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Inacreditável e inaceitável, senhor presidente

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Existe uma composição cantada por Zé Geraldo no idos da década de 70 que se alimenta de um refrão cuja letra diz: "Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos". Hás controvérsias, mas, à época correu solto que a letra era uma crítica ao então ditador-presidente da República, o general Ernesto Geisel que, em uma viagem ao Exterior, foi com sua comitiva a uma praça da cidade e jogou milho aos pombos para mostrar sua sensibilidade. Vivíamos na América Latina e no Brasil a época da repressão e os opositores da ditadura militar eram presos, torturados, mortos ou desaparecidos. A lenda reza que Zé Geraldo queria denunciar o que estava acontecendo nos porões da ditadura militar, enquanto seu presidente, angelicalmente, dava milho aos pombos na praça. Só Zé Geraldo é capaz de esclarecer esse mistério.

Tudo isto para falar da maior crise sanitária do planeta: a pandemia da Covid-19. Só para falar do Brasil, já ultrapassamos 19 mil pessoas mortas e o número de infectados é impossível saber em função das subnotificações. Enquanto isso, o presidente Bolsonaro, ao ser perguntado sobre a situação, simplesmente diz: "e daí? O que querem que eu faça, sou messias, mas não faço milagres". Logo depois dessa declaração foi para um clube de tiro praticar tiro ao alvo. Não satisfeito no dia em que o Brasil ultrapassou o triste número de 10 mil mortes pelo coronavírus, o presidente avisa que vai fazer um "churrasquinho" para alguns amigos e talvez até uma partidinha de futebol. Depois desmarca o "churrasquinho" e de quebra aproveita para  ofender a imprensa - seu esporte preferido. E sabem o que ele fez para substituir o "churrasquinho"? Foi dar uma volta de jet ski no lago Paranoá em Brasília.

Nada mais parece surpreender vindo do presidente que trata as pessoas como números. Nem seus filhos escapam dessa matemática. Tem o 01, 02, 03... Fiquei matutando, cinco décadas depois no refrão da música de Zé Geraldo, e pensei numa adaptação para ela que seria: "Tudo isso acontecendo e eu aqui no clube fazendo tiro ao alvo...e passeando de jet ski". Quando parece que já vimos tudo, o atual presidente se supera e nos mostra o inacreditável e inaceitável.

Qual a boa notícia? Esse presidente vai passar. E nós, para sairmos dessa pandemia mais fortalecidos, precisamos ser mais solidários, fraternos, cooperativos, honestos, generosos, ou seja, amando ao outro. E o melhor é que para sermos tudo isso não dependemos de ninguém, a não ser de nós mesmos. Basta desejarmos, sinceramente, isso. Por que não aproveitar esse período de quarentena, de recolhimento, para refletir sobre o que estamos fazendo no fluir de nosso viver cotidiano. Poderíamos começar refletindo sobre deixar de aparentar ser o que não somos. Como fazer isso? No meu entendimento, o primeiro passo seria entendendo que: (1) Não somos o que pensamos; (2) Não somos o que falamos; (3) Não somos o que dizemos que somos; (4) Não somos o que dizemos que fazemos; (5) Não somos aquilo que os outros dizem que pensamos; (6) Não somos aquilo que os outros dizem que dizemos; (7) Não somos o que os outros dizem que somos. Se refletirmos sobre essas simples afirmações, concluiremos que somos aquilo que fazemos em nosso viver cotidiano.

Portanto, essa caricatura de presidente não chegou ao governo sozinho. Teve o apoio de uma parcela significativa da população brasileira. Esse projeto de ditador funesto foi votado, e bem votado, em todos os grupos sociais. Engana-se quem pensa que foi apoiado apenas por militares atrasados, bufos e saudosos da ditadura. Conheço várias pessoas que votaram nessa excrescência. Peço, humildemente, a esses eleitores(as) que reflitam e desçam desse barco funesto, cujo comandante macabro está levando milhares de brasileiros para a morte pela Covid-19 - ignorada pelo presidente. Ainda é tempo. Ajudem a tirar essa criatura do governo, ou daqui a alguns anos, o que dirão a seus filhos quando eles perguntarem: pai/mãe o que você fez para evitar essa catástrofe? Como vocês deixaram esse país acabar?


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