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OPINIÃO: Trégua

Precisamos urgentemente de uma trégua, uma interrupção, ao menos temporária, de tantas notícias desagradáveis advindas desse começo de 2019. Estamos apenas no segundo mês do ano e nosso coração não teve descanso de situações lamentáveis. E pior, relatos de tragédias anunciadas, evitáveis. Precisamos aprender com esses episódios. Entender, de uma vez por todas, que o ser humano não pode estar em segundo plano em detrimento de valores financeiros.

Além da visibilidade de fatos como o aumento de casos de violência contra as mulheres, da Vale, dos meninos do Flamengo e da perda do Boechat, temos que ouvir depoimentos de pessoas que estão no poder nada compatíveis com a realidade. O ministro do Meio Ambiente, por exemplo, além de defender arriscadas flexibilizações da legislação ambiental, relata que não conhece Chico Mendes e ainda acrescenta: "Que diferença faz quem é o Chico Mendes nesse momento?". Ora, Chico Mendes deixou um legado, tendo recebido no ano de 1988 o prestigiado Prêmio Global 500 Roll of Honour, concedido pela ONU, pela defesa do meio ambiente. Chico Mendes foi assassinado aos 44 anos com tiros de escopeta na varanda da sua casa pelo fato de incomodar quem só pensava no lucro. Devido a repercussão internacional desse caso, foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente. "Casualmente", hoje se ouve que é preciso flexibilizar as leis do Ibama, pois esse órgão seria uma "indústria de multas".

Tem mais. Recentemente, a Folha de São Paulo revela que a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos mentiu ao se apresentar como advogada e mestre em Educação. A ministra sequer possui currículo Lattes, plataforma mantida pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para tornar públicos trabalhos e títulos acadêmicos. Sim, esse mesmo currículo que nos é exigido manter atualizado, se quisermos participar de projetos que tragam impacto para as comunidades onde atuamos. Eu mesma participo de alguns projetos, e não para receber além do meu salário como professora universitária, mas para proporcionar que estudantes sejam bolsistas e aprendam por meio de pesquisas e atividades teórico-práticas repensar sua atuação em um futuro breve. Que sejam profissionais que visem sempre a melhor qualidade de vida de todas as pessoas.

Teríamos outros acontecimentos para citar, tais como previsões de retrocessos na tão batalhada Reforma Psiquiátrica no sistema de saúde. Mas considero esses pontos suficientes para pensarmos na gravidade da situação em que estamos envolvidos.

Dando uma trégua nesse contexto, posso dizer que acredito na educação. E confiando nela, creio que é nossa obrigação promover, defender e anunciar aos quatro cantos a defesa do ser humano em detrimento de apenas o valor financeiro das coisas. Não podemos banalizar a existência do ser humano a ponto de pensar que o lucro pode ser melhor do que o valor da vida de todos.

Caso contrário, perde o meio ambiente, perde a sociedade, perdemos todos nós. Que os bons ventos do início do primeiro semestre letivo nas escolas públicas, privadas e nas Instituições de Ensino Superior de Santa Maria nos impregnem de energia para seguirmos em frente, lutando por uma vida justa e digna para todos e todas.

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