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Após 10 anos do Proinfância, veja como estão as creches


Santa Maria terá unidades de creches de primeiro mundo. A cidade terá escolas do padrão Fifa. É um trabalho inovador." A frase do representante da MVC Soluções em Plásticos, Gilmar Lima, pronunciada em 13 de agosto de 2013, sobre a construção de 10 escolas municipais de Educação Infantil (Emei) na cidade, custeadas pelo programa Proinfância, não passou de uma grande ilusão. Passados mais de quatro anos do anúncio da empresa responsável pelas obras, o sentimento é de frustração. As creches do Proinfância sucumbiram em construções abandonadas, recursos públicos desperdiçados, lixo acumulado e terrenos tomados pelo mato. Além disso, centenas de crianças de 0 a 5 anos da periferia da cidade continuam à espera de uma creche, e seus pais com dificuldades para encontrar vaga em uma Emei para deixar os filhos, enquanto trabalham. 

Em contraste ao cenário de abandono nas 10 escolas infantis do Proinfância, as creches do Loteamento Cipriano Rocha e da Vila Brenner, erguidas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), estão em fase de conclusão, lindas e coloridas. Mas até chegar na fase atual das obras, foi um longo percurso e cheio de percalços: paralisações, rescisão do contrato com as empresas devido à morosidade na construção e abertura de novas licitações para terminar as duas unidades. As escolas infantis devem ser inauguradas até o mês de agosto, informou a secretária municipal de Educação, Lúcia Madruga. Já o início das aulas, entretanto, não tem previsão. Além dos projetos pedagógicos em elaboração, a titular da pasta disse que tem de abrir licitação para a compra do mobiliário.  

Iniciada em 2011, a creche Cipriano Rocha era para estar pronta no final de 2012. Estimada em R$ 1,9 milhão, a escola de Educação Infantil, de mais de 700 metros quadrados de área, deverá atender 120 crianças em caso de turno integral, ou 240 se funcionar em dois turnos. A Secretaria de Educação ainda não definiu essa questão. 

Já a unidade da Vila Brenner deveria ter aberto as portas para receber os pequenos em março de 2013, contudo, a obra, de quase R$ 1 milhão, só foi começar, justamente, no primeiro mês desse ano. Agora, os trabalhadores dão os retoques finais. Lá, a previsão é do atendimento de 60 crianças em turno integral, ou 120 em dois turnos. A exemplo da unidade do Cipriano Rocha, a prefeitura não definiu a implantação de um ou dois turnos. 

- O prédio está quase pronto. A obra estava parada e foi reiniciada em fevereiro de 2016. Sempre temos um caseiro que faz a segurança do lugar e também o prédio é todo gradeado. Essa creche vai beneficiar todas as crianças daqui do bairro (Divina Providência). O pessoal está na expectativa - contou o mestre de obras Josias Teixeira da Silva, 42 anos, sobre a creche com área de 725 metros quadrados 

PREFEITURA PRETENDE RETOMAR CONSTRUÇÃO DE UNIDADES


Das 10 creches do programa Proinfância, em cinco as obras chegaram a iniciar, a partir de 2014, porém a MVC, empresa paranaense que venceu a licitação para fazer as unidades no Rio Grande do Sul, com base em um método inovador, com paredes pré-moldados, abandonou as obras. A prefeitura pretende retomar o trabalho nas cinco unidades, assim que resolver os entraves burocráticos. 

- A creche é feita na indústria e virá para a cidade com toda a estrutura pré-moldada. Quando estiver começando aqui, ela vai estar em andamento na fábrica - explicou Gilmar Lima, da MVC, sobre o método, à época em que visitou alguns locais onde as unidades seriam erguidas com verba do Proinfância, lançado há 10 anos pelo governo federal. 

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O abandono das obras pela empresa se repetiu em diferentes regiões no Estado. A MVC só concluiu uma unidade, em Canoas, Região Metropolitana. Nas cinco creches de Santa Maria, as obras chegaram a iniciar e, em algumas, as paredes pré-moldadas foram colocadas e parte da estrutura ainda está de pé, embora danificada. Esses são os casos, por exemplo, das obras na Vila Maringá, no Loteamento Monte Bello e na Nova Santa Marta. 

- Tem crianças que brincam no meio da creche, que está cheia de sujeira, bicho e mato. A prefeitura até mandou uma retroescavadeira para limpar o entulho, mas não demorou muito e tudo ficou sujo de novo - lamentou o aposentado Emanoel Irene Martins, 60 anos, morador da Vila Maringá. 

DESPERDÍCIO

Mãe de um filho de 2 anos, Rosana Rocha Cezar, 31 anos, da Cohab Fernando Ferrari, reclamou de a creche Monte Bello ter ficado só no papel. 

- Eu estou em casa cuidando do meu pequeno. Mas tenho vizinhos que estão gastando com o transporte para poder levar os filhos na creche, porque precisam trabalhar. O dinheiro que está ai nesses materiais é nosso e não podemos nem usufruir. Para o meu marido, o mestre de obras disse, uma vez, que o material não estava adequado, mas por que eles não viram isso antes de sair da fábrica? Isso deixa a gente triste - questionou Rosana. 

Para retomar as construções, além dessas três creches, nas unidades da Vila Medianeira e do Residencial Lopes, a prefeitura precisou do aval do FNDE, responsável pelos recursos, para alterar o método construtivo para paredes de alvenaria em vez de pré-moldadas, da MVC. 

O aval abre caminho para, no futuro, a prefeitura reformular o projeto e lançar o processo licitatório. Pelo novo sistema de construção, será aproveitada a base de concreto feita nessas unidades. Não há prazo para início dessas obras. 

- Todo o planejamento é entregar uma, depois outra - disse a secretária de Educação, Lúcia Madruga, fisando que a intenção do governo é concluir uma creche por ano a partir de 2019. 

O investimento nas 10 creches está estimado em R$ 14 milhões, beneficiando 1,5 mil crianças, de 0 a 5 anos. A primeira etapa nas cinco unidades, a base de concreto, foi custeada pelo município, que gastou, pelo menos, R$ 700 mil. Por esse motivo, a gestão passada ingressou com uma ação na Justiça contra a MVC, de R$ 8,4 milhões, que está em andamento, pedindo o ressarcimento pelos prejuízos causados à cidade. 

As obras das outras cinco creches financiadas pelo programa Proinfância para Santa Maria - Estação dos Ventos, Vila Jardim, Campestre, São João Batista e Dom Luiz Victor Sartori - nunca começaram. Só há os terrenos tomados pelo mato e sem cercamento.

- Sem a creche aqui, eu estou precisando pagar uma babá para poder ficar com a minha filha de 3 anos. Um gasto que eu não teria, se o prédio já estivesse construído. Muitas pessoas também estão tendo que pagar alguém ou uma van para levar os filhos para creches e escolas longe do bairro - comentou a crediarista Elenice Oliveira dos Santos, 35 anos, sobre o fato de a creche Estação dos Ventos, no Bairro Km3, não ter virado realidade. 

Sem escola de Educação Infantil no Bairro Km3, a babá Tânia Silva dos Santos tem ajudado as mães que precisam trabalhar. 

- Eu tive que pagar uma pessoa para ficar com meu filho quando ele era mais novo para eu poder trabalhar. Agora, eu é que cuido dos filhos de algumas pessoas aqui do bairro e consigo ficar com o meu filho em casa também, mas para as crianças seria ótimo que a creche estivesse pronta. Elas também teriam um bom lugar para poder brincar - contou Tânia. 

As unidades também estavam previstas pelo sistema de construção da MVC Soluções em Plásticos, o que significa que, para planejar as obras, o primeiro passo é a prefeitura conseguir a alteração desse método, a exemplo do que ocorreu com as outras cinco que tiveram as obras só iniciadas. Por enquanto, não há no horizonte perspectiva para que essas creches saíam do papel, infelizmente.

RAIO X DA SITUAÇÃO DAS 12 CRECHES MUNICIPAIS

Confira como está a situação das obras das creches do programa Proinfância e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em diferentes regiões de Santa Maria:

RAIO X DA SITUAÇÃO DAS 12 CRECHES MUNICIPAIS

Confira como está a situação das obras das creches do programa Proinfância e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em diferentes regiões de Santa Maria:

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