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OPINIÃO: Direito à felicidade

Alguém me pediu há uns dias que escrevesse uma carta a respeito do direito à felicidade, para ser lida por crianças. Acabo de encontrar o rascunho, que aí vai:

Crianças queridas,

Que bom que vocês me chamam de vovô! Isso me deixa muito, muito feliz. O que faço hoje? Escrevo, leio e escrevo. Estou sempre lendo ou escrevendo, bem feliz. Assim, a partir das coisas simples, a vida é maravilhosa. Como eu sou advogado, vocês me perguntam se a felicidade está ligada aos direitos de cada um. Vou tentar responder.

Quando era bem pequeno, perguntei ao meu pai: "pai, onde é o fim da Terra?". Meu pai me disse que a terra não tem fim. "Mas como?" - perguntei. Ele pegou uma laranja, colocou meu dedinho em cima dela e disse assim: "Fica rodando seu dedo em volta da laranja. Quando encontrar o fim, me avisa!". E riu! Meu pai sorriu um sorriso querido, amigo, de amigo querido que hoje me espera lá no céu.

Há alguns dias, um amigo me disse que seu filho perguntou onde fica o Paraíso. Ele tentou explicar que fica no céu. "Nas nuvens?". "Não", ele respondeu, "muito além das nuvens!". Então, o menino, que tem 5 anos, olhou um pouco para o alto e lhe disse assim: "Compreendi, papai. O paraíso é lá, depois do universo, onde ficam os planetas, depois do infinito".

A felicidade é uma coisa dentro da gente. Mesmo uma pessoa que está doente pode estar sendo feliz se for capaz de sorrir para si mesmo e aprender as coisas mais simples. Abrir a janela a fim de que aquela pequena borboleta que se atrapalha toda no vidro possa ganhar o espaço do infinito. Acariciar na cabecinha um cãozinho amigo.

Outro dia, encontrei na calçada um homem humilde pedindo esmola. Dei-lhe uma moeda. Não joguei na latinha no chão, dei-a na sua mão. Ele me olhou e disse: "obrigado, meu amigo!". E eu respondi: "de nada, amigo". Nos nossos gestos havia amizade. Vocês não imaginam o quanto eu me sinto feliz por ter vivido aquele momento.

A felicidade está em nós. Tenho sempre repetido no Diário de Santa Maria que havia uma canção na Alemanha, no século XVIII, que dizia "meus pensamentos são livres" (não posso deixar de contar, todo feliz, que foi meu pai quem me ensinou essa canção!).

O Direito escrito pelos homens - a Constituição, as leis - não produz felicidade. Procura colocar ordem nas coisas para que os homens vivam honestamente, cumpram suas obrigações e deveres e não prejudiquem os outros.

A felicidade está muito acima do Direito. Existe lá dentro, no interior de cada homem. Como o pensamento. Mesmo o pobrezinho mais pobrezinho, sozinho no mundo, mesmo ele, sabendo que o paraíso é para lá do infinito - como diz o menino do meu amigo - mesmo ele poderá ser tão feliz quanto eu.

Até sempre!

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