"As ondas de esquecimento são constantes e mais fortes por causa da impunidade", afirma presidente da AVTSM

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Na foto, Vanessa Ribeiro, do Coletivo de Psicanálise, Gabriel Rovadoschi Barros, presidente da AVTSM, e André Polga, do Coletivo Kiss: Que Não Se Repita

Nesta quinta-feira (26), ocorreu uma coletiva de imprensa vinculada à programação dos 10 anos da tragédia na boate Kiss, que deixou 242 mortos e mais de 600 feridos. Na oportunidade, representantes da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), do Coletivo Kiss: Que Não Se Repita e do Eixo Kiss do Coletivo de Psicanálise de Santa Maria responderam às perguntas dos jornalistas presentes.

O encontro foi realizado na sede da Sedufsm, no centro de Santa Maria, durou cerca de 1h30min e contou com a participação de veículos de comunicação de Santa Maria e do Estado. Dentre os questionamentos, estavam perguntas relacionadas ao julgamento do caso Kiss, a vida em Santa Maria após a tragédia, a falta de apoio do poder público no tratamento médico dos sobreviventes, a Lei Kiss, o memorial, o engajamento da comunidade santa-mariense com a tragédia ao longo desses 10 anos e o lançamento das produções audiovisuais sobre a Kiss.

Na abertura do evento, Bruna Pizarro, do Eixo Kiss do Coletivo de Psicanálise, falou sobre a importância da campanha lançada neste mês para marcar os 10 anos do incêndio na boate:

– Acreditamos que é preciso lembrar do que aconteceu em 27 de janeiro de 2013 para que tragédias evitáveis, como a da boate Kiss, não voltem a acontecer. Por esse motivo, o sentido dessa campanha se define na frase: resgatar a memória é construir o futuro.

O presidente da AVTSM, Gabriel Rovadoschi Barros, também salientou que a movimentação em torno da campanha terá continuidade nos próximos meses e anos:

– A nossa intenção é resgatar a memória desses escombros, das tentativas de apagamento, de esquecimento e da pressão de impunidade. É importante demarcar que nossa programação é mais do que um evento pontual, mas é uma campanha que vai ser levada ao longo do ano para a gente constantemente resgatar a memória e, com isso, reconciliar Santa Maria com a sua própria história.

Na mesma perspectiva, a psicóloga do Coletivo de Psicanálise, Vanessa Ribeiro, reiterou que a tragédia na boate Kiss é um trauma coletivo, uma marca e uma ferida que Santa Maria não tem como esconder. Vanessa ainda relatou que, para além da impunidade jurídica, também há um desinteresse da própria sociedade em apoiar familiares e sobreviventes da tragédia:

– Poderíamos estar há muito tempo trabalhando na elaboração do luto. É muito difícil passar pelo luto com a ferida aberta e sem reparação nenhuma, com a impunidade gritando e latejando no peito. Esse é o compromisso que a gente vem trabalhando para que as pessoas entendam que todos somos parte disso.

De acordo com Gabriel, presidente da AVTSM, houve um declínio significativo do apoio da comunidade na luta pela justiça nos últimos anos:

– A complexidade (do assunto) é tamanha que tentam lançar cortinas de fumaça para confundir o público. Isso fere os familiares, sobreviventes e promove terror e uma confusão generalizada que dificulta para gente construir uma narrativa para que todos entendam seu lugar. A associação teve que ter uma posição muito incisiva e forte na luta por justiça para conquistar espaços. Acredito que o julgamento sequer teria acontecido se não fosse essa pressão constante e incansável. As ondas de esquecimento e de apagamento são constantes, e a gente acredita que são mais fortes por causa da impunidade.

O integrante do Coletivo Kiss: Que Não Se Repita, André Polga, afirma que as opiniões sobre a tragédia são polarizadas, principalmente, nas redes sociais:

– A gente sente bastante hostilidade aqui em Santa Maria e no Rio Grande Sul. A gente vem acompanhando os comentários, a repercussão dos projetos e das mobilizações que os coletivos vêm realizando. O que nos entristece bastante é a gente ter que receber um produto audiovisual em grandes emissoras e plataformas para ter uma virada de chave da população sobre o que aconteceu.

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Laura Gomes

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TAGS: kiss, AVTSM,
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