Opinião

Uma campanha de Natal


Começou a preparação para o Natal 2017 numa linda região turística do meu amado Brasil. Entre luzes, cores, música, desfiles, chocolates, malhas, cristais, licores, surgem as campanhas publicitárias e os concursos de Natal. Nas minhas andanças pelo lugar para curso e conferência, a convite de um empresário do ramo de SPA, tive a oportunidade de conversar muito com ele, com sua equipe, conhecer seus projetos, e ouvir histórias interessantes. Numa dessas nossas conversas ele me relatou que há pouco havia desencadeado uma campanha pedindo aos habitantes da região que enviassem fotografias, acompanhadas de uma breve carta explicativa, das pessoas mais belas que eles conheciam. A ideia era usar essas fotos na sua campanha de Natal. Em poucos dias, milhares de cartas chegaram à empresa.

Uma carta, em especial, chamou a atenção da comissão de seleção e foi mandada a ele. A carta era escrita por uma menina que, certamente, vinha de um lar com problemas, em algum bairro pobre, de uma das cidades da região. O texto era recheado de trechos interessantes, uns alegres, outros tristes, uns afirmativos, outros interrogativos, mas o que mais lhe surpreendeu foi este trecho: No meu bairro mora a mulher mais bela do mundo. Ela é minha amiga. Eu vou à casa dela quase todos os dias. Ela me faz sentir a menina mais importante da terra. Jogamos dominó, fazemos palavras cruzadas, tomamos café, ela me ajuda nos deveres de casa, me ensina a rir, a falar corretamente, a comer de boca fechada, mas o mais importante é que ela ouve os meus problemas. Ela me entende e, quando vou embora, fala bem alto na porta, que sente orgulho de mim e que eu sou muito importante.

A menina terminou a carta dizendo: Esta foto mostra que ela é a mulher mais bonita do mundo. Espero ser tão bonita como ela quando eu crescer.

Neste momento o empresário respirou fundo e disse: Carmen! Conheci a menina e sua amiga, convidei-as para visitar minha empresa, e elas aceitaram. Entreguei presentes de Natal, rimos muito naquele dia e comemos muitas coisas gostosas.

Terminada a visita, chamei a equipe e disse: Não podemos publicar aquela mulher no concurso. Ele respirou fundo, olhou-me profundamente e mostrou-me sua foto. Se tratava de uma pessoa de idade avançada, simpática, sorridente, sem nenhum dente na boca, obesa, sentada numa cadeira de rodas. O pouco cabelo que lhe restou era loiro-grisalho preso num coque, alguns fios dispersos emolduravam seu par de olhos azuis, as rugas que marcavam seu rosto eram suavizadas pelo brilho que vinha do olhar e pela alegria que lhe brotava da alma. Era de uma beleza indescritível, mas ele teve a certeza de que não poderia usar sua foto, porque ela mostraria que um SPA não é necessário para uma pessoa ser bela. O que você acha disso?


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