Começa a obra do Memorial da Kiss em prédio onde funcionava a boate

Colaborou Bibiana Pinheiro

Começa a obra do Memorial da Kiss em prédio onde funcionava a boate

Foto: Beto Albert (Diário)

Um novo passo pela construção de memória às 242 vítimas da tragédia de Santa Maria foi dado nesta quarta-feira (10), com o início da obra do Memorial da Kiss, na Rua dos Andradas. Após 11 anos, o exato local onde aconteceu o incêndio, no dia 27 de janeiro de 2013, não será como antes. Em seu lugar, um espaço cultural e educativo. A cerimônia começou às 9h, e contou com homenagens e relato de pessoas envolvidas no processo de conquista do memorial e busca por justiça ao longo dos últimos anos. 

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“Desfazer a ruína e construir a memória”

Como ato simbólico do início da obra, o letreiro que identificava o prédio como 'Boate Kiss' foi retirado, e a porta aberta. Sobreviventes, familiares e integrantes da comunidade participarem do ato marcado por emoção. O momento contou ainda com a soltura de balões em homenagens às 242 vítimas e um abraço coletivo. A Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM)​ interpreta essa etapa como um 'desfazer do prédio', pois nenhuma parte dele ficará. Do espaço serão retirados apenas os objetos, pré-selecionados, que farão parte do acervo do Memorial da Kiss. A obra deve demorar 8 meses. 

– Essa retirada simbólica representa muito para nós. O Memorial será a plataforma para contarmos as histórias ao longo desses 11 anos. Queremos inserir escolas aqui dentro e contar para as próximas gerações o que aconteceu. Além disso, nossa história tem um traçado de impunidade e, ao contar isso, exercemos força em todas as vias – destaca o Gabriel Rovadoschi, presidente da associação.

Foto: Beto Albert

Após a abertura da porta principal da boate, o público presente e a imprensa puderam adentrar o prédio que até hoje carregava apenas os destroços e marcas da madrugada de 27 de janeiro de 2013. Mara Amaral Dalforno, mãe de Melissa Amaral Dalforno, uma das vítimas da tragédia, entrou pela primeira vez na boate após o incêndio e destacou que o Memorial representará um novo ciclo para um espaço que, até agora, trouxe apenas lembranças ruins. 

– A sensação é horrível. É possível ver que o prédio não tem qualquer ventilação. Com a construção do Memorial, acho que teremos um pouco mais de tranquilidade ao olhar para esse lugar. Nossa luta é para que nem um pai, uma mãe ou família passe por isso novamente – afirma. 

Foto: Caroline Souza

"Se uma história não é contada é como se ela não tivesse existido"

Durante o ato, representantes falaram brevemente sobre o momento. Quem não pode estar presente, enviou vídeos com relatos, como o Padre Fábio de Melo e o cantor e apresentador Beto Fagundes. O presidente da associação leu a carta entregue aos moradores do entorno do prédio da Boate Kiss como forma de representar as últimas palavras da edificação. Veja um trecho abaixo: 


Olá meu amigo de Santa Maria. Estou enviando esta carta para te agradecer pela companhia dos últimos anos. Sei que passamos por momento muito difíceis e que minha presença, às vezes, trazia lembranças
extremamente desagradáveis. Aos poucos a minha fachada se transformou em mural e minha permanência se transformou em simbolo da luta de um futuro justo e seguro para todos nós. Agora, chegamos em um momento decisivo de nossa história. De desfazer a ruína e construir a memória. 

Foto: Beto Albert


O Memorial

A obra terá início em julho e deve durar oito meses. O Memorial será construído na Rua dos Andradas, onde ficam as ruínas da boate Kiss. O projeto de 383,65 metros quadrados será feito em um único pavimento, para facilitar a acessibilidade e a manutenção. O custo será de R$ 4,8 milhões oriundos do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados (FRBL), presidido pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), que destinará ao Memorial os valores provenientes de multas e acordos judiciais por danos causados à coletividade. Além disso, a prefeitura dará uma contrapartida de R$ 800 mil. Para o procurador-geral de Justiça, Alexandre Saltz, esse é um capítulo importante da história da tragédia. 

– É uma etapa importante para a superação desse luto, para aplacar um pouco do sofrimento dos familiares ao longo desses últimos anos. Um prédio que tem tantas histórias ruins, será demolido para erguer um memorial às 242 vítimas dessa tragédia a qual queremos que nunca mais se repita – explica Saltz. 

O prefeito de Santa Maria Jorge Pozzobom defendeu que a construção do Memorial servirá como um lugar de reflexão sobre o que aconteceu para que novas tragédias como essa não se repitam.

– Hoje é um dia simbólico. Queremos com esse memorial dar uma recado para o mundo. Depois que ocorreu a tragédia da Kiss, houve outras bem similares em outros países. Esse memorial é um recado, para que não se repita. Vamos desfazer sim a ruína, e construir a memória – destaca o prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom (PSDB).

O julgamento 

O recurso do Ministério Público Federal contra a decisão que anulou a condenação de quatro réus pela tragédia da Boate Kiss chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) em abril deste ano. O caso chegou ao Supremo após a decisão do ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça. Em março, o ministro concluiu que o pedido poderia ser admitido e encaminhado à Corte. O recurso propõe a discussão de temas constitucionais, como a plenitude de defesa e a soberania das decisões do júri, além do devido processo legal. Conforme o procurador-geral, a expectativa é que o recurso seja julgado neste segundo semestre.

– Nossa expectativa é que o Supremo Tribunal Federal julgue o nosso recurso extraordinário, garanta que a decisão do tribunal do júri de Porto Alegre foi a mais acertada e determine a prisão dos quatro acusados – afirma.

Estrutura

  • Fachada – A proposta traz um muro de concreto e tijolos que bloqueia quase que inteiramente a visão do espaço interior, se vista da rua. De acordo com o autor do projeto, a austeridade da fachada representa o luto da cidade e exige respeito do visitante ao que aconteceu. Haverá saídas de emergência na fachada
  • O interior – Em contraste, ao atravessar o muro, encontra-se um espaço de luz e fluidez. O atravessar busca trazer uma ressignificação do luto e do pesar
  • No centro – No coração do projeto, haverá um jardim circular de flores. À sua volta, 242 pilares de madeira, cada um representando uma vítima da tragédia, suportam uma cobertura radial que abriga as diversas salas do conjunto
  • Ao fundo – Será instalado um auditório, composto por um palco central e plateia em lados opostos. Uma sala multiuso de caráter cultural abrigará o acervo em formato de exposição permanente multimídia. Do outro lado, optou-se por criar uma sala única que abrigará a sede da AVTSM, assim como demais áreas de reunião e atividades coletivas

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