Lei que estabelece Dia Municipal do Grafite deve dar maior visibilidade para artistas em Santa Maria

Fotos: Beto Albert (Diário)

Abril pode ser considerado um mês de conquistas para quem trabalha com grafite em Santa Maria. Essa forma de arte, que consiste na materialização de pinturas e desenhos em muros e paredes, contará com uma data no calendário da cidade. Na última quinta-feira (18), foi sancionada a Lei 6.887/2024, que estabelece o dia 27 de março como o Dia Municipal do Grafite. De autoria do vereador Rudys Rodrigues (MDB), a proposta deve trazer maior visibilidade para os artistas locais. 

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Entre os profissionais que participaram do ato de assinatura da lei, estava a grafiteira, arquiteta e urbanista Bruna Pacheco Rison, 32 anos. Em entrevista ao Diário, ela falou sobre a conquista: 

– Eu considero essa data super importante, porque coloca a nossa profissão no calendário da cidade. Faz com que as pessoas de uma maneira geral reconheçam a importância do nosso trabalho para a valorização dos espaços públicos em geral, além de abrir portas para diálogos entre nós e a Prefeitura, assim como com a comunidade.

Avanços

Trabalhando com grafite há 7 anos, a santa-mariense reflete sobre as dificuldades enfrentadas pelos artistas ao exercer a profissão e os avanços do público feminino na área. Em março deste ano, Bruna participou do projeto Identidade de Rua, que resultou no primeiro trem grafitado exclusivamente por mulheres no Brasil. 

Liderada pelo Instituto Trocando Ideia, a iniciativa foi realizada com o apoio da Trensurb, da Caixa Econômica Federal e do Ministério da Cultura. Além de Bruna, a ação contou com o trabalho de Jay Moraes, Sabrina Brum e Jamaikah Santarém, sendo que cada uma ficou responsável por um vagão de trem. 

Em entrevista ao Diário, Bruna conta que levou de dois a três dias para buscar referências e idealizar o projeto. O vagão de trem, que levou quatro dias para ser personalizado, circula desde 22 de março pela região metropolitana de Porto Alegre.   

– Esse projeto foi super especial, porque eu fui convidada, junto com outras três artistas, pelo Instituto Trocando Ideia e tive a oportunidade de pintar um vagão de trem. Em um dos lados do vagão, eu pintei uma mulher que está em busca de liberdade na luta do dia-a-dia, como tantas outras. Já no outro lado, eu trouxe um olhar, como se fosse um frame, de uma mulher que está dentro do vagão e que anseia por empatia e respeito. Procurei trazer essa mensagem, porque ela será levada da periferia ao centro por toda a metrópole de Porto Alegre. É uma mensagem de empoderamento e força para todas as mulheres que pegam trem, um meio de transporte em que muitas ainda sofrem assédio – afirma a grafiteira. 

Em março deste ano, Bruna participou do projeto Identidade de Rua, que resultou no primeiro trem grafitado exclusivamente por mulheres no Brasil Foto: Juliano Lannes/Trensurb

Início

O amor pelo desenho vem da infância. Com poucos meses, Bruna, que nasceu em Santa Maria, se mudou para Alegrete. Foi lá que o talento passou a ser aperfeiçoado.  

Eu comecei a desenhar desde muito nova. Com 9 anos, eu recebi o apoio dos meus pais, que me levaram para a Escola de Artes Suzana Dornelles, no Alegrete. Esse apoio sempre foi muito importante para mim. Desde então, segui fazendo desenho de observação até chegar na Arquitetura, e dela parti para o grafite – conta a artista, que utiliza a arte do realismo para dar vida a figuras femininas. 

O trabalho de Bruna é reconhecido não apenas em Santa Maria, mas em diversos estados brasileiros. Em abril de 2023, ela foi convidada para o Encontro Internacional de Graffiti Meeting of Styles Brasil, em Florianópolis. Com diversos projetos em andamento, a artista busca compartilhar um pouco da rotina no perfil @br.arqarte no Instagram, deixando uma mensagem para outras mulheres:

Nunca desistam dos seus sonhos. Pode ser um pouco clichê, mas é verdade. Temos muitos empecilhos. Sofremos assédio, sempre tem alguém dizendo não e colocando o dedo na nossa cara, dizendo o que devemos fazer. A minha mensagem é para que se enfrente isso, seja com a pintura, a música ou outros tipos de arte. É preciso seguir em frente e lutar. 

27 de março

Em Santa Maria, a Lei 6.887/2024 estabeleceu o dia 27 de março como o Dia Municipal do Grafite. A data é uma homenagem ao artista plástico Alex Vallauri, considerado um dos precursores da arte urbana no Brasil e que morreu em 27 de março de 1987.

Vallauri nasceu em 9 de outubro de 1949 em Asmara, na Etiópia e veio com a família para o Brasil em 1965. Ao chegar ao país, estabeleceu-se em Santos (SP), onde passou a trabalhar com xilogravura e outras técnicas. Ao longo da vida, o artista foi diversas vezes premiado, atuando como professor de desenho de observação em instituições paulistas. 

Em 1978, Vallauri retornou ao Brasil após uma especialização na Suécia. Em solo brasileiro, passou a se dedicar ao grafite, inclusive levando a arte para eventos importantes como a Bienal Internacional de São Paulo. 

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