O agravamento de casos de Covid em pessoas obesas têm preocupado médicos como o infectologista Fábio Lopes Pedro, de Santa Maria. Ele, que acompanha a lotação de leitos clínicos e UTIs com pacientes de Covid, afirma que boa parte dos internados é de pessoas obesas. Segundo o médico, é esse tipo de paciente que deveria ter prioridade no Plano Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde. Fabio Pedro diz que o PNI, do governo federal e cujas regras têm de ser seguidas por Estados e municípios, tem pelo menos dois erros:
- O primeiro erro que vejo, que é crasso, é começar a vacinar com maiores idades e com ordem descendente, até os 60 anos de idade. Isso é um erro, porque, do ponto de vista de gestão e de epidemiologia, você deveria vacinar primeiro as pessoas com 60 anos, 61, 62 e assim por diante. São as pessoas que, com a vacinação, teriam um maior ganho de anos de vida qualificáveis. Isso é uma variável epidemiológica. Uma pessoa de 90 anos tem muito menos anos de vida com qualidade do que uma pessoa de 60 anos. Por isso, esse é o primeiro erro do PNI.
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Segundo Fabio Lopes Pedro, o governo precisa rever a prioridade das pessoas com comorbidades, que devem ser vacinadas a partir de maio, para priorizar obesos.
- Na prática, na ciência, na beira do leito, o que nós observamos é uma pandemia de obesos ocupando os leitos de UTI, de enfermaria e clínicos. Os obesos são os mais difíceis de intubar, os que ficam mais tempo intubados e os que têm o maior risco de complicações. Os obesos têm mortalidade maior que o resto da população. Então, vacinados os idosos, o segundo grupo a ser vacinado deveria ser o dos obesos e, depois, escolham outros grupos de risco - alerta.
O médico cita outras falhas:
- Há outras coisas erradas na condução dessa vacinação contra a Covid. Por exemplo: vacinação das forças de segurança pública. Eu entendo que é importante a segurança pública, mas a segurança pública é quem ocupa os nossos espaços de enfermaria e UTI nesse momento? É engraçado, parece que quem grita mais é quem leva a vacinação primeiro. Daqui a pouco é a educação. Mas, na verdade, na beira do leito, na prática, na suposta ciência que todo mundo quer vender, o grande grupo a ser vacinado são os obesos. Isso teria um significado muito prático na redução de pacientes graves. Obesidade, especialmente obesidade mórbida, é o que tem levado jovens nossos à morte. Perdi, há alguns dias, uma paciente de 33 anos de idade, 124 quilos. A gente interna diariamente pacientes com obesidade, e quanto maior o grau de obesidade, mais grave é a enfermidade da Covid. Então, na minha opinião como infectologista, epidemiologista e do que estudo muito de vacinologia e observo muito a beira do leito, o que aliviaria demais as estruturas hospitalares seria a vacinação prioritária de obesos - afirmou Pedro.
O governo do Estado diz que não tem autonomia para mudar a prioridade de vacinação e que, no momento, não há pedidos para priorizar idosos, mas que a sugestão será avaliada por técnicos.