Júlia Frantz Silveira, 9 anos, divide o quarto apenas com bichos de pelúcia e bonecas. De vez em quando, a gatinha Lilica também invade o espaço e faz companhia. Nos porta-retratos espalhados pela casa, posam ela, a mãe e o pai. Há uma semana, a menina ingressou no 4º ano do Ensino Fundamental do Colégio Nossa Senhora de Fátima. Só na turma 143, na qual Júlia e mais 23 coleguinhas estão, pelo menos 10 são filhos únicos.
Esta estrutura familar, que não muito antigamente era uma exceção, tornou-se corriqueira. As famílias estão cada vez menores no Brasil. Segundo o Censo de 2010 do IBGE, no Sul, a taxa de fecundidade das mulheres é de apenas 0,96. O levantamento também mostrou que, quanto mais altas a renda familiar e a graduação das mulheres, menos filhos elas têm.
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De acordo com o psicólogo César Augusto Nunes Bridi Filho, os pais têm acreditado que é melhor investir mais em um único filho do que ter vários com menos condições. Além de tempo e disponibilidade para a criança, são levados em conta os custos com aulas complementares, cursos e atividades dirigidas.
O aumento da carga de trabalho e a diminuição do núcleo familiar também acabaram dificultando as múltiplas tarefas que a educação exige. Atualmente, é comum famílias terem só pai ou mãe. Em outras gerações de famílias, avós, tias e tios, por exemplo, viviam mais próximos e ajudavam na criação.
As preocupações em ter um filho único, porém, não se restringem a questões financeiras e organizacionais. O comportamento e a formação da criança também estão em jogo. Ao contrário que muitos pensam, a ideia de que filhos únicos tendem a ser egoístas está ultrapassada:
A máxima que filho único é mimado, vigente até os anos 90, tem se modificado como mostram pesquisas recentes. Acredita-se atualmente que, dependendo da educação dos pais, o filho único pode desenvolver habilidades maiores de convívio social, mostrar-se mais solidário ou até mesmo ter maiores mecanismos de amadurecimento. O que difere é a forma como os pais educam. Mesmo em família com vários irmãos, há a possibilidade de um ser mais mimado ou privilegiado, diz o psicólogo.
Filha paparicada, mas que sabe respeitar limites
Os empresários Carina Frantz Silveira, 36 anos, e Anderson Luiz Silveira, 34, são os pais de Júlia. Conforme a mãe, a menina de temperamento calmo e de rotina organizada ganha carinho e agrados como qualquer criança. Mesmo pequena, já alimenta sonhos e almeja ter duas profissões: cantora e médica veterinária. Ela faz aulas de violão, tem um ótimo desempenho escolar, facilidade para fazer amigos, o que, na ausência de irmãos, foi suficiente para que ela aprendesse a dividir seus brinquedos e tarefas.
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A Júlia é muito solidária e compreensiva. Quando explicamos uma coisa, sabe respeitar. Facebook, por exemplo, ela não tem. Há um horário determinado para joguinhos no computador. Ela também é muito responsável, preocupa-se em colocar tudo de volta de onde tirou, cuida do lanche da escola, essas coisas relata Carina.
Ainda de acordo com o psicólogo César "