entrevista

Alunos da UFSM poderão fazer estágios e pesquisas em fábrica de defesa

Deni Zolin

Foto: Divulgação (arquivo Diário abril de 2018)
Comitiva de Santa Maria visitou a sede da Avibras em abril de 2018

Começará a funcionar neste ano a parceria que a UFSM assinou, no final de 2018, com a fabricante de defesa Avibras Indústria Aeroespacial, de São José dos Campos (SP), que tem atualmente 1.850 funcionários. A empresa fabrica o lançador de foguetes Astros 2020, usado pelo Exército Brasileiro e por outros países, é uma das oito no mundo a dominar a tecnologia de motor de mísseis de cruzeiro com alcance de 300 quilômetros, e produz o veículo blindado Guará e o drone Falcão.

Como está em constante processo de pesquisas para aprimorar ou criar novos produtos, a fabricante nacional vai oferecer vagas de estágio para alunos da UFSM, além de financiar bolsas de mestrado e doutorado para estudantes que quiserem fazer pesquisas para ajudar no desenvolvimento de novas tecnologias - e o mais importante, totalmente nacionais, para dar mais autonomia ao país.

O Diário conversou com o diretor de Assuntos Corporativos da Avibras, Carlos Alberto Cidade (foto ao lado), que estudou na UFSM e iniciou a carreira em Santa Maria, e com o supervisor de tecnologia e informação da Avibras, Hélio de Miranda Cordeiro, que explicaram quais os planos da indústria com essa parceria com a universidade. Segundo eles, esses estágios e bolsas de pós-graduação não serão destinados somente para cursos de Engenharia (incluindo a nova graduação de Engenharia Aeroespacial), mas podem ocorrer parcerias em áreas como informática, química, relações internacionais, acústica e até ciências políticas.

Apesar de a empresa ser focada na área de defesa, acredita que é importante desenvolver tecnologia nacional, pois ela acaba sendo usada não só na área militar, gerando novos produtos e empregos no país. Um exemplo: os mísseis têm sensores infravermelhos, que também podem ser utilizados em equipamentos de Medicina.

A UFSM já desenvolve, em parceria com o Exército, um simulador do lançador de foguetes do Astros 2020, cujo objetivo é permitir o treinamento de militares com menores custos, já que os tiros são feitos no simulador.

Diário - Qual o objetivo e como será esse convênio da Avibras com UFSM? 
Carlos Alberto Cidade
- O convênio é guarda-chuva, declara intenção de firmar vários acordos de cooperação, desde estágios até o desenvolvimento de novos produtos. O fato de a universidade já desenvolver para o Exército um sistema que já interessa à Avibras (simulador do lançador de foguetes Astros 2020), também faz com que a gente tenha um olhar diferenciado para a área de tecnologia da UFSM. Mas a gente também enxerga competências na universidade na área de humanas, na área de relações internacionais, que têm excelentes profissionais e que têm trabalhado na área de defesa também. Na área de tecnologia e inovação, a UFSM tem a vocação para desenvolvimento.

Hélio Cordeiro - A gente está aberto à presença de alunos da universidade fazendo estágios para conhecer melhor o que é uma indústria de defesa e a tecnologia que está por trás, temos interesse em fomentar tecnologia em desenvolvimento, em parceria com a universidade, complementar bolsas de mestrado e doutorado. A gente já vem fazendo isso com outras universidades e institutos e pretendemos fazer com Santa Maria, pois é ela é um dos parceiros do Exército para o Astros 2020, que é um produto da Avibras. O interesse da Avibras é em cinco áreas: defesa, espaço, energia, óleo e gás e C4I (comando e controle). Há potencial para estudos em várias áreas, como propulsão, materiais energéticos, acústica, telecomunicações, engenharia aeroespacial, sistemas de informação e relações internacionais.

Diário - Por que a Avibras tem interesse inclusive em estágios e pesquisas com a UFSM nas áreas de ciências políticas e relações internacionais?
Cidade
- Nós vendemos para o Exército Brasileiro e também para outros países alinhados ao Brasil, então precisamos estar atentos a esses outros países. Daí, o pessoal de relações internacionais e ciência política é que promovem os grandes estudos e alimentam a nossa sensibilidade e inteligência comercial.

Diário - Fomentar pesquisas e a indústria local de defesa é uma questão estratégica, por que países como os EUA impedem, por exemplo, que algumas tecnologias de defesa sejam vendidas a determinadas nações?
Cidade - Trata-se sempre de jogo de poder e de domínio, que é o domínio geopolítico. Então, quem tem condições de domínio de algumas tecnologias de defesa usa isso em favor de sua liderança E de certa maneira, gera impedimentos de transferência de tecnologia para terceiros países. O que um país como o nosso precisa fazer? Desenvolver a sua tecnologia naquele produto. Por exemplo: no caso do míssil de cruzeiro, nós tivemos que verticalizar e nacionalizar várias soluções e conseguimos chegar a uma turbina com tecnologia suficiente para o desenvolvimento do produto. São só oito países no mundo que hoje detêm essa tecnologia, e nenhum vende a turbina (do míssil de cruzeiro) a outros países. Só usa para seu próprio consumo. Ele até pode vender para uso, mas não a tecnologia.

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Diário - A UFSM já desenvolve um simulador do Astros 2020, fabricado pela Avibras. Esse lançador de foguetes é ainda o carro-chefe da Avibras?

Cidade - Sim, o principal produto é o sistema de saturação de área, que é o Astros, desenvolvido pela Avibras desde a década de 1980. Ele é ainda o carro-chefe, o sistema Astros e as munições que o abastecem, que nós também exportamos para vários países. Isso faz com que a empresa tenha fôlego para desenvolver outros produtos. Além disso, a gente vê demandas do Exército e da Marinha. Recentemente, a gente desenvolveu uma plataforma geoestabilizada para lançamento de munições shaft de navios, que é um sistema que suporta o balanço e o tombo do navio mantendo a mira. Apresentamos para a Marinha recentemente. É um sistema que pode servir para outras coisas, como radares. Mas o que a gente olha hoje como grande mercado para o Brasil, e a UFSM tem competências, é o mercado aeroespacial. O Brasil tem uma posição geográfica extremamente privilegiada com a Base de Lançamento de Alcântara e o mundo hoje é comprador de soluções satelitais, de micro e nanossatélites, e nós fazemos veículos lançadores. Como dominamos lançadores de foguetes, fazemos o motor-foguete do veículo lançador de satélites para o governo brasileiro. Mas a gente identifica pelo país alguns centros de excelência, e um deles é a UFSM, que já tem um nanossatélite, e agora terá um segundo. E tem também a pesquisa do Inpe. Aqui há competências importantes e interessa à Avibras se aproximar da universidade. 

Diário - São José dos Campos (SP) é um grande polo da área aeronáutica. Santa Maria, por ter grande contingente militar, quartéis de referência no país, a alemã KMW e UFSM, qual a chance de virar um polo de defesa?
Cidade -
Eu acho que ela já é, hoje, um polo de defesa. Santa Maria tem um lugar muito importante, com a universidade e as unidades militares, que ela deve ocupar. Esse é um esforço que deve envolver a comunidade, as forças públicas, como prefeitura e Câmara, os empresários locais e a universidade. Esse conjunto é que vai fazer a cidade se consolidar como um grande polo de defesa. E claro, produzir conhecimento, pois com isso ela tem um grande futuro.
O problema é sempre das encomendas governamentais, que são instáveis e têm algum estigma, por serem investimentos em defesa num país pacífico. Não se enxerga que investimento em desenvolvimento tecnológico em defesa tem um arrasto tecnológico, um transbordo significativo em todos os quadrantes. Pois se pensar que um microondas nasceu de um investimento tecnológico de defesa, que a internet também, você vê que faz sentido um país fazer investimento nesta direção, e que uma cidade ou região concentrar esforços nesse desenvolvimento, vai abrir novas empresas. Nessa área de defesa, tem uma área que é desenvolvimento de software e você não precisa estar em local específico para fazer isso, e você aqui em Santa Maria tem um grande ambiente para isso, além de outras áreas como Engenharia Química e Química.

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