opinião

OPINIÃO: Em cima do muro?

Formar  opinião,  manifestar  opinião,  contraditar a opinião alheia... Somos seres opinativos por natureza e isso é o que caracteriza  uma  sociedade  democrática: o direito de ter e manifestar nossas opiniões. A questão é que nem sempre detemos o conhecimento suficiente para emitirmos aquele ponto de ponto vista e geralmente não temos humildade para reconhecê-lo. Ao invés de assumirmos nossa ignorância sobre o assunto, saímos emitindo opiniões esdrúxulas e descontextualizadas. Não é fácil ter uma opinião responsável! Para tanto, temos que nos debruçar sobre o assunto, estudá-lo a fundo, contraditá-lo, e nem sempre tudo isso será o suficiente.

Na condição de docente universitária, rotineiramente me deparo com as seguintes perguntas por parte dos alunos: "professora, qual o seu  posicionamento  sobre  a  redução  da  maioridade  penal?" ou "o que você pensa sobre o (des)armamento civil?". Esses questionamentos, no mais das vezes, têm a ver com o combate à violência, à criminalidade; com a busca por uma solução milagrosa para esse mal. Para todas as indagações desse porte (de grandíssimo porte, digase de passagem), respondo da mesma maneira: "não há solução simples para um problema complexo", num encurtamento da famosa frase de Henry Louis Mencken, jornalista e crítico social americano do século XIX, que afirmou que "para todo problema complexo existe uma solução simples, elegante e completamente errada".

A criminalidade está e sempre esteve presente em todos os corpos sociais, em maior ou menor nível, e é um dos dilemas mais desafiadores da contemporaneidade, especialmente em sociedades com mazelas estruturais, econômicas, educacionais etc. Obviamente inexiste um remédio banal e descomplicado capaz de saná-la imediata e prontamente. Seria fácil responder favoravelmente à redução da maioridade penal sem considerar que a falta de condições socioeconômicas contribui para o aumento da delinquência juvenil. Também seria simples afirmar que o cidadão "de bem" tem o direito de andar armado, sem levar em conta levantamentos estatísticos que demonstram que, em nações onde o acesso às armas é facilitado, homicídios cometidos em desentendimentos  corriqueiros,  como  brigas  de  trânsito  ou  discussões em família superam os praticados em assaltos, sequestros ou estupros. O desafio é enorme e o realismo deve nos mostrar que as transformações só podem ocorrer a longo prazo e com uma boa dose de coragem e sobriedade, sem arrogância ou imediatismo.

Se alguém lhe apresentar uma solução mágica, tenha absoluta certeza que essa pessoa não detém conhecimento sobre o tema, afinal, somos seres complexos vivendo em sociedades complexas. Se, no entanto, preferirmos ficar "em cima do muro" e não emitirmos opiniões radicais sobre temas polêmicos e paradoxais, isso não deve ser considerado falta de postura ou ensejar desprestígio. Geralmente, trata-se de um racional e adequado senso de responsabilidade sobre o discurso que se emite. Afinal, temos que refletir sobre o público que podemos atingir, pois somos, também, formadores de opinião.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

OPINIÃO: O homem que o circo largou pelo caminho Anterior

OPINIÃO: O homem que o circo largou pelo caminho

OPINIÃO: 'Alto da eira': quem  sabe onde fica ? Próximo

OPINIÃO: 'Alto da eira': quem sabe onde fica ?

Colunistas do Impresso