plural

PLURAL: os textos de Atílio Alencar e Fabiano Dallmeyer

  • Mitos e mentiras
    Atílio Alencar
    Produtor cultural

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    Há uma passagem no romance Macunaíma, o clássico de Mário de Andrade, que me faz pensar no Brasil de hoje. Quer dizer, o livro inteiro se presta a esse tipo de reflexão anacrônica, claro. Mas eu quero me referir a um episódio que expressa um certo paradoxo. Um recurso desconcertante, que surpreende mesmo quem o exige: o momento em que o mentiroso, contrariando todas as expectativas, diz a verdade.

    Macunaíma - que, como todos sabem, não tinha caráter algum - é acossado por uma pequena multidão indignada, formada por parentes e vizinhos, que o abordam com a perplexidade dos enganados. Havia mentido, mais uma vez, de modo injustificável. Quando tem seu sono interrompido pelo tribunal improvisado, sendo questionado sobre as façanhas que inventara, o herói anômalo simplesmente admite, de bate-pronto: eu menti. E sua declaração é tão inesperadamente definitiva, tão ilogicamente sagaz, que nada resta a ser feito a não ser dar-se o assunto por encerrado. Afinal, Macunaíma havia anulado a necessidade de julgamentos e repreensões ao confessar sua desonestidade. O mais provável é que o tenha feito menos por arrependimento do que por preguiça, claro. Ele próprio explica melhor aos irmãos, na sequência da cena, que só queria contar o que havia acontecido, mas quando reparou já estava mentindo.

    Ao longo da saga do anti-herói, Macunaíma mente muito, mente demais. Mentindo, acaba inventando o sentido original dos mundos que habita ou atravessa. E faz com que os leitores não só se encantem com a engenharia criativa dos mitos, mas também atentem para a fronteira tênue que separa o mito da mentira. Não que as mitologias não produzam suas verdades e sentidos, inclusive por diversão; mas, desde um ângulo menos teórico e mais empírico, podemos compreender melhor porque usamos a palavra "mito" também como gíria para apontar uma mentira, engodo ou embuste. A linguagem cotidiana só é aparentemente superficial, e com essa afirmação não pretendo reinventar a roda já gasta de uma verdade antiga. Mas não custa recordá-la sempre, e com atenção redobrada quando a ocasião é propícia.

    Nós, brasileiros, há muito passamos a nos resignar com a mentira como uma fatalidade quase biológica da nação. Só que, faz alguns meses, parece que adquirimos um certo orgulho de ostentar a mentira como uma glória, uma vantagem - uma lei que rege nosso modo de ser. Escrevo na primeira pessoa do plural, mas bem sei que nem todos gostaríamos de ser cúmplices dessa farsa tragicômica. E não falo, isto esteja claro, das pequenas malandragens ou da criatividade pragmática do populacho. É à confusão entre mito e mentira e do poder do engano que me refiro aqui.

    Se Macunaíma acordasse agora, daria gostosas risadas de quem bate palmas para a pobreza de espírito de certos mitos atuais.

    Sobre o café
    Fabiano Dallmeyer
    Fotógrafo

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    O café é originário das terras altas da Etiópia e foi difundido para o mundo através do Egito e da Europa. O nome café vem da palavra árabe qahwa, que significa "vinho", devido à importância que a planta passou a ter para o mundo árabe.

    Uma lenda conta que um pastor chamado Kaldi observou que seus carneiros ficavam mais espertos ao comer as folhas e frutos do cafeeiro. Ele experimentou os frutos e sentiu maior vivacidade. Um monge da região, informado sobre o fato, começou a utilizar uma infusão de frutos para resistir ao sono enquanto orava.

    As tribos africanas moíam seus grãos e faziam uma pasta utilizada para alimentar os animais e aumentar as forças dos guerreiros. Seu cultivo se estendeu primeiro na Arábia, introduzido provavelmente por prisioneiros de guerra, onde se popularizou aproveitando a lei seca por parte do Islã.

    O café no entanto teve inimigos mesmo entre os árabes, que consideravam suas propriedades contrárias às leis do profeta Maomé. Porém o café venceu essas resistências e até os doutores muçulmanos aderiram à bebida para favorecer a digestão, alegrar o espírito e afastar o sono, segundo os escritores da época.

    EM PORTUGUÊS

    Portugal é um país que consome uma grande quantidade de café. Parece simples pedir um "expresso". As vezes, não. O café em Portugal pode ser pedido como café, bica ou cimbalino. Uma bica, se for no sul, ou um cimbalino, se for no norte. Bebe-se nas típicas xícaras de café e pode ser normal, cheio ou curto, este um verdadeiro shot de cafeína.

    Para os que preferem uma bebida mais suave, ou mesmo fraca pode optar pelo "abatanado", um café longo com mais água, servido numa xícara grande, ou um "carioca", que é exatamente um segundo café, tirado com o mesmo café moído, o resultado é uma xícara com café mais claro, aguado e muito fraco. Aliás, em Portugal não existe xícara, e sim chávena.

    OUTROS TIPOS DE CAFÉ, PARA TODOS OS GOSTOS

    "Café com cheirinho". É, nada mais nada menos, do que um café e um bagaço (aguardente) e bebe-se como se fosse um digestivo, após as refeições.

    "Café duplo". Para quem precisa não de um shot, mas sim de dois! Numa xícara grande, tiram-se dois cafés.

    "Café sem princípio". Põe-se o café moído na máquina, deixa-se sair o início do café, que é onde mais está concentrada a cafeína, e só depois se enche a xícara. Digamos que é um café mais light.

    E para quem prefere com leite, o "garoto" é um café curto, servido numa xícara normal onde é acrescentado leite ou espuma de leite, já no "café pingado" há apenas um pingo de leite frio. Também muito comum, como o expresso, é o Galão. Servido num característico copo de vidro, o galão é café com leite. Aliás, mais leite do que café até. Acompanha perfeitamente com um pão torrado e é a bebida ideal para qualquer café da manhã.

    Meu dia não começa sem um bom expresso. 

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