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OPINIÃO: Os livros do meu exílio

Há alguns meses, alguém sugeriu que eu escrevesse um pequeno texto, fazendo comentários a respeito dos meus 10 livros essenciais. Como assim? - perguntei. Dez em quais circunstâncias? Se forem jurídicos, tais e quais; se de poesia, prosa, filosofia, linguística, teatro - e assim por diante - um número sem número de 10!

Essenciais de verdade são os que eu levaria comigo se fosse condenado ao isolamento em uma ilha desabitada, sem nenhum outro ser humano ao meu lado. A dúvida seria então a seguinte: 10 volumes ou 10 autores?

Para ser direto e incisivo, levaria o todo no qual - no meu sentir - tudo o quanto já foi escrito neste mundo encontra sua síntese: alguns livros de Aristóteles, Santo Agostinho, São Tomás e Hegel.

De Aristóteles, a Ética a Nicômaco e a Política. Há poucos, poucos dias - lembrando um passeio em Atenas, pelo seu Ginásio - escrevi a respeito dele aqui mesmo. Começo a pensar (se e quando isso acontece, dirão uns e outros!) sempre a partir do Estagirita e isso me faz um bem notável. De Santo Agostinho, as Confissões e A cidade de Deus. Sua vida, além do quanto me ensinou, me fascina. Especialmente o que arranco da literatura, para além da realidade.

Em Barcelona, maio de 1997, Tania comprou em uma livraria e me deu de presente - como sempre - a Vita Brevis, de Jostein Gaarder. Uma longa carta manuscrita de Floria Emilia a Aurelio Agustín, oculta em uma caixa com a inscrição Codex Floriae, que Gaarder encontrou em uma pequena livraria em Buenos Aires. Um livro encantador, que diz do amor maravilhosamente experimentado pelos dois. As últimas frases nele escritas vão bem além de tudo, do todo: Floria Emilia não temia a Deus, tinha medo somente dos teólogos! Depois, de São Tomás de Aquino, a Suma Teológica.

Dominicano que estudou na Universidade de Paris e extraiu do pensamento de Aristóteles a harmonia entre a fé e a razão. Sua proximidade com Frei Oswaldo Rezende O.P., que hoje existe realmente por aqui (a respeito de quem qualquer dia hei de escrever algumas linhas), torna-me - vencendo o Tempo - amigo seu de verdade também. Além de tudo, Hegel: a Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio e o Princípios da Filosofia do Direito.

Conta-se que um dia, Napoleão passando ao seu lado, ele sussurrou a um amigo "eis aí a História!". Um dia que há de vir estaremos novamente juntos, lá no céu. Carrego comigo muitos volumes, excedendo o que me pediram, comentários a respeito de 10 livros. Carrego-os em minha viagem para aquela ilha, talvez ao Além. Mais do que o tudo, se a Terra de repente explodir e minha ilha não sumir, levarei ao futuro a suma do pensamento da nossa esfera.

Do jeito que o mundo anda, tomara que exploda (já que a vida é breve, como afirma a Floria Emilia) e sobrem apenas estes livros e eu!

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