Santa Maria não é plana tampouco planejada, e a geografia pode ser um dos obstáculos para quem decide de locomover de bicicleta pelas subidas de Santa Maria. A reportagem do Diário conta, em uma reportagem especial, os desafios dos ciclistas, a falta de espaços e as soluções apontadas por especialistas para um espaço mais adequado para quem anda sobre duas rodas.
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Apesar das subidas da cidade, nem tudo está perdido. Aliás, é aí que entra a necessidade de planejamento e de soluções criativas. A reportagem conversou com o professor Anderson Sccoti do departamento de Geociências da UFSM que atentou que o relevo do município, ao se observar principalmente da área urbana, "pode ser caracterizado em alguns segmentos, como ondulado a fortemente ondulado (subidas e/ou descidas acentuadas)":
- Isso com certeza é um impeditivo para a prática do ciclismo, o que pode acarretar uma baixa adesão a esse modal. Porém, nós temos algumas exceções. Uma ciclovia, por exemplo, que se iniciasse no Centro - na Rua do Acampamento - e partindo pela Avenida Dores e, posteriormente, seguindo em direção à Faixa Velha de Camobi, visto que esse trajeto apresenta quase em sua totalidade áreas planas ou pouco onduladas, esse é um exemplo.
Sccoti cita que há áreas na Zona Oeste que também seriam passíveis da construção de ciclovias. Mas ele enfatiza que a viabilidade de uma ciclovia demanda a análise de outras variáveis.
A também professora Carina Petsch do departamento de Geociências da UFSM destaca ainda que se a ciclovia não for adequadamente planejada, isso pode, sim, gerar uma baixa adesão ao modal. Logo, a questão geográfica deve ser uma das primeiras a ser observada:
- No quesito geográfico, com ênfase nas formas de relevo, podemos utilizar as geotecnologias, que auxiliam na determinação dos tipos relevo e, consequentemente, no traçado de uma ciclovia. De posse dessa ferramenta, podemos mapear as áreas (onduladas e planas) e tracejar a melhor rota.
Situação que é endossada pela arquiteta Juliana Guma, mestre em Planejamento Urbano pela UFRGS, que diz que a topografia pode ser um limitador se não for observada:
- Se não forem pensados adequadamente os trajetos das ciclovias, a topografia pode ser um limitador, mas não entendo que seja um impeditivo para a concretização desse modal. Temos muitas possibilidades de rotas aqui na cidade em que se poderia circular com a bicicleta de forma efetiva dentro dos limites confortáveis de declividade.
SEM RESTRIÇÃO
Se a questão geográfica, com subidas acentuadas e descidas, é uma característica típica da topografia do município, isso não é nenhum limitador para o terapeuta Evandro Fachim, 47, morador da Vila Belga, que há oito anos retomou as pedaladas.
A reportagem o encontrou pedalando na Avenida João Machado Soares, Bairro Camobi, o que é considerado "do lado" para o ciclista. Aliás, distância e adversidade não são limitadores para Fachim que, por ano, contabiliza 6 mil quilômetros de pedaladas. O que dá, em média, 16 km diários.
- Como toda questão cultural, a bicicleta ainda não é vista como um meio de transporte. Creio que levará um tempo para mudar essa mentalidade. Tanto é que, toda semana, sempre tem uma "fechada" de algum carro. É um risco permanente. Mas nem por isso eu deixo de pedalar - analisa.
Devidamente protegido, com capacete, e com a bicicleta e a roupa com refletores, Fachim tenta ser visto e, assim, demarcar de forma democrática e civilizada seu espaço dentro do sistema viário.
