Ela cuidou de você desde antes de você nascer. Quando você precisou, ela esteva atenta. Ela te ajudou a escolher uma roupa para vestir, o que comer e determinou o seu horário de dormir. Ficou encarregada do banho, da escola e da ida ao médico. Dela, vieram as broncas e conselhos da adolescência. Na vida adulta, além de torcer por você e comemorar cada conquista sua, ele não saiu do seu lado. Sua mãe nunca exigiu reconhecimento. Fez tudo isso pelo simples fato de ser mãe e de querer o bem de sua cria. Mas o mundo dá voltas e há casos em que a retribuição do filho acaba acontecendo de forma semelhante ao do esforço materno.
Seja por limitações impostas pela idade ou problemas de saúde, muitos rebentos se viram na função de ser "pai" ou "mãe" de sua própria mãe. Além de dar carinho, cabe ao filho zelar pela saúde e bem estar de quem o criou, levando ao médico, alimentando, dando banho e até mesmo tomado decisões por eles.
É o caso do escritor e ilustrador Byrata Lopes, 62 anos. Desde 2000, ele é responsável pelos cuidados com a mãe, Nyvia da Silva Lopes, 95, que, há cerca de 15 anos, sofre do Mal de Alzheimer. A doença impôs a ela uma série de limitações, que a família encara com paciência e afeto.
Foi preciso abrir mão da vida individual, mas nada substitui o carinho e atenção que ela precisa, este ambiente familiar diz ele.
A psicóloga Carmen Maria Andrade, professora da Faculdade Palotina de Santa Maria (Fapas) e doutora em Gerontologia, explica que este tipo de situação é, e será, cada vez mais comum, porque as pessoas estão ficando mais velhas e, portanto, passando mais tempo na fase da velhice:
Houve uma época que as pessoas não passavam dos 60 anos. Hoje, elas vivem até os 90. Há idosos que chegam aos cem anos.
Segundo estimativas do IBGE, entre os anos 2000 e 2010, o número de idosos no Brasil aumentou de 12,9 milhões para 20,5 milhões população que, no Rio Grande do Sul, saltou de 1 milhão para 1,4 milhão. A expectativa é que, em aproximadamente 20 anos, a população com mais de 60 anos seja três vezes maior.
A psicóloga clínica Márcia Elisa Jager lembra que são vários os fatores que colaboram para o aumento destes números, como os avanços na medicina, na ciência e na tecnologia. Porém, a longevidade nem sempre vem acompanhada de boa saúde, que pode se debilitar com o passar dos anos ou sofrer com a manifestação de doenças que podem limitar as faculdades físicas e mentais.
E como uma saúde frágil não é questão exclusiva da terceira idade, muitas jovens mães podem acabar se tornando filhas de seus filhos e filhas.
São doenças que podem repercutir de forma cognitiva, social, pessoal ou familiar. Há casos em que a doença limita, gradativamente, a pessoa em suas funções e seus papeis comenta Márcia.
Desde que a mãe, Elisabete Rodrigues Machado, 54 anos, foi diagnosticada com câncer, a bancária Priscila Rodrigues Machado, 24, trabalha para ajudá-la no que for necessário:
Quando eu fiquei sabendo da doença da mãe, foi um baque. Porque, quando é com a gente, aprendemos a ser forte e encarar a situação. Quando é com o outro, e esse outro é a tua mãe, o choque parece ser maior.
Enquanto a mãe passa por tratamento desde fevereiro, ela está na etapa de quimioterapias , Priscila se preocupa em dar todo apoio que pode, com base na própria experiência.
Quando ela chega da quimio, eu já fui no mercado, já organizei a casa. Eu sei que a minha mãe tem reagido bem, mas a gente fica apreensivo a cada ida dela para a quimioterapia conta a filha.
Mudanças nem sempre são fáceis
A psicóloga Márcia Elisa Jager lembra que, no começo, as limitações por causa de envelhecimento ou de doenças podem ser muito frustrantes e até estressantes, tanto para filhos quanto para as mães (ou pais):
Vivemos em uma sociedade em que o estresse ultrapassa o que as pessoas podem suportar, aca"