diário da esperança

Nem tudo é perfeito...

... muito menos, a sequência de meus textos. E é, também, nesses momentos que a gente percebe que desejo, esperança, vontade, compromisso e fatos são ações e sentimentos com nomes distintos, pois se referem a coisas diferentes. Mas não estou aqui para apresentar a definição de cada uma dessas palavras, mas para pontuar o seguinte: o quanto atrelamos as nossas esperanças a um (mundo) real que não se altera apenas por nossa vontade.

Falo aqui do quanto viaja nosso pensamento, quão grandiosos podem ser nossos desejos, a ponto de nos perdermos no enredo. É bem provável que você já tenha visto outra pessoa em situação parecida, pois se torna muito difícil compreender nossas fantasias enquanto tais no momento em que, com elas, estamos envolvidos. Ora, não basta que eu tenha esperanças de colher batatas quando planto laranjas, não é mesmo? Ou que são verdades todas as coisas que digo para mim mesma quando, mediante criteriosa análise, é apenas uma mentira bem (mal) contada.

Assim, se nem tudo é perfeito, uma música pode acompanhar nosso diálogo de hoje. É o trecho de uma das músicas do Capital Inicial: "... nem tudo é como você quer, nem tudo pode ser perfeito/pode ser fácil se você ver o mundo de outro jeito"¹.

Do convite a uma conversa, musicado pelo grupo, só discordo de uma coisa: não olhar para trás. É exatamente o não olhar para o passado que nos faz repetir velhos hábitos, alguns péssimos, ou a não revisar nossas ações em busca do que é melhor para o momento.

Quer seja individual ou coletivamente, o que só podemos separar didaticamente, todo presente contém nosso trajeto. Possui, ainda, os aprendizados que, mesmo negados, ora ou outra, para nós se apresentam. Ou seja, em miúdos, ou até em letras garrafais, o popular se põe evidente e sabedor: contra fatos não há argumentos. A questão que gostaria de propor é: quem conta os nossos fatos e a partir de onde construímos nossos argumentos?

E se parece muito distante dos textos anteriores, aqui vai uma chave de resposta ou de leitura: a depender quem tem a voz, pessoas negras ainda são vistas como sujeitos menores, mulheres são lidas como frágeis e incapazes, e homens são ditos como fortes demais para pedir informação ou até chorar. Essas e outras mentiras criadas para sustentar a vontade de algum outro, são contadas e recontadas feito canção de ninar para acalmar quem tem medo de perceber que o mundo muda, que a gente precisa mudar e que há muitos monstros em nossas histórias para encarar... pois é preciso, juntos, espera-andar.

¹ A música é "Não olhe pra trás" do álbum Gigante!, de 2004

Texto: Paula Hosana Silveira Biazus
Psicóloga e mestre em Educação Profissional e Tecnológica

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