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OPINIÃO: A quem (des)interessa a educação?

Vivemos na época da economicização, quando todos os valores são convertidos em capital e lhes é atribuído um valor econômico. As nossas escolhas sobre as formas de vestir, de comer, de morar e principalmente de pensar em verdade são ditadas pelo mercado e pouco ou quase nada têm de autônomas ou espontâneas. Desde crianças somos treinados a nos deixar conduzir, seja pela mídia com suas propagandas, seja pela própria convivência com os semelhantes e seus aguçados sensos de competitividade, seja pela passividade com que nos comportamos diante dos incentivos/imposições consumeristas. Levamos uma vida inteira construindo conceitos e objetivos econômicos.

Em contraponto a essas consequências do liberalismo financeiro que nos engessa e nos robotiza, a educação escolar deve ter como norte o desenvolvimento humano, buscando acima de tudo o aperfeiçoamento das capacidades que cada sujeito possui e o reconhecimento das suas fragilidades. O crescimento econômico não pode ser nosso único propósito e a educação não pode ter seus pilares assentados em uma pedagogia voltada basicamente à inserção de profissionais capacitados no mercado de trabalho ou a exames nacionais padronizados. A inegável constatação, quando analisamos a grande maioria dos métodos de ensino atuais, é que a educação também foi mercantilizada e seus projetos estão cada vez mais voltados à construção de profissionais tecnicamente treinados, mas completamente passivos e condescendentes com a continuidade do modelo que busca resultados meramente financeiros.

É a nossa capacidade de pensar - que pode e deve ser desenvolvida não só no ambiente familiar, mas especialmente no ambiente escolar - que nos torna dissidentes, capazes de perceber que esse estado moderno gera insensibilidade e nos leva a concordar com atrocidades sem sentir qualquer remorso, afinal, esse é o parâmetro estabelecido de normalidade.

Não podemos simplesmente quantificar as nossas vidas, medindo-as de acordo com os produtos que podemos adquirir. Há muito mais em jogo nas relações sociais em uma democracia confiável: o respeito à diversidade, a capacidade de empatia ou alteridade, a percepção dos valores morais, etc.

É inserido nesse padrão de "normalidade" que recebemos as notícias sobre os cortes de verbas das universidades públicas brasileiras e sobre o estabelecimento de novos parâmetros de minguamento das disciplinas das humanidades nos calendários acadêmicos de todas as esferas educacionais. Não tenhamos a ilusão de que esse comportamento é uma medida isolada adotada por este ou aquele governo inculto. Trata-se, em verdade, da generalização presente nos "tempos modernos", cuja compreensão nos foge, mas, por outro lado, nos exige que busquemos ao menos assumir nossas responsabilidades como detentores ou formadores de opinião, afinal, a estupidez moral é essencialmente útil aos programas de desenvolvimento econômico mundiais.

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