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General inteligente, bate em retirada

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Numa dessas leituras da madrugada me deparei com uma pequena biografia. Sou um leitor voraz de biografias. Diga-se que andamos em falta de uma boa no momento. Admiro profundamente os escritores de biografias. São brilhantes e pacienciosos, verdadeiros detetives. Mas a leitura da madrugada a que me refiro foi a de um general do Exército alemão na época do ditador Adolf Hitlel. O general se chamava Kurt Gebhard Adolf Philipp Freiherr von Hammerstein-Equord e viveu entre 1878 e 1943. O general Kurt von Hammerstein estava no auge de sua carreira como general comandante, justo quando Adolf Hitler chegou ao poder máximo da Alemanha em 1933.

Pois esse general era um homem honesto e íntegro. Um militar capaz de refletir sobre as coisas do mundo e até para além de seu tempo. Enfim, era o que se pode classificar de um intelectual, no melhor sentido dessa expressão. Justo por ter essas qualidades foi um ferrenho opositor das ideias nazistas de Adolf Hitler. Pagou um alto preço por isso, foi para a reserva no auge de sua capacidade intelectual e energia para exercer o comando militar.

O general Kurt von Hammerstein foi para a reserva antes do início da Segunda Guerra Mundial. Era o que se chamava à época de um general honesto e um digno representante da aristocracia prussiana. O importante é que o general em questão foi para a reserva voluntariamente por não concordar com a doutrina política do nazismo de Adolf Hitler e de seus bultres seguidores. Pois lá pelas tantas de sua biografia encontrei uma verdadeira pérola desse general. Mesmo na reserva se manteve em intensa atividade intelectual combatendo a ideologia nazista e procurando entender o horror que acontecia na Alemanha e no mundo. Pois Kurt von Hammerstein criou uma classificação para os oficiais generais do Exército prussiano.

Para ele existiam quatro categorias de generais no Exército alemão. Segundo ele, existiam os inteligentes, os aplicados, os burros e os preguiçosos. Ia além na sua classificação e dizia que essas qualidades geralmente vinham aos pares no mesmo oficial. Normalmente os inteligentes e aplicados chegavam ao Estado-Maior do Exército. Já os burros e preguiçosos que, segundo sua experiência militar, somam 90 % dos generais, de qualquer Exército do mundo, são meros cumpridores de ordens e mandaletes, se ocupam das tarefas de rotina. De outra forma, os inteligentes e preguiçosos tem talento para exercer tarefas mais altas e até alguma liderança militar. Porém, os mais perigosos são os burros e aplicados. Deve-se ter muito cuidado com esse tipo de general. Segundo Kurt von Hammerstein não há que lhes dar postos de muita responsabilidade, pois só sabem causar desastres.

Depois dessa leitura fiquei pensando em qual categoria os atuais generais brasileiros se enquadrariam. O atual presidente, senhor Jair Messias Bolsonaro, montou seu governo com o maior número de generais por metro quadrado do Palácio do Planalto. Não sei se, nesse quesito, não superou os ditadores-presidentes da época da ditadura militar brasileira, que, alguns generais burros e aplicados insistem em negar, e que tristemente vigorou entre 1964 e 1985. Fiquei matutando se não seria a hora dos generais que fazem parte do atual governo pedirem as contas e voltarem para a vida civil ou, como se diz no jargão militar: baterem em retirada.

Penso que aqueles que assim o fizessem seriam classificados pelo general Kurt von Hammerstein na categoria de generais inteligentes e aplicados. Com essa atitude, entre outras recompensas, não teriam motivo, para se envergonharem daqui a alguns anos, quando seus filhos ou netos lhes perguntarem: "Pai, vô, como é que o senhor participou desse governo?".

Bater em retirada não é se render. É uma ação tática para se reorganizar e salvar vidas. Qualquer cadete aprende isso no primeiro ano da academia militar



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