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PLURAL: textos de Neila Baldi e Silvana Maldaner


    • A cabeça de Perseu
      Neila Baldi 
      Professora universitária

      style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">

      Conta a lenda que Medusa era uma bela mulher, admirada por todos os deuses gregos. Um dia, Poseidom aestuprou, no templo de Atena, que a amaldiçoou, transformando seus cabelos em serpentes. Há quem enxergue no gesto uma punição. Outros(as) imaginam que foi uma forma de protegê-la. De bela e admirada, Medusa passou a ser temida: quem a olhasse seria petrificado. Perseu foi o enviado para matar Medusa. Sem olhar em seus olhos, usando um escudo, conseguiu cortar a cabeça da Medusa.

      O Perseu com a cabeça da Medusa é uma estátua esculpida pelo italiano Antonio Canova e está no Cortile Ottagono dos Museus Vaticanos. Pois, em outubro passado, o artista argentino-italiano Luciano Garbati, instalou em Nova York uma estátua representando Medusa segurando a cabeça de Perseu. Trata-se de um tributo ao movimento #MeToo.

      Quantas cabeças de Perseu teremos que instalar neste Brasil do século 21, com ideias de Idade Média?

      MACHISMO

      Todos os dias o machismo é escancarado. Por vezes, soa como 'brincadeira', como no programa de rádio em que o locutor diz que as gurias do Internacional deveriam jogar de fio dental. Outras vezes, se manifesta desqualificando uma mulher, como fez um conselheiro de cultura gaúcho, dizendo que ela que se "acostumasse com seu jeito". A grosseria está na moda desde que colocamos no poder o machista, racista e homofóbico mor.

      É tão forte e estrutural que nem em instâncias como a Justiça estamos livres - vide como Mariana Ferrer foi desqualificada na audiência ou como agiu o juiz Rodrigo de Azevedo Costa em audiência virtual, em que disse que não está "nem aí para a Lei Maria da Penha" e que "ninguém agride ninguém de graça".

      Nem mesmo uma deputada, em seu local de trabalho, está a salvo. A deputada Isa Penna teve seu corpo tocado no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo. E, apesar das filmagens, o assediador nega, pois "é pai de família".

      Infelizmente, muitos(as) de nós não percebemos que é a partir das "pequenas' violências" cotidianas que chegamos ao caso da juíza Viviane Vieira do Amaral Arronenzi, morta a facadas pelo ex-marido, em frente às filhas, na noite de Natal.

      Como disse a ex-presidente Dilma Rousseff:, no Brasil, ser mulher é um risco permanente - e isto vale para qualquer idade e classe social. As mulheres estão ameaçadas por uma rotina trágica: assédio, agressão, estupro e assassinato."

      Cotidianamente, denunciamos formas de machismo. Mas é preciso mais. Toda vez que um desses homens comete uma dessas ações - como as citadas acima - e nada é feito, estamos dizendo que podem continuar fazendo. Mas, nem que tenhamos que pendurar cabeças de Perseu em todo país, continuaremos.


      Esperançar
      Noemy Bastos Aramburú
      Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

      style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">Recebemos um ano novinho em folha, 365 dias em branco. Tipo um cheque, que assinamos sem preenchermos o valor.

      Que valor você tem? Qual o crédito depositado em sua conta? O que você tem acumulado?

      Acumulou coisas boas ou coisas ruins? Quais sentimentos prevaleceram ou foram represados, estocados, abafados e principalmente mal resolvidos?

      Somos o que acumulamos e o que espalhamos. E somente espalhamos o que temos dentro da gente.

      Não podemos espalhar amor, se acumulamos ódio, raiva, inveja, medo e mágoa. Não espalhamos gentileza quando temos o ego achando que o mundo gira em torno de si.

      As pessoas que agradecem diariamente conseguem ver a beleza da vida. Das pequenas coisas. Uma refeição quentinha, uma risada gostosa, um sono terapêutico, um abraço apertado e a oportunidade de servir e ser útil.

      Quem não alimenta este sentimento de ser útil para as pessoas, ser grato em poder ajudar, trabalhar e servir ao próximo, acaba tornando a caminhada penosa, sofrível, angustiante e sem sentido.

      REFLEXÃO 

      Quem não mantem o amor e a paixão pelo que faz, acaba perdendo o significado e o propósito da vida. Não há dinheiro que pague. Não há recompensa para uma vida sem sentido.

      Vencemos um 2020 turbulento e cheio de provações materiais, emocionais e espirituais. Aprendemos algumas lições e devemos colocá-las em prática, pois a virada de ano, será somente um novo dia. Se não mudarmos a nós mesmos, tudo continuará igual, vibrando na mesma frequência.

      A nova ordem é refletir, reconciliar, entender o significado das transformações, agir e mudar.

      Não conseguiremos mudar as pessoas, nem o sistema eleitoral. Mas, quando todos usarem a sua força de transformação, a cultura do vitimismo será substituída por coragem.

      Não viveremos esperando algo ou alguém para nos salvar, delegando aos outros a responsabilidade da nossa felicidade e esperança.

      Esperançar é o contrário de esperar. Ficar esperando o mundo se entender, os políticos serem honestos, a corrupção acabar e o povo deixar de ser trouxa, talvez leve muito tempo.

      Esperar pode significar perder tempo precioso da vida, é perder o time, o ultimo bilhete, a ultima vaga no embarque imediato.

      Esperançar é manter os sonhos, é criar metas, traças formas de alcançar, transformando em forças para ser ainda mais resiliente.

      Desejo um ano de boas energias, pensamento positivo, fé, esperança e força para suportar as pressões e incertezas que ainda virão.

      O ano não vai ser diferente, nós é que devemos ser.

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