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OPINIÃO: É outono na natureza,na vida e na realidade

Tinha tudo para ser um apreciador do outono. Nasci em abril de 1945, e devo ter sido concebido em pleno inverno do ano anterior. Acrescente-se que tudo isso aconteceu na planície ondulada por coxilhas de Quaraí, terra que seguidamente figura com uma das temperaturas mais baixas na estação invernal do nosso Estado.

Todavia, ao longo das décadas já percorridas, sempre fui aficionado pela dupla primavera e verão. Curti mais o calor e a luminosidade do que o frio e seu aconchego. A partir do momento em que o guri da Fronteira conheceu o mar e por ele se deslumbrou, o verão passou a significar, ao longo de anos, a possibilidade de praia.

Este ano, preparei-me respeitosamente para o outono e procurei me convencer dos seus encantos com folhas coloridas caídas, frutos de época maduros, dias com temperaturas ditas amenas. Por uma simples razão: estou também no outono (ou já seria inverno?) do ciclo existencial, segundo as comparações que fazem entre natureza e vida humana. Essa relação tem razões, embora na existência da gente, depois do outono e do inverno, não retorne uma primavera...

Também  primaveras e verões perdem um tanto sua importância  quando a idade avança e a  saúde  atrapalha.  Assim, o mar e suas praias  têm  ficado  mais na recordação.

O resultado  tem  sido certo apego à melancolia.  Meu  olhar contagiado pela condição pessoal espraia-se. Vejo outono por tudo. O mundo estaria num ciclo histórico outonal? Nosso Brasil enfrenta um novo outono na roda das fases que se alternam? É minha percepção. Não vejo a luminosidade primaveril nas conjunturas políticas e econômicas e nas relações entre países e pessoas. No Brasil, depois de uma primaveril democracia a partir de 1988, hoje, o ambiente está carrancudo. Também o mundo não viu somente flores abrirem-se neste começo de terceiro milênio. Muitas encrencas, tragédias, sofrimentos coletivos. A realidade parece estar muito mais para um quase inverno.

Há pouco sol e muitas nuvens, algumas de mau tempo, nas redes sociais, nas relações humanas, na geopolítica das nações.

Faço força para me concentrar na natureza e na beleza outonal. É hora de curtir o outono, tanto para os que preferem o frio, quanto para os apreciadores do calor. O outono oferece alternativas e possibilidades diversas. É estação de transição. Ainda florescem algumas roseiras, cactos, árvores, outras plantas. O nascer e o pôr do sol são lindos em vários dias. E a temperatura, quem diria, esta semana andou rondando os 30 Cº mesmo aqui no Sul.

É lição para os humanos. Se a história está numa fase outonal por aqui e acolá, não é de perder a esperança. Encontrar em tempos difíceis a flor aberta, o horizonte colorido convidando a ir adiante. Na história dos povos como no ciclo natural, depois do outono e do inverno, retorna a primavera. Somente para a vida individual o outono é definitivo. O mundo, as coletividades, a história seguem adiante em busca de nova primavera.

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