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O passar do tempo e da história

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Outro dia, busquei um disco de vinil do cancioneiro italiano, dos meus preferidos, para colocá-lo a rodar no toca-discos e me dei conta de ironia temporal: chama-se Gli anni moderni e é de 1969. Tem sucessos da época com cantores como Sergio Endrigo, Nico Fidenco, Gianni Morandi, Jimmy Fontana, Rita Pavoni, etc. Esta, aliás, está viva e ativa, tem a minha idade, passou por problema cardíaco e, maravilhado, presenciei sua apresentação no palco, há pouco tempo, plena de vitalidade e alternando canções roqueiras e românticas.

Com um disco de vinil do final da década de 1960, "os anos modernos", nas mãos fui refletindo quão irônica era a situação: idoso, querendo ouvir canções italianas de décadas passadas e que há tempos não mais frequentam listas de sucessos; aparelho para rodar discos de vinil já sucedidos por várias gerações de tecnologias para ouvir melodias e o velho "long play" dizendo em sua capa que tinha grandes sucessos dos anos modernos...

Os anos modernos de 1969 já são antiquados para 2020. Os jovens da época, se ainda vivos, estão envelhecidos. E outras tribos geracionais os sucederam.

A cabeça fervilhou por essa coisa do moderno de ontem que hoje é antigo. Refleti o quanto foram pretenciosos os historiadores do iluminismo europeu que consolidaram, no século XIX, a periodização da história: idades Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. Todas elas demarcadas por acontecimentos vinculados à Europa e à evolução do Ocidente. A Idade Moderna começando pela tomada de Constantinopla em 1453. Estamos vivendo desde 1789 a Idade Contemporânea, com início balizado na Revolução Francesa. E já adentramos no segundo milênio da era cristã!

Lá pelo meio deste milênio ainda estarão numa era contemporânea que começou em 1789? Talvez em futuro nem tão remoto, nova classificação coloque divisor de épocas no século passado, quiçá na Segunda Grande Guerra pelo impacto que promoveu.

Outras periodizações existiram, de diferentes civilizações ou com suporte ideológico, todavia predomina a das idades Antiga, Média, Moderna e Contemporânea.

A divisão da história em períodos, tal como aprendemos a classificar, está superada. Tanto por ser algo exclusivamente eurocentrista e ocidental e o mundo tende a ser cada vez mais global, como pela pretensão de petrificar a caminhada histórica num tempo que já se viveu: afinal o contemporâneo deveria ser o atual e a Idade Contemporânea desde 1789 já envelheceu. O que viria depois desta Idade Contemporânea para a humanidade?

Por enquanto, alguns pensadores criam a figura do pós-moderno para dizer que costumes, cultura, a história, enfim, têm continuidade para além do presunçoso moderno ou contemporâneo que antepassados nossos se autodeclararam!

O andar inexorável do tempo perturba o pensar deste idoso. E este já é o octogésimo artigo quinzenal no Diário de Santa Maria. Agradecido.

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