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OPINIÃO: Santa Maria tem concurso de bandas. Minha geração desfila suas saudades

Num abril de algum ano da década de 1960, saí de onde me hospedava para ir ao encontro de amigos no prédio da antiga Ação Católica, ali depois da Catedral e da Rádio Medianeira, na esquina da Avenida Rio Branco com a Andradas. Tinha vindo de Quaraí para estudar em Santa Maria, morei em casa de família e repúblicas de estudantes. Vivia bastante sozinho e sentia a distância da família. O grupo que me esperava: colegas da então Juventude Estudantil Católica - JEC. Jovem amiga prometera providenciar um bolo, era o dia do meu aniversário, marcamos no fim de tarde. Caminhei alguns quarteirões e ouvi um som conhecido: a Banda do Maneco estava ensaiando nas ruas. Inebriei-me. Segui atrás da banda que tanto admirava. O pensamento voou. Esqueci bolo, aniversário, os que me aguardavam.

Que mico! Uma desfeita indesculpável! Era assim. Uma banda marcial passando e lá ia aquele menino sonhando, divagando, perdendo a noção de tempo e de tarefas. Atrás das bandas marciais, mudei o mundo, persegui horizontes, almejei dias melhores, sonhei vitórias. A lembrança veio à mente porque Santa Maria está sediando, neste fim de semana, o 27º Campeonato Estadual de Bandas e Fanfarras. Pela primeira vez o evento acontecerá em nossa cidade. Vão se apresentar na Avenida Rio Branco, organizados por categorias, 25 conjuntos de 18 municípios. Que bom que a sexagenária Banda Marcial Manoel Ribas sobrevive e aí está, anfitriã de suas congêneres para o concurso e disputando ela mesma na sua categoria. Enche-nos de orgulho e de emoção.

Resgata a saudade e a memória dos mais antigos que conviveram com o auge das bandas estudantis: Maneco, Santa Maria, Maria Rocha, Coração de Maria. Cada uma delas com suas características. As bandas estudantis marcaram nossa geração e fizeram parte da formação de dezenas de jovens com disciplina, harmonia, integração e responsabilidades. Por outro lado, abrilhantaram eventos e emocionaram plateias nos históricos desfiles e apresentações. Rivalizaram e competiram. Participaram de disputas nacionais. Foi um tempo intenso. A realização do Campeonato Estadual em Santa Maria é oportunidade para que toda a comunidade, mas em especial os ex-alunos do Colégio Estadual Manoel Ribas, olhem com carinho a sua banda e concorram com apoio para que se mantenha e amplie.

Quanto a este ex-aluno do Maneco, que nunca tocou na banda, mas sempre se empolgou por ela, quiseram circunstâncias pessoais e familiares que não esteja ali na Avenida torcendo. Pena. No início da década de 1990, num campeonato realizado em Guaporé, tive a emoção de ver desfilar a banda do Maneco: estava ali na condição de vice-governador. Há uns anos, li no jornal sobre uma festa de uma turma de ex-alunos do Maneco e que era anterior à minha: a banda iria se apresentar. Lá fui de intruso rever com emoção a banda na sua versão contemporânea. Hoje, septuagenário, gostaria de seguir atrás da banda, já sem os sonhos e devaneios de outrora, mas com tantas recordações e saudades.

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