Apesar de ser uma das únicas certezas da vida, não é fácil falar sobre morte com os filhos. Mesmo encarando de uma forma relativamente prática com o fato, considero um tema muito difícil de lidar, delicado e doloroso. Recordo da primeira vez que a morte foi falada lá em casa. A pequena tinha quase três anos e o bisavô morreu. Sem grandes explicações, a gente disse que estava velhinho e tinha virado estrelinha. Aquela conversa bastou. Logo depois, o peixinho também morreu e não escondemos. Depois, não recordo direito quanto tempo passou, ela veio como uma conversa de como era o céu, pois o local foi tão bem descrito, como um lugar onde tinha muitas brincadeiras, chocolate saindo da torneira, entre outros predicados. Tão bem adjetivado que a pequena tascou:– Mãe, quero morrer. O céu é muito legal.
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Mudei a abordagem, dizendo que a vida também era muito legal. Elenquei as coisas boas e ela se conformou e parou de desejar conhecer o céu tão cedo. Passou mais um tempo, ela estava com cinco anos, e a bisa morreu. Seguidamente, a pequena fala que tem saudades dela e, eventualmente, volta a tocar no assunto. Afirma que tem medo que a gente (eu ou o pai dela) morra. Sempre que pergunta quando eu vou morrer. Tento levar o assunto para o lado lúdico. Fico imitando uma velhinha, dizendo que pretendo morrer depois dos 100 anos, cheia de rugas e sendo a vovozinha mais simpática da família.
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Pois, recentemente, um caso em particular a fez ter um novo encontro com a morte. Aos seis anos, a reação foi mais intensa. Um dia, à noite, ela me disse que tinha de rezar pelo Tio Pastel, que estava no hospital com o "braço quebrado" porque havia sofrido um acidente. No dia seguinte, soube em detalhes o que havia ocorrido e a gravidade do fato. Algo sem explicação e difícil de digerir, independentemente da idade. O funcionário que zelava pela segurança dos pequenos no estacionamento do colégio havia sido atropelado enquanto voltava para a casa de bicicleta, e o motorista do carro não o socorreu. No dia 6 de julho, ainda na redação do jornal, fiquei sabendo que o Tio Pastel, Lioni de Deus, 54 anos, porteiro do Colégio Marista, não havia resistido aos ferimentos e morrido.
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Cheguei em casa e conversei com o pai da pequena. Decidimos que deveríamos contar. Comecei falando que o Tio Pastel havia piorado, que era para rezar por ele. Ela me perguntou onde ele estava. Disse que com o papai do céu. Ela olhou bem firme na minha direção e começou a chorar. A gente ficou abraçada por um tempo. As primeiras reações foram de raiva e incompreensão. Deixei que ela colocasse para fora os sentimentos. Tentei explicar que havia coisas que não tinham explicação, que ela poderia ficar triste, porque dói muito quando a gente não consegue mais ver alguém que gosta.
Amor "