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Trotski

O revolucionário comunista Leon Trotski (1879-1940) está de volta. Curiosamente, quem trouxe o comunismo para as manchetes não foi o PT, como ameaçou Bolsonaro na campanha eleitoral, mas um general. Villas Boas, ex-comandante do Exército e atual assessor do Gabinete de Segurança Institucional do governo Bolsonaro, chamou Olavo de Carvalho, guru ideológico da extrema direita, de "Trotski de direita". Este foi mais um capítulo da guerra travada entre a ala militar e a ala ideológica do governo.

Para entender o que o general quis dizer, é preciso primeiro saber quem foi Trotski. Ele foi, junto com Lenin, uma figura central na Revolução Russa de 1917. Lenin sempre foi o líder incontestável do Partido Bolchevique e, principalmente nos anos pré-revolução, houve muita divergência entre eles. Aliás, durante muito tempo, Trotski sequer pertencia ao partido. Trotski foi apresentado a Lenin quando este se encontrava exilado em Paris e, desde essa época, sua fama de redator o precedia (seu apelido era o "pena").

A relação entre Lenin e Trotski sempre foi tumultuada, menos por um conflito de egos e mais por força do temperamento de ambos. Enquanto Trotski ia sempre para a linha de frente, Lenin preferia atuar nos bastidores. Por conta disso, antes da Revolução, Trotski foi preso várias vezes e, numa delas, foi deportado para a Sibéria, de onde teve uma fuga cinematográfica. Mas, certamente, Lenin estava mais próximo de Trotski do que de Stalin, para muitos um usurpador, que viria sucede-lo após a sua morte em 1924.

O papel de Trotski foi determinante para o êxito da Revolução de outubro de 1917. Partiu dele, como presidente do Soviete de Petrogrado, a ordem de iniciar a Revolução. Também teve importante papel durante a Guerra Civil, ao ser nomeado Comissário de Guerra em 1918. Nesse período, Trotski trocou a pena pela baioneta e criou o Exército Vermelho, que derrotou as forças antirrevolucionárias (Guardas Brancos) e evitou a intervenção estrangeira. Comandando suas forças armadas desde um vagão de trem em constante deslocamento pelo país, venceu batalhas consideradas impossíveis.

Escritor compulsivo, a contribuição teórica de Trotski é extensa, destacando-se os diversos volumes da obra A história da Revolução Russa. Sua teoria mais conhecida é a da "revolução permanente", em que se opôs à visão marxista de que a Revolução Russa seria uma revolução burguesa, visto que o capitalismo ainda não tinha se desenvolvido plenamente na Rússia. Para ele, o proletariado poderia tomar o poder mais cedo nos países atrasados do que nos países adiantados, espalhando-se posteriormente dos primeiros para os últimos. O novo regime, portanto, dependia da revolução internacional para a sua sustentação. Não foi o que aconteceu, de fato. Mesmo no isolamento, o socialismo prevaleceu na Rússia embora tenha pago o preço de descambar para o totalitarismo. Venceu a tese do socialismo num único país, de Stalin.

A propósito do parágrafo inicial, o general quis dizer que Olavo está dividindo o governo (como se isso fosse possível!). Embora tenha sido acusado de "divisionista" pelos adversários, a comparação de Trotski com Olavo de Carvalho é ridícula, dada a importância do primeiro para a história. Para finalizar, fica como sugestão a leitura da extraordinária trilogia do historiador alemão Isaac Deutscher sobre Trotski ("O profeta armado" , "O profeta desarmado" e o "Profeta banido").

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