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Quimeras da vida

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Num dia destes, eu e um familiar estávamos na fila do salão de eventos da Medianeira, para comprar pastel, doce, pão e cuca. De máscara, cuidando a marcação de distanciamento riscada na calçada, observávamos os que estavam à nossa frente, e a agilidade mesclada de boa-vontade com que os voluntários atendiam pela janela-balcão.

Tudo andava até que uma família nos impressionou. Tinham sete crianças menores de 13 anos, vestidas com roupas limpas e arrumadas que denunciavam sua condição de poucos recursos. Pelo comportamento se via que era sua primeira vez no parque.

Crianças comportadas, a menor com a mãe, as outras de mão duas a duas, tagarelavam sobre os carros, os animais e o que veriam ao andar pelos jardins. Pela empolgação, se percebia que nunca haviam ido a um lugar tão grande.

Era o ponto alto de suas vidas trancadas na pandemia. O pai estava na fila orgulhoso e faceiro como só ele. A mãe sorria, com semblante carinhoso, não lhe tirava os olhos como se dissesse: Você é o meu herói, meu amor, meu Romeu. Ele sorria gostando de ver sua família feliz fazendo um belo papel.

Chegou sua vez no caixa e a voluntária perguntou o que ele queria? Com orgulho disse que queria nove pastéis e nove doces para comerem no parque. A voluntária lhe disse o valor a ser pago e lhe entregou a comanda que garantiria a retirada da compra noutra janela.

Ele olhou-a, sua cabeça caiu e os lábios tremeram. Se inclinou bem perto e perguntou: Quanto custa? A senhora do caixa pegou a comanda indicando-lhe o preço.

Naquela hora vimos que ele não tinha o suficiente para pagar o banquete. Nos olhamos e sussurramos: como dirá aos filhos que não tinha dinheiro suficiente para o planejado?

Diante do que acontecia, meu familiar enfiou a mão no bolso, tirou nossa única nota de R$ 50 e a jogou no chão perto dos pés daquele honrado pai de família.

Eu me abaixei, peguei os R$ 50, dei um tapinha no ombro do homem e disse olhando firme no fundo dos seus olhos: Com licença, isso caiu do seu bolso!

Aquele pai de família entendeu o que acontecia. Ele não pedira desconto nem esmola, mas apreciou a ajuda naquele caso desesperador, doloroso e constrangedor.

Ele me olhou direto, pegou minhas mãos entre as suas, apertou com força a nota de R$ 50 e, com os lábios tremendo e olhos marejados, disse: Obrigado, obrigado, obrigado. Isso significa muito para minha família!

Saímos da fila com pastéis e cucas compradas fiado, voltamos para casa alegres pensando no que aquele passeio proporcionaria àquela família desconhecida.

Naquele dia, sentimos o valor do "dar". Vimos que doar é maior que receber, e o quanto temos que aprender em generosidade. Constatamos que o amor verdadeiro é provido de muitas atitudes e poucas palavras. Naquele dia recebemos muito mais do que R$ 50.

Caro leitor, o que achas disto?

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