utilidade pública

Quem ainda usa um dos 1,1 mil orelhões de Santa Maria?

Há quem diga que nem sequer chegou perto ou não lembra da última vez que usou. Teve até gente flagrada usando o celular debaixo da estrutura só para aproveitar a sombra. Mas, mesmo obsoletos para a maioria da população, os orelhões ainda têm fiéis usuários. Em meio à facilidade da telefonia móvel e atrativos modelos de celulares, a utilização de telefones públicos ainda é realidade, bem como a precariedade desses aparelhos. E não são poucos pela cidade.

Segundo a OI, empresa responsável pelo serviço desde 2010, quando houve a fusão com a Telemar, só em Santa Maria são 1,1 mil orelhões distribuídos nas regiões Norte, Sul, Leste, Oeste e Centro. Aqui, assim como em todo o território nacional, a instalação de Terminais de Uso Público (TUPs), popularizados orelhões, atende às disposições do Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU), decreto presidencial n° 7512, de 30 de junho de 2011, que determina um telefone para cada mil habitantes.

Nos últimos dias 12,13 e 18 dezembro, e 3 e 4 de janeiro, a reportagem do Diário percorreu diversos bairros da cidade onde conversou, ao todo, com 100 pessoas. Dessas, 83 informaram que não utilizam o telefone público. Outras 17 ainda recorrem ao aparelho.

 

Sob o sol e no calor de 35°C, o aposentado Antonio Hakim, 59 anos, saiu da casa onde mora, no Bairro Pinheiro Machado, para utilizar um orelhão do Centro. Ele precisava cancelar um título de capitalização, que fez com um banco. A ligação durou cerca de 30 minutos em um serviço de 0800:

- Lá para meu lado estão todos estragados, mas não abro mão de subir (até o Centro) e telefonar. Não gastei nada e fiquei um tempão "pendurado".

No Bairro Salgado Filho, Terezinha Dorneles, 69 anos, tem um armazém. Ela mesma liga para os técnicos quando o aparelho, que fica em frente ao estabelecimento, estraga. Por lá, com frequência, o pessoal costuma fazer ligações para consultórios médicos, conhecidos e, muitos, "para namoros proibidos". Segundo um vizinho, anos atrás, era possível até ver gente sentada em "cadeira de praia", batendo-papo ao telefone.

No principal ponto de concentração de orelhões, o Calçadão Salvador Isaia, há 10 aparelhos. Porém, até a última semana, apenas cinco funcionavam. As ligações não eram completadas ou o "telefone estava mudo".

PARA PESQUISAR PREÇOS, CANCELAR SERVIÇOS E MATAR A SAUDADE

Orelhão não depende de bateria ou wi-fi. Com a proposta de disponibilidade permanente é, geralmente, em pé, e em locais onde há intenso trânsito de pessoas, que usuários procuram o serviço pelos mais inusitados motivos.

Em uma segunda-feira, às14h, o aposentado Élton Coutinho, 59 anos, utilizava um orelhão do Calçadão e fazia uma pesquisa de preços de calças térmicas. Ele queria viajar e comprar um bom produto, sem gastar muito:

- Liguei para três lugares. Poupei tempo também. Agora é só ir às lojas e ver se o produto é bom mesmo.

A poucos metros de Coutinho, a dona de casa Marisa de Cássia Pascotini, 52 anos, conversava ao telefone com uma amiga.

- Ela mora aqui em Santa Maria mesmo, mas quando fico algum tempo sem vê-la, ligo para ver como ela está, se precisa de alguma coisa. Tenho esse hábito - contou.

Já o ferroviário aposentado Múcio Nunes, 70 anos, saiu do Bairro Perpétuo Socorro para fazer uma ligação e ajudar um amigo em um processo trabalhista. 

- Tentei ligar para um escritório de advocacia. O problema é que tive de testar três aparelhos, que não estavam funcionando, e só consegui ligação no quarto. Os orelhões são utilidade pública, não podem tirar da população - defendeu Nunes, que usou um telefone do Calçadão, próximo ao Viaduto Evandro Behr.

 

 Em frente a escolas, mercados e hospitais quase sempre há um telefone público. Conforme uma funcionária, que não quis ter o nome divulgado e que atua na unidade de saúde Oneyde de Carvalho, na Vila Lorenzi, é comum pacientes marcarem consultas ou solicitarem informações via orelhão.

 

- Nem todo mundo tem saldo para ligar do celular ou telefone em casa, aí, nos bairros, vão até o telefone mais perto. O daqui da frente do posto estão sempre usando, pena que estragou faz uns dias. Quando ligam, a gente ouve até aquele barulhinho durante a ligação, típico do orelhão - diz.

 

A assessoria de comunicação da Oi informou, contudo, que apenas 10% dos orelhões estão danificados, a maioria, por atos de vandalismo. Os problemas decorrem de defeitos em leitora de cartões, monofones e teclado, além das pichações e colagens indevidas. Em alguns casos, conforme a empresa, equipes consertam os aparelhos, que voltam a ser danificados no mesmo dia.

A Oi alerta que a depredação contra orelhões pode comprometer serviços públicos essenciais, como hospitais, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar. As solicitações de reparo devem ser enviadas à companhia pelo fone 0800-0318031.

QUEDA DO CONSUMO Oi alega que investe constantemente em estudos de telefonia e, se for verificada ociosidade de alguns telefones públicos, podem ser transferidos para áreas de maior demanda, sempre respeitando a regulamentação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A companhia informou, ainda, que a migração do consumo de voz fixa (acesso individual ou telefone público) para voz móvel (celular) faz parte da evolução da telefonia em todo o mundo, inclusive, no Brasil.

Com a queda no consumo nos orelhões, hoje apenas 0,04% da planta de telefones públicos da operadora gera receita suficiente para o pagamento do seu próprio custo de manutenção. Com isso, cerca de 68,2% dos orelhões da Oi não geram chamadas tarifadas e cerca de 29,9% não são sequer utilizados.

Reportagem - Pâmela Rubin Matge
Fotos - Lucas Amorelli

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