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Engenheiros da UFSM começam carreiras com trabalho voluntário na África

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Fotos: Arquivo Pessoal
Gabriel (a partir da esq.), Rômulo e Gerson se formaram em Engenharia Civil em 2018 na UFSM

Desde abril deste ano, três engenheiros civis formados pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) estão doando, diariamente, o conhecimento adquirido na academia para a população de Moçambique, no sul da África. Rômulo de Lima de Oliveira, 24 anos, Gabriel Fonseca Carrião de Freitas, 26, e Gerson Severo da Trindade, 28, trabalham de forma voluntária em diversas ações ligadas à infraestrutura de comunidades pobres e à educação de pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Esta história de dedicação ao próximo começou com Gabriel, em 2017. Um amigo dele estava em Moçambique participando de uma missão da Primeira Igreja Batista de Santa Maria e precisava de apoio técnico para a construção de poços artesianos em vilarejos sem acesso à água potável na cidade de Dondo, no norte do país. Na época, Gabriel, que nasceu em Fortaleza, no Ceará, fazia parte da ONG Engenheiros Sem Fronteiras, além de estudar na UFSM. O cearense, então, convidou o colega de ONG e de curso Gerson para atravessar o oceano.

Para o trio, a maior recompensa é a alegria da população

Após terem contato com ambientes de miséria no país africano, os dois amigos retornaram para Santa Maria a fim de concluírem a graduação, mas mantiveram no coração a vontade de voltar à África e continuar ajudando os mais necessitados. Em 2018, eles regressaram e levaram um outro colega de aula, o sul-mato-grossense Rômulo.

Sempre envolvido com o voluntariado, Rômulo conta que os três estão morando na capital Maputo, em uma casa providenciada pelo moçambicano Manuel Lelio Gungulo, dono da empresa Susamati, para a qual prestam assessoria técnica de maneira gratuita.

Logo que recebeu o convite de Gabriel e Gerson, Rômulo decidiu levar esperança ao país africano

Entre as várias atividades desenvolvidas pelo trio, algumas ganham destaque e modificam sensivelmente o cotidiano dos moradores de Maputo. A Susamati havia patenteado uma privada de concreto que utiliza somente a quantia de um copo de água para a descarga. Gerson, Gabriel e Rômulo otimizaram o produto, padronizaram a produção e modificaram o concreto usado, o deixando mais leve e barato. Segundo Rômulo, o custo da produção de cada privada foi reduzido em 10 vezes:

- As privadas, aqui chamadas de "pias", fazem sucesso, inclusive por causa das cores. Conseguimos adicionar corantes ao concreto. A Susamati, que é uma empresa de empreendedorismo social, recebe financiamento externo para a execução deste projeto.

O empresário Manuel deu o suporte para que os rapazes conseguissem o visto de trabalho em Moçambique, conforme conta Rômulo. Aproximadamente 9 mil e 200 quilômetros longe de casa, eles se mantêm com dinheiro que guardaram enquanto estavam no Brasil, recursos enviados pela família e, agora, encontraram alternativas para complementar a renda.

No registro, as privadas que tiveram a produção padronizada pelos engenheiros. Na África, estes utensílios são chamados de "pias"

RECURSOS
Os materiais para a execução dos projetos de engenharia são adquiridos com recursos buscados pela própria comunidade ou vaquinhas na internet.  

- Para poder se manter de uma forma melhor aqui, começamos a fazer brigadeiros para vender e estamos trabalhando em um bar perto da nossa casa, onde fazemos caipirinha. Também criamos uma empresa na cidade. A ideia é que logo consigamos ter renda própria com a nossa profissão. No entanto, a empresa está parada, por enquanto - explica Rômulo.

Manuel conta que colocou um anúncio no site Workaway, que promove intercâmbio entre estrangeiros para trabalhos voluntários. O objetivo da iniciativa era conseguir auxílio para o desenvolvimento dos projetos sociais em Moçambique. Os brasileiros viram o pedido e resolveram ajudar:

 - Para a Susamati, está sendo muito importante o trabalho deles. São jovens muito eficientes e criativos.

Em Maputo, Rômulo dedica parte do tempo livre para dar aulas de inglês para as crianças da cidade

PARA O FUTURO
O Bairro de Mafalala, em Maputo, onde nasceu o jogador de futebol Eusébio, falecido moçambicano que atuou pela seleção de Portugal, já recebeu a visita dos jovens. Eles constataram que a comunidade deste local necessita de alterações na infraestrutura, pois as casas não possuem saneamento básico e os moradores sofrem com frequentes inundações. Os engenheiros, conforme conta Gabriel, estão elaborando um projeto para corrigir os problemas do bairro: 

- O que mais impacta ao entrar nestas comunidades é a falta de higiene, saneamento básico e energia. Aqui se usa lixo como alicerce das casa que têm, geralmente, 30 metros quadrados no máximo. 

RECONSTRUÇÃO
Através de um convite da ONG Pro African Kids, Gabriel, Gerson e Rômulo estiveram, também, em Beira, capital da província de Sofala, uma das mais prejudicadas pelo ciclone que atingiu Moçambique em abril de 2019. No mês passado, eles começaram a trabalhar em um projeto de reconstrução de duas escolas destruídas pelo fenômeno.  

Além disso, os amigos pretendem se mudar nos próximos meses para a praia de Ponta do Ouro, localizada no extremo sul do país. No novo local, eles realizarão o projeto Lwandi Surf, que irá utilizar a prática do surf como forma de socialização para crianças.

Para poder adquirir as pranchas e demais produtos necessários para executar o Lwandi Surf, os amigos estão com uma vaquinha virtual aberta no site Kickante. Para contribuir, basta entrar no site e procurar por "Lwandi Surf - África". Veja mais sobre o projeto no vídeo abaixo:


Segundo Rômulo, eles vão trabalhar com yoga, rodas de conversa e acompanhamento escolar.
- A educação é bastante falha em Moçambique. Vamos nos mudar para poder ficar perto desses meninos e meninas diariamente - explica.

EXCHANGE DO BEM
O trio de engenheiros coordena, atualmente, o núcleo de Moçambique da Exchange do Bem, espécie de agência que orienta e encaminha pessoas interessadas em realizar trabalhos voluntários dentro e fora do Brasil. Quem quiser saber mais informações sobre essa ação, pode entrar no site.  

- O que mais me impressiona é a alegria e o sorriso no rosto com que todos nos recebem, mesmo com todos os problemas. Os africanos têm um espírito coletivo muito forte, dançam e cantam bastante, e quem mais aprende, no fim das contas, somos nós - emociona-se Gabriel, que também afirma que ele e os amigos ainda não tem planos para retornar para o Brasil.

*Colaborou Rafael Favero

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