reportagem especial

O home office chegou para ficar?

18.302

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

Mais do que tendência, o home office, em inglês "o escritório em casa, virou uma necessidade no contexto de pandemia e isolamento social, inclusive por recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em Santa Maria ou em qualquer cidade do mundo,é possível saber de trabalhadores que tiveram que aderir à mudança a partir de março deste ano. A modalidade já era adotada em outros países, e desde que a Reforma Trabalhista foi aprovada, em 2017, mais corporações passaram a aderir. Segundo a Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt), a atividade cresceu 22% entre 2016 e 2018, dado que já apontava uma mudança na cultura organizacional das empresas.

- O home office já é uma realidade. Aos poucos, ele avança por outros setores da economia. A expansão da internet somada à redução de custos o torna inevitável. Santa Maria tem grande potencial por causa das universidades e pelo peso do setor serviços na economia. Já se observa uma tendência de aumento de aulas a distância, assim como trabalho em tempo parcial na própria residência. Só que, como se realiza fora do mercado formal de trabalho, dificulta medir o percentual dessa atividade - avalia o economista José Maria Dias Pereira, doutor em Economia e professor universitário aposentado.

No Brasil, segundo o estudo Tendências de Marketing e Tecnologia 2020, feito pela Fundação Getúlio Vargas, a modalidade deve crescer 30% no país, no período denominado pós-pandemia. O levantamento levou em conta as respostas de tomadores de decisão e gestores de 100 empresas.

Em âmbito local, os números ainda não são conhecidos, mas sobram exemplos de empresas e alunos que fazem cursos remotos (veja nas próximas páginas).

Ainda que reconheça como tendência, André Domingues, agente da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (Sine), informa que, por enquanto, não há oferta de vagas exclusivas para home office em Santa Maria, o que não deve tardar. O presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism), Luiz Fernando Pacheco, sinalizou que segmentos como imobiliárias e corretoras aderem cada vez mais.

 - Empresários estão utilizando bastante esse modelo. Existem alguns setores que são bem mais propícios, como imobiliárias e corretoras. Vai ser um dos legados desse período difícil. Acredito que esse é um caminho sem volta. Vai ser bom para alguns setores pela rapidez e economia em vários custos - conclui.

CURSOS A DISTÂNCIA

O diretor do Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) da UFSM, Paulo Roberto Colusso, afirma que o uso de plataformas como Moodle, Skype, e-mail, redes sociais ou Google For Education cresceu e, por conta das atividades em casa, houve um aumento de 53% no tempo de permanência dos sistemas de internet da instituição. D 2019 para 2020,o número de usuários que acessam os sistemas da universidade dobrou indo de 6 ml para 12 mil. Desses, 54% acessam de dispositivos móveis.Na Universidade Franciscana (UFN), somente de abril deste ano até agora, foram criados 14 novos cursos de extensão não presenciais. A universidade também realizou 29 defesas entre pós-graduação e mestrado no período de isolamento social.

- Na era Covid houve uma adesão de 100% dos professores ao sistema e, gradativamente os alunos incorporaram as atividades em suas rotinas. Isso forçou, estimulado pelo senso crítico dos alunos, que o nosso sistema fosse atualizado, melhorado, possibilitando a criação virtual de diversas salas de aula online, em que alunos e professores estudam em tempo real, utilizando plataforma para registro e avaliação do aprendizado - acrescentou por e-mail, a assessoria de comunicação da UFN.

TRABALHO REMOTO INDICOU PRODUTIVIDADE E MAIS ENGAJAMENTO

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

As manhãs seguintes ao dia 25 de março, desde que a empresa comunicou a transição para o home office, Fernando Acosta, 38 anos, obrigou-se a criar uma nova rotina. Ele é supervisor de mercado na Ávato, empresa do ramo de tecnologia, serviços e soluções de TI para a área empresarial. Desde então, ele acorda, toma banho, veste o uniforme, prepara o chimarrão e encara mais um dia repleto de tarefas pela tela do computador. Acosta integra a fatia de 40% da empresa que segue com atividades remotas. Somente em Santa Maria, a Ávato conta com cerca de 200 funcionários.

- Em home office, estão setores que prestam serviços de atendimento e suporte aos nossos clientes, bem como os departamentos burocráticos, como financeiro e a parte de contratos. As videoconferências ocorrem diariamente e várias vezes ao dia, o que acaba minimizando os impactos sobre as equipes. Tivemos que nos adaptar rapidamente, e confesso que, nos primeiros dias, foi um desafio. Mas, ter um ambiente adequado, ter uma rotina, ter uma internet de boa qualidade e até mesmo usar diariamente o uniforme da empresa ajudam a manter o foco e a produtividade - explica Acosta.


A empresa ainda não oficializou nenhuma vaga definitiva de home office, mas a nova modalidade está em avaliação.

- Estamos estudando e mapeando setores da empresa que possam migrar de vez para o trabalho em home office. Umas das maiores vantagens foi a quebra de paradigma, pois os indicadores mostram que a produtividade não teve queda. Em alguns casos, inclusive, tivemos ainda mais engajamento dos colaboradores - conta o supervisor.

DICAS
A Ávato, empresa do grupo Gaúcha TecPar, elaborou dicas internas e que podem ser adaptadas a outros segmentos, para manter a qualidade do trabalho durante a pandemia e no home oficce

  •  Entenda o cenário
  • Crie um Comitê de Tratamento de Crise
  • Preocupe-se com os colaboradores
  • Como é possível ajudar a população? 
  • Fique de olho no caixa 
  • Mantenha a equipe informada 
  • Mantenha o engajamento da equipe
  • Encare o início de uma nova era

REINVENTAR-SE INDEPENDENTEMENTE DO LUGAR 

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)

Na tarde do dia 28 de maio, a psicóloga Telma Ré, diretora da Futura Gestão de Pessoas, retornou à sede da empresa. Porém, desde o início da pandemia, as atividades têm sido em casa. Com uma queda significativa na oferta de vagas e poucas entrevistas agendadas, a alternativa para não haver o desligamento de funcionários foi a de criar um formato de espaços compartilhados. A empresa passou a oferecer cinco salas equipadas e, até então, ociosas. Profissionais como psicólogos e advogados já estão fazendo atendimentos. A maioria, que teve de entregar consultórios e escritórios para baixar custos em meio à crise gerada pela pandemia, agora utiliza as salas por um preço acessível.

- Talvez o valor que pagavam de condomínio, hoje pagam pelas salas. Foi uma maneira que nós, enquanto Futura, encontramos de nos reinventar. Também nos adaptamos à pandemia nos nossos processos de seleção, não fazendo aglomeração e sem nossas dinâmicas em grupo presenciais.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)

EXPERIÊNCIA PESSOAL

O trabalho específico que a psicóloga exerce na empresa também teve uma interferência positiva e que deve reverter em uma nova rotina a longo prazo. 

- Enquanto profissional da área de recursos humanos, estou em casa. Como temos sistema, conseguimos fazer isso. Minha colaboradora também ficou 40 dias em casa. Achei bárbaro esse momento, pois pensei em trazer o meu melhor computador para casa. Estou percebendo que vou continuar assim, pois não preciso estar lá para algumas das fases do meu trabalho - observa Telma.

OPORTUNIDADE QUE BROTA EM MEIO À PANDEMIA

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Fotos: Pedro Piegas (Diário)

Desde a primeira aula, em 25 de maio, a Oficina de Programação "Só Para Gurias", uma parceria do Clube de Computação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) com o grupo BitMarias, tem oportunizado a diversas meninas a iniciação às linguagens do universo de algoritmos e estrutura de dados. As aulas são 100% remotas e gratuitas, voltadas a alunas do Ensino Médio de escolas públicas de Santa Maria e da região da 8ª Coordenadoria Regional de Educação (8ª CRE). Já as tutoras estão em diversos locais, como Porto Alegre, Candelária e até na Argentina.

- As oficinas do Clube de Computação têm incentivado o público do ensino médio a conhecer uma área em que há muita demanda de pessoas qualificadas. Nesta área, a empregabilidade é muito alta e é possível começar a empreender sem grandes investimentos. Além disso, hoje em dia está mais fácil iniciar o aprendizado na área, pois há muitos recursos online com abordagens lúdicas. É possível aprender programação por meio de jogos e usar ferramentas que facilitam a criação de vários tipos simples de software, que podem resolver demandas de possíveis clientes. Em nossas oficinas, temos identificado participantes que demonstram bastante talento para a área, mas que talvez nunca soubessem disso. Mais do que isso, acreditamos que as oficinas têm proporcionado momentos de interação produtiva, descontraída e mentalmente estimulante, o que entendemos que é muito importante para a saúde mental de todos os envolvidos. Temos várias alunas e alunos de graduação colaborando voluntariamente na tutoria das oficinas, e estão todos bastante empolgados com esta experiência singular, em um momento tão crítico.

Especificamente na oficina "Só pra Gurias", conseguimos reunir meninas de vários municípios, que não poderiam participar das oficinas presenciais que costumávamos oferecer. Essas meninas, mais do que aprenderem programação, estão construindo uma rede que se apoia mutuamente. Um exemplo disso é que muitas colegas tiram dúvidas entre si no chat da plataforma, quando as tutoras estão offline. É algo importante que buscamos incentivar: cooperação sempre, mais ainda em tempo de crise- salienta a professora Andrea Schwertner Charão, idealizadora do clube.

NOVOS HORIZONTES

Utilizando o computador que fica na estofaria dos avós, na Região Sul da cidade, Isadora Padilha, 16 anos, aluna do 2º ano do Ensino Médio da Escola Cilon Rosa, viu durante o período de distanciamento social e atividades escolares ainda em adaptação, um universo de possibilidades se abrir.

- Quando vi que eram gurias que iam trabalhar com a gente, acabei me inscrevendo. Achei legal a iniciativa, porque muitos acham que esse tipo de assunto é voltado mais a presença masculina, por envolver programação de games, sites e apps. No meio de uma pandemia, durante o isolamento e sem ter o que fazer, essas oficinas são incentivadoras. E isso faz com que as meninas ganhem cada vez mais lugar na sociedade em trabalhos e cargos que são padronizados como "só para meninos". Antes, eu queria fazer vestibular para Psicologia, mas, agora, estou começando a pensar em Ciências da Computação - conta Isadora.


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Direto da linha de frente: profissionais registram rotinas na UTI Covid do Husm Anterior

Direto da linha de frente: profissionais registram rotinas na UTI Covid do Husm

Próximo

VÍDEO: 'quando começou a pandemia, o lar foi entristecendo', diz enfermeira de instituição

Reportagem especial