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Mensagem às vítimas da Kiss

data-filename="retriever" style="width: 100%;">O processo crime que tramita no Foro de Santa Maria aponta formalmente um total de 877 vítimas da tragédia da Kiss. Na verdade, esse número é infinitamente maior, considerando a dor moral de todos aqueles que, de qualquer forma, tenham vivenciado àquela que foi uma das maiores tragédias de nossos tempos.

Quando se fecham sete anos e se aproxima a data do julgamento dos acusados, venho repetir algumas palavras que já havia direcionado aos sobreviventes e familiares das vítimas, e que considero, mais do que nunca, importante relembrar. A justiça que é reivindicada não será encontrada através do direito positivado. Não existem regras apropriadas no vasto repertório legal brasileiro que vá corresponder ao que se espera.

Nunca foi prevista uma sanção que responda adequadamente a uma situação tão trágica como essa. Também nem ouso dizer que a justiça virá de Deus, porque isso dependerá da crença religiosa de cada um.

Na verdade, ela surgirá de outra forma. Virá através da consciência e da autocomiseração daqueles que, direta ou indiretamente, foram os responsáveis pelo fato. Do julgamento social que lhes será imposto, irremediavelmente, nas mais diferentes formas, durante o resto de suas vidas.

A penalidade será expressa em cada olhar acusador que lhes serão dirigidos; na discriminação que terão de carregar em cada evento social que participarão; na história de vida que carregarão no decorrer de suas existências, e na autoconsciência de que, de uma forma ou de outra, contribuíram para a morte física de tantas pessoas e lesão moral de uma infinidade de outras.

Tal fato certamente vai lhes povoar os sonhos, causar um aperto perpétuo na alma e, mesmo que não demonstrem em seus semblantes, terão a companhia dessa tragédia até seus últimos momentos de suas vidas. Tais fatos são inesquecíveis e ligaram permanentemente Santa Maria à palavra tragédia, que sempre será conhecida pela morte de sua juventude.

Cada vez que vejo as fotografias dos que partiram ou leio as manifestações de homenagens, percebo o quanto o Direito se distancia da realidade neste caso. Como explicar aos atingidos pela tragédia qual a resposta que o Estado dará para este ato? O que efetivamente é justiça neste caso? É justa a condenação prévia que se deu para os denunciados, e por extensão aos seus familiares? Será adequada a resposta do júri convocado? O que é certo e definitivo é a condenação da tristeza perpétua que foi imposta às vítimas sobreviventes, seus familiares, amigos e à própria população da cidade.

A fumaça preta que manchou o céu na noite de 27 de janeiro de 2013 se esvaiu. Em seu lugar, uma névoa cinzenta tomou conta dos corações. Não podemos esperar que o julgamento a faça desaparecer, mas sim desejar que logo venha uma luminosidade resplandecente mostrando um novo tempo, com uma sociedade mais solidária, onde a vida seja mais valorizada e o conceito de justiça seja efetivamente compreendido e alcançado, trazendo finalmente a paz à nossa cidade.

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