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O Brasil arde em chamas

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A temporada de menor volume de chuvas na Amazônia trouxe aumento substancial no número de focos de incêndios na região. Em junho, por exemplo, foram mais de 2,2 mil os focos detectados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) superando anos recentes. Muitas destas queimadas são criminosas, gente incinerando os restos do desmatamento ilegal em grandes áreas.

Uma estiagem facilitou o alastramento do fogo também em extensas porções do Pantanal, atingindo reservas naturais, terras indígenas e fazendas daquele bioma sensível e significativo. A fumaceira é tanta que causa graves impactos nas áreas urbanas e atinge a qualidade de vida dos cidadãos.

Em ambas as frentes bombeiros, voluntários, militares e moradores lutam contra as chamas sem alcançarem definitiva vitória e evitarem o grande sacrifício de fauna e flora, além dos prejuízos para populações residentes. No caso da Amazônia, nem os decretos de Garantia da Lei e da Ordem, permitindo a atuação das Forças Armadas, resultaram em controle da sanha por derrubar a floresta e implantar atividades econômicas não compatíveis com a ecologia regional e que foi estimulada pelo discurso das autoridades nacionais nestes últimos anos.

Uma floresta cada vez menor modifica o clima até aqui no sul, aumenta os riscos de estiagens. E estas fazem com que a presença de incêndios também tenha incrementado nas regiões mais meridionais.

Infelizmente, o fogo não consome apenas a natureza no Brasil. As chamas também queimam as relações humanas e institucionais, a vida cultural e social.

A exposição de ideias divergentes - normal e necessária - torna-se desfile de agressões destemperadas. Quem ousa pensar diferente ou é fascista ou é comunista! Pululam páginas, sítios e gabinetes de ódio para alimentar redes sociais escorados em ferramentas como robôs multiplicadores. As manifestações culturais são incineradas por patrulhas de radicais ideologizados.

Até relações entre poderes constituídos são envoltas por perigosas e acaloradas labaredas. Teve o episódio de um grupelho, trajado de forma ridícula, jogando fogos na direção do prédio que representa a justiça!

A Constituição desenhou modelo de democracia com participação dos cidadãos e de suas organizações nos processos de decisão, controle e realização das políticas públicas. Isto foi reduzido a cinzas pelas chamas de um decreto que afastou a representação da sociedade civil dos órgãos colegiados da administração pública. Talvez o "civil" cause repulsa em altos escalões.

Nosso país arde com a natureza tombando diante da ambição por terra exaurida de seus recursos de solo e subsolo. E também queima na propagação do ódio como ferramenta da política, das relações humanas e do convívio comunitário. Fagulhas de preconceito e de discriminações provocam focos de incêndio social. Estaria entre nós Nero, o imperador romano que teria se deliciado com chamas consumindo a capital do seu império?

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