colunistas do impresso

Necropolítica

style="width: 100%;" data-filename="retriever">

Fico estarrecido, quando constato que algumas personalidades (todas com os melhores acessos aos recursos de saúde) manifestam-se dizendo que a economia não pode parar, que é melhor que morram alguns milhares, do que diminuir os ganhos dos magnatas. São exemplos disto:  Junir Durski, dono dos Hamburgers Madero, em sociedade com  Luciano Huck; também Roberto Justos, dentre tantos outros que prefiro não citar.  Dizem: morram tantos quantos necessários, mas se excluem dos prováveis mortos.

Nesta toada, aqueles que não têm acesso aos recursos destes magnatas que se escafedam, como dizia o Justo Veríssimo, aquele que tinha nojo de pobre, personagem icônico de Chico Anísio.

Não nos enganemos, nem eu nem você, que se arriscou a ler-me, fazemos parte do grupo de magnatas e detentores do poder. Nós, empregado ou empregador, estamos todos no mesmo barco. Todos temos preocupação com o orçamento e com o fim do mês. Alguns mais, outros menos, mas todos têm insegurança com o dia de amanhã. Os que defendem a morte "dessa gente" nos incluem nisto. Magnata, rentista é quem não precisa trabalhar para viver, faz compras sem perguntar o preço, vive numa bolha egoísta, o que for bom para ele será bom para o mundo.  Portanto, se você tem que pensar na sua sobrevivência você pertence a "esta gente" desprezada pelos escravagistas modernos. Infelizmente temos muitos que não percebem isto e terminam fazendo mantra do que dizem os verdadeiros magnatas.

Este sentimento desumano e egoísta foi definido pelo filósofo, historiador, teórico político e professor universitário camaronense Achille Mbembe que, em 2003 (publicado no Brasil em 2018), como "Necropolítica". Mbmembe, em síntese, aponta que a Necropolítica é uma política de violência, que nega a humanidade do outro, daqueles que estão  fora do grupo de poder. Os outros ("esta gente") não merecem cuidado e se a morte os alcançar não importa. Pelo contrário, o necropolítico entende que "esta gente" pode morrer, é uma espécie de faxina étnica, sem os requintes do holocausto nazista.

Não se engane você leitor, nenhum de nós faz parte do grupo de magnatas e detentores do poder. Você, assim como eu, que é empregado ou empregador, estamos todos no mesmo barco. Os que defendem a morte "dessa gente" nos incluem nisto. Quem precisa trabalhar para viver, pensar na sobrevivência, se preocupar com o preço das coisas, pertence a "esta gente" desprezada pelos escravagistas modernos.

Muita gente humilde está anonimamente permitindo que possamos estar em casa lendo nosso jornal: jornalistas, operadores de máquinas, entregadores, moto boys, atendentes de mercados e farmácias, faxineiros, porteiros, dentre muitos outros. A pandemia é democrática, pode atingir a todos, mas a cura poderá ser seletiva, se o sistema de saúde entrar em colapso, terá que se decidir quem merecerá continuar com cuidados e quem deverá ser deixado à própria sorte.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Reflexões a partir de uma pandemia Anterior

Reflexões a partir de uma pandemia

Juntos e conscientes por um mundo melhor Próximo

Juntos e conscientes por um mundo melhor

Colunistas do Impresso