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OPINIÃO: Aprendendo a pensar como um economista

O filme Muito além do jardim conta a história de um jardineiro (Peter Sellers) que vivia enclausurado cuidando do jardim da casa de um milionário. Sua visão do mundo externo limitava-se ao que via na TV. Quando o patrão morre, ele é colocado no olho da rua. Em contato com o mundo real, acaba ficando amigo de um homem influente que confunde sua ingenuidade com sabedoria.

Nos dias de hoje, os conceitos de pessoas influentes não ultrapassam aos 280 caracteres do Twitter. Trump e Bolsonaro manifestam-se quase sempre através dessa plataforma. A fonte de suas opiniões parece ter sido o jardineiro do filme. Porém, quem eles pensam que estão enganando? Certamente pessoas que estão predispostas a serem iludidas por soluções fáceis. É cada vez maior o número daqueles que buscam informação através de palestras e livros de autoajuda. Você acha que um atleta bem-sucedido poderia lhe ensinar algo a respeito da economia? Se assim for, a recíproca teria que ser verdadeira, ou seja, o simples fato de aprender economia o transformaria num atleta vencedor? Claro que não.

Aprendi, desde muito tempo, que a economia é um modo de pensar. Fora o futebol, a economia é o assunto que mais faz parte da roda de conversas. Se entra um economista na roda, logo é alvejado por um sem-número de perguntas. É nesse momento que nos damos conta que: "a economia é um hábito de pensamento que para qualquer um que o possua aparece como simples senso comum. Uma pessoa só lhe dá valor quando começa a discutir com alguém que não o possui".

Escolhi este trecho da brilhante economista inglesa Joan Robinson como título do meu livro, lançado na 46ª Feira do Livro de Santa Maria, para desmistificar a ideia de que a economia é um assunto impenetrável, restrito a estudiosos no assunto. Ao contrário, a economia faz parte do dia a dia das pessoas. A dificuldade é fugir dos estereótipos, como o de que os economistas falam "economês" - uma língua própria que ninguém entende ou que é assunto para matemáticos. O problema é que dificilmente se pode explicar economia limitado aos 280 caracteres do Twitter. É preciso um pouco mais de paciência para entender argumentos não triviais!

Para ser justo, a má fama da economia se deve a deficiências dos dois lados. Como advertiu Keynes: "Quem escreve sobre economia exige do seu leitor muito boa vontade, inteligência e uma boa dose de cooperação. Se houver uma deficiência na sua própria capacidade de persuadir e expor ou se a cabeça do leitor estiver repleta de ideias contrárias, ele não poderá apreender as indicações do pensamento que você está tentando lhe transmitir".

Em outra ocasião, podemos discutir se a economia é arte ou ciência. Por ora, vamos nos restringir aos "espécimes" mais comuns de economistas. Existem os da classe acadêmica, com suas diversas plumagens. Eles geralmente são pouco amigáveis e vivem isolados como o jardineiro do filme. Há também os economistas pró-mercado, que habitam o mundo das finanças. Estes últimos são os mais vistos na mídia, pois se especializaram em falar o que o mercado quer ouvir. Antes de terminar, deixo para o leitor aplicar o rótulo que achar mais apropriado ao autor deste artigo.

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