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Noites maldormidas têm reflexo na saúde

Thays Ceretta


Foto: Reinaldo Cóser Neto (arquivo pessoal)
O professor universitário José Américo de Mello Filho, 68 anos, passou por uma avaliação do sono devido às dificuldades que tem para dormir

Quem nunca teve uma noite de sono maldormida e, no outro dia, sentiu o peso disso? O sono funciona como um alimento, repõe as energias e revigora o corpo e a mente, regulando o organismo para uma nova jornada. Dormir bem é fundamental para executar melhor e com mais disposição as atividades diárias. Porém, conforme o Ministério da Saúde, 40% da população sofre com algum tipo de distúrbio do sono e, na maioria das vezes, a pessoa não nota.

Algumas pessoas precisam dormir seis horas, uma grande maioria, oito, e outras tantas precisam de mais horas, mas, de maneira geral, qualquer situação que prejudique a qualidade ou a quantidade de sono poderá ser prejudicial à saúde. Quanto mais tempo a pessoa vai acumulando de noites de sono "doente", maiores serão as consequências disso.

O sono de qualidade melhora o equilíbrio físico, mental e emocional do ser humano, fortalece o sistema imunológico, ajuda a prevenir doenças e tem grande importância para o bom funcionamento do cérebro. O sono é um dos pilares da saúde, tão importante quanto fazer exercício e ter alimentação saudável.

Conforme o otorrinolaringologista Reinaldo Cóser Neto, de Santa Maria, o distúrbio do sono é um conjunto de condições ou doenças que implicam direta ou indiretamente em prejuízos à qualidade ou à quantidade do sono. Além disso, de certa forma, todas as doenças têm fatores genéticos associados, e, no caso dos distúrbios do sono, não é diferente.

- Há uma gama enorme de distúrbios do sono. Dentre os mais prevalentes, podemos apontar os respiratórios, em especial, o ronco e a apneia. De longe, isso é o que mais afeta a qualidade de vida dos pacientes, com inúmeras consequências danosas à saúde dessas pessoas e também é o motivo de maior procura para avaliação e tratamento - ressalta Cóser.

O bom sono é necessário para fixação do aprendizado, desfragmentação da memória, descanso do coração e relaxamento dos vasos sanguíneos, para fisiologia ideal de nossos hormônios que regulam o metabolismo de várias substâncias, dentre elas, a glicose. Portanto, noites maldormidas estão intimamente ligadas, a longo prazo, a um menor desenvolvimento escolar e intelectual, a doenças cardíacas, à hipertensão arterial, diabetes, obesidade, déficit de atenção e hiperatividade, ansiedade, depressão e todos os tipos de doenças neurodegenerativas e demências.

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UM ALIADO: O DIAGNÓSTICO 

Para o médico Reinaldo Cóser Neto, sempre que houver a menor percepção de que a qualidade do sono não está boa, seja por acordar cansado, sentir-se sonolento durante o dia, ou quando o cônjuge notar que há algo de anormal no sono, por perceber ronco, eventos de apneia ou qualquer dificuldade respiratória, é preciso procurar ajuda. A maioria das pessoas não percebe esses sintomas, e eles, muitas vezes, só aparecem depois de anos acumulando noites maldormidas, e o impacto na saúde poderá ser grande. 

- O fato de não haver sintoma não significa não haver doença. As pessoas que possuem hipertensão arterial ou qualquer doença cardíaca, respiratória, circulatória, neurológica, que tenham diabetes ou estejam pré-diabéticas e todas as pessoas que roncam devem fazer avaliação do sono mesmo que não tenham sintoma algum - explica o médico.

O aposentado Dionei Francisco Saggin Guerra, 53 anos, é portador de apneia obstrutiva do sono (AOS) de grau severo. Em 2013, operou os seios da face e, desde então, faz uso de um respirador, o Bilevel Positive Pressure Airway (BiPAP). O aparelho é usado em casos mais graves e evita que o paciente pare de respirar enquanto dorme, impedindo que haja colapso resultando em apneia.

- De noite, eu não conseguia dormir, me faltava o ar, acordava assustado. Tinha vezes que pensava que tinha dormido a noite toda, mas tinha passado 10 minutos. Cheguei a ter 87 apneias em uma noite, achei que ia morrer. Depois de fazer o exame e a cirurgia, agora durmo melhor porque uso o aparelho. Consigo dormir seis horas direto. Se vou dormir de tarde, uso também, não fico sem o aparelho - conta Guerra.

Pela primeira vez, o professor universitário José Américo de Mello Filho, 68 anos, passou por uma avaliação do sono devido às dificuldades que tem para dormir. Segundo ele, tem noite que acorda diversas vezes assustado em função do ronco, o que causa constrangimento para a esposa e atrapalha o sono do casal.

- Eu fui fazer o exame para ver se tem algum problema mais grave e para ver se tem um método para diminuir essa situação. Busco uma melhor qualidade de vida. Agora, fico no aguardo dos exames para saber qual vai ser o tratamento - menciona José América.

O exame que faz o diagnóstico preciso dos distúrbios do sono se chama polissonografia basal. Ele é feito em clínicas particulares e também pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em Santa Maria, o exame era feito no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), porém, o equipamento que faz o exame estragou em 2015 - é esperado um novo aparelho para o final de janeiro de 2018.

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SINTOMAS E AJUDAS

Distúrbios do sono
Significam um conjunto de condições ou doenças que implicam direta ou indiretamente em prejuízos à qualidade ou à quantidade do sono. Veja alguns tipos:

  • Ronco e apneia obstrutiva - Distúrbio que mais afeta a qualidade de vida da população em geral, pode trazer inúmeras consequências danosas à saúde. Caracteriza-se pela obstrução da via aérea no nível da garganta durante o sono, levando a uma parada da respiração que dura, em média, 20 segundos. Após essa parada, a pessoa acorda emitindo um ronco muito barulhento. A apneia obstrutiva do sono pode ocorrer várias vezes durante a noite, havendo pessoas que apresentam uma a cada um ou dois minutos
  • Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) - Distúrbios de movimento, como movimento periódico de pernas (condição em que a pessoa tem movimentos involuntários repetitivos durante o sono, que também afeta a qualidade do sono do portador bem como a do cônjuge). É um distúrbio caracterizado por agitação involuntária dos membros inferiores, mas que pode ocorrer também com os braços nos casos mais graves
  • Insônia - É a dificuldade de iniciar o sono, de mantê-lo continuamente durante a noite ou ainda o despertar antes do horário desejado. Muitas vezes, ocorre a sensação de sono não reparador, de má qualidade, com cansaço diurno. Outras consequências da insônia em longo prazo são irritação, dificuldade para se concentrar ou de memória, sintomas de depressão, entre outras
  • Narcolepsia - É um distúrbio neurológico não muito frequente e bastante grave, no qual a pessoa portadora simplesmente "pega no sono" inadvertidamente em qualquer lugar e sob qualquer circunstância. É caracterizado por sonolência diurna, por vezes, com ataques de sono, cataplexia e anormalidades do sono
  • Sonambulismo - Tal como o terror noturno, o sonambulismo normalmente ocorre na infância. Caracteriza-se por falar, sentar ou também andar pelo quarto e até mesmo pelos ambientes da casa
  • Bruxismo - O bruxismo é definido como um distúrbio caracterizado pelo ranger ou apertar dos dentes (como uma mastigação) durante o período de sono. Durante o bruxismo, a força realizada sobre a musculatura mastigatória e os dentes é excessiva, produzindo sintomas musculares e dentais, tais como: dor facial, desconforto muscular principalmente ao morder, dores de cabeça, desgaste dos dentes e danos à gengiva. Um sinal típico é o desgaste do esmalte dos dentes. Por esse motivo, o bruxismo geralmente é detectado pelo dentista

Tratamentos
O tratamento de qualquer doença passa, primeiramente, pelo diagnóstico preciso. Existem tratamentos para todos os distúrbios do sono. Confira:

  • No caso do ronco e da apneia do sono, há diversos tipos de abordagem terapêutica, desde tratamentos cirúrgicos (cirurgias nasais, de garganta e cirurgia bariátrica em casos de obesidade associado), assim como aparelhos ortodônticos confeccionados e manejados por dentistas que tenham experiência com esse tipo específico de aparelho intraoral, fonoterapia visando fortalecimento da musculatura da via aérea e aparelhos que ajudam na respiração 
  • O uso de remédios depende da doença e de cada caso individual 

Para ter uma boa noite de sono
Dormir mal atrapalha a concentração e o raciocínio, a pessoa fica sonolenta e pode ter alteração no humor. Alguns hábitos devem ser mudados no dia a dia. Veja o que pode ser feito: 

  • Ter horários regulares para dormir e despertar
  • Diminuir estímulo visual à noite
  • Evitar assistir televisão à noite
  • Ir para a cama somente na hora de dormir
  • Ter um ambiente de dormir adequado: limpo, escuro, sem ruídos e confortável
  • Não fazer uso de álcool ou café, determinados chás e refrigerantes próximo ao horário de dormir
  • Não fazer uso de medicamentos para dormir sem orientação médica
  • Se tiver dormido pouco nas noites anteriores, evite dormir de dia
  • Jantar moderadamente em horário regular e adequado
  • Não levar problemas para a cama
  • Fazer atividades repousantes e relaxantes preparatórias para o sono
  • Ser ativo física e mentalmente
  • Tomar banho morno duas horas antes de dormir pode ajudar a relaxar e a baixar a temperatura corporal, o que é necessário para desencadear o sono
  • Recomenda-se a prática regular de exercícios físicos sempre, pelo menos, 6 horas antes do horário principal de sono (fazer exercícios próximos ao horário de dormir pode tirar o sono, pois acelera o metabolismo)

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