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OPINIÃO: Que universidade você quer?

A palavra universidade vem do latim "universitas" e está relacionada com "conjunto, universalidade e comunidade". Entre as funções da universidade, a principal é compartilhar conhecimentos entre as partes envolvidas, ou seja, docentes, alunos, técnicos e sociedade. Tudo com vistas a formar um profissional competente e qualificado para atuar no mercado de trabalho e/ou na área de pesquisa. Tais etapas de formação partem da graduação e, aos que desejarem seguir o ciclo do conhecimento, passam pela especialização, mestrado e doutorado. Ainda tem o pós-doutorado, o mais alto nível de estudo que um universitário pode alcançar.

O tripé ensino, pesquisa e extensão ganhou um novo parceiro nos últimos anos: a inovação. Ensinar, pesquisar, estender e inovar estão intimamente ligados, mesmo que cada um tenha sua incumbência. Gerar novos conhecimentos é um processo gradativo, e a universidade precisa estar voltada para isso. Isso independe de ela ser pública ou privada. O investimento, porém, quase sempre fica aquém das necessidades. No âmbito público, o governo corta recursos e contingencia o orçamento para as instituições, deixando os reitores de pires na mão atrás de verbas para a manutenção das universidades. Na esfera privada, a aplicação de recursos depende do ânimo da economia nacional, que baliza também o rumo educacional superior, tanto para gestores como para acadêmicos.

Inobstante a tudo isso, o discurso não pode estar dissociado da prática. Ensino, pesquisa, extensão e inovação são pontos cruciais para o êxito de qualquer instituição de ensino superior. Mas é preciso investir nas pessoas que integram o corpo docente, discente e técnico.

Em recente visita ao Brasil, o Prêmio Nobel da Paz de 1980, Adolfo Pérez Esquivel, defendeu uma educação superior comprometida com a liberdade e os direitos humanos. O argentino ministrou aula magna na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "A universidade tem a capacidade de transmitir consciência crítica e valores, e de formar homens e mulheres para a liberdade, e não escravos de um sistema. Esse é o desafio das universidades. A universidade tem de ser rebelde frente às injustiças e ao sofrimento do povo. Temos de trabalhar para a vida e não para a morte", enfatizou Esquivel. Ele fez questão de destacar intelectuais brasileiros, como Paulo Freire, Frei Beto e Leonardo Boff. "Paulo Freire marcou muitíssimo quando desenvolveu a 'Pedagogia do Oprimido', com a educação como prática de liberdade, que levou a um movimento muito forte em todo o continente".

A universidade, portanto, deve promover o debate público crítico, valorizar e transmitir a memória às novas gerações, não criar robôs defensores do brutal sistema capitalista vigente e defender a democracia, sobretudo a participativa. Para Esquivel, as democracias latino-americanas estão em perigo. "Não há democracia perfeita. Não somos uma sociedade de anjos, somos uma sociedade de homens e mulheres, com nossas luzes e sombras", disse.

Ao produzir conhecimento, a universidade deve tornar melhor a vida das pessoas e estar comprometida com o conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral da sociedade. Leia-se ética pública. Do contrário, a "universitas magistrorum et scholarium" - comunidade de mestres e estudiosos - vai continuar a ser uma ilha isolada no vaidoso mar acadêmico.

Mas, afinal, que universidade você quer? Faça a sua escolha.

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