu amava era andar de patins. Na transição para adolescência, nos finais de semana, eu andava no parque Itaimbé, porque os meus avós paternos moravam ali perto. Lembro também que eu ia na chácara do meu avô materno. Ele tinha um engenho, onde hoje é Velho Amâncio. Ele moía cana e tomávamos caldo de cana.

Aos 48 anos, ela acompanha a infância e adolescência dos filhos: Matheus, 14 anos, e Thomas, de 11. Assim como muitas profissionais, Priscila precisou conciliar maternidade e trabalho, lidando com algumas angústias.

– Eu crio dois filhos sozinha. Agora, está mais fácil, porque eles têm entre 14 e 11 anos. Mas antes, era muito difícil. Gosto de estar com eles e os meus gatos. Estou em uma fase divertida, porque meu filho mais velho vai fazer 15 anos e os amigos vem aqui em casa. Eu deixo eles fazerem junções e me divirto com a gurizada – afirma a pesquisadora.

Priscila sabe que quando se fala em família, não há sacrifícios. Para que se torna-se a profissional que é hoje, ela contou uma forte rede de apoio:

– Eu tenho um pai e uma mãe maravilhosos e se eu estou onde estou hoje é por conta de todo o apoio que sempre recebi deles.


Família em evento alusivo aniversário da mãe de Priscila, Catarina. Na foto, os filhos Matheus e Thomas (na frente) junto ao pai de Priscila, Anísio Dário. No fundo, o irmão Anísio, a mãe Catarina, sobrinho Pedro e Priscila.Foto: Ariele Righi


Formação

O acesso à educação sempre foi ponto importante para os pais de Priscila, que não mediram esforços para que ela estudasse em boas instituições:

– Sempre fui uma criança muito estudiosa. Meus pais sempre me estimularam a estudar. Quando era pequena, mudamo-nos para Camobi. Na época, meus pais tinham restrições financeiras e eu fui estudar em uma escola chamada Nossa Senhora do Calvário, onde hoje é a escola Riachuelo. Lá, era só quero até a quarta série. Minha mãe conta que me alfabetizei antes de todo mundo na minha turma. Já para fazer a quinta série, eu fui para o Marista. Eu era muito boa aluna, mas sofri bullying, porque era uma criança que não tinha as mesmas condições financeiras que as outras. Quando estava na oitava série, pedi à minha mãe para ir para o Maneco.

Entre a mudança de colégio e atividades como manequim, Priscila fazia planos para o futuro. Inspirada pela tia paterna, queria fazer medicina. Devido a adversidades no último ano do Ensino Médio, a pesquisadora resolveu buscar outras opções ao prestar vestibular para a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM):

– Na época, olhando os currículos e algumas disciplinas, achei o curso de Farmácia na área de análises clínicas, era o que tinha de mais próximo do que eu imaginava da Medicina. Fiz as provas. Lembro que estava em Porto Alegre e fiquei sabendo que eu tinha ido bem, que tinha tirado 10 na redação, mas que não tinha passado. Comecei a fazer cursinho para medicina e nisso, ocorreu a segunda chamada. Acho que tinha ficado em segundo ou terceiro lugar de suplente da lista. Então, passei e resolvi fazer farmácia. Eu gosto de contar essa história, porque deu certo.

Priscila ingressou na graduação em Farmácia e Bioquímica, com foco em Análises Clínicas em 1993. Por estímulo dos pais e da tia paterna, após se formar na UFSM em 1997, a pesquisadora resolveu dar continuidade aos estudos fora do Rio Grande do Sul. Em julho do mesmo ano, fez um estágio na Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro.

A oportunidade possibilitou que participasse de um congresso em São Paulo, onde em pouco tempo, tornaria-se um novo lar. Em 1998, Priscila iniciou uma especialização em laboratório clínico hospitalar na Universidade de São Paulo (USP). A experiência reforçou o desejo da pesquisadora por seguir na ciência:

– Foi um ano bem produtivo e aprendi muito. Para conseguir me manter em São Paulo, fiz registro no CRF (Conselho Regional de Farmácia) e comecei a trabalhar uma farmácia à noite. Fui me virando. Quando entrei no mestrado em 1999, consegui uma bolsa. Logo depois, veio a oportunidade de começar a dar aulas.

Na USP, Priscila finalizou o mestrado em Farmácia, com ênfase em Fisiopatologia e Toxicologia em 2001.

– No final do mestrado, eu já tava contratada dando aula em uma faculdade particular e eu não estava muito inclinada a fazer o doutorado. Mas na minha banca de defesa, estava a professora Anna Sara Levin, que viria a ser minha orientadora de doutorado. Tinha também a médica e que hoje também professora da USP, Silvia Costa. Elas tinham, na época, comprado um equipamento para laboratório e era o mesmo que eu já usava na USP. Então, a professora Anna foi passar uns dias no laboratório para ver o funcionamento do equipamento e ficou sabendo que eu não tava muito afim de fazer doutorado. Em resumo, elas me convidaram para o laboratório delas e eu me tornei a primeira aluna não médica do programa de doenças infecciosas e parasitárias.

Priscila realizou o doutorado em Doenças Infecciosas e Parasitárias entre 2003 e 2005 na USP. Após trabalhar em empresas e instituições na área, a pesquisadora passou em 2009 em um concurso para a Universidade Federal do Pampa (Unipampa) em Uruguaiana. Alguns anos depois, na busca por uma rede de apoio na criação dos filhos pequenos e com uma mudança no quadro de saúde do pai, Priscila tomou uma decisão: voltar para Santa Maria. No início de 2014, a partir de um processo de redistribuição entre instituições, a pesquisadora ingressou como professora associada na UFSM.



Na foto superior, Priscila está junto dos colegas Bruna Piccoli, Luiza Tessele, Elisa Piton, Andressa Vieira, Bruna Casarin, Anelise Daneli e Thaís y Castro, no Seminário LABIOMIC, em 2022.
Na foto inferior, também em um registro dos seminários do LABIOMIC, com os colegas, Bruna Piccoli, Vitor Teles, Thaís y Castro, Bruna Casarin, Roberta Marchesan, Julia Kuhns e Andressa Vieira. Fotos: Arquivo Pessoal


Pesquisa
Entre as funções que Priscila exerce atualmente na instituição, está a coordenação do Laboratório de Bioinformática Aplicada à Microbiologia Clínica (Labiomic) do Centro de Ciências da Saúde (CCS). Na região, o espaço, que conta com pesquisadores de diversas áreas, teve um papel fundamental na vigilância genômica do Sars-CoV-2, vírus que causa a Covid-19.

– Foi um momento muito complicado, por conta da pandemia. Mas tivemos a oportunidade de conseguir implantar algumas tecnologias que já eram usadas em muitos lugares e mostrar que podemos fazer bons trabalhos, além de ter uma boa produção na área – destaca a pesquisadora.


Na foto da esquerda, Priscila, junto da Dra. Thaís y Castro, no dia em que executaram a primeira extração de RNA de SARS-CoV-2 para realização de sequenciamento genético, em 2021. Na foto da direita, Priscila na apresentação de trabalho no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, em Copenhagen, em 2023. Fotos: Helena Kober e Thaís y Castro.


Prêmio

Na trajetória de Priscila, o Prêmio Ana Primavesi é mais uma conquista significativa.

– Fiquei muito feliz e lisonjeada. Ao mesmo tempo, muito surpresa – conta Priscila sobre a indicação.

Ao pensar sobre as oportunidades que abraçou ao longo da carreira e o espaço que ocupa hoje, ela manda uma mensagem para as meninas e jovens que também desejam seguir no caminho da ciência:

– Se você quer muito algo, não desista. Você vai passar por muita coisa, mas não desista.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

imagem Redação do Diário

POR

Redação do Diário

[email protected]

Prédio da boate Kiss é totalmente derrubado para obra do Memorial Anterior

Prédio da boate Kiss é totalmente derrubado para obra do Memorial

Prazo para Declaração Anual de Rebanho termina na quarta-feira Próximo

Prazo para Declaração Anual de Rebanho termina na quarta-feira

Geral