opinião

Fique em casa, fique em pânico?

Artur Vontobel

Muito tem se falado sobre a importância do poder público orientar suas decisões de gestão da crise através da "Ciência". Vocês já pararam para pensar que a "Ciência" não tem as respostas ainda?

Estudos de instituições conceituadas conflitam com resultados diametricamente opostos, uns sugerindo que o único caminho é o distanciamento absoluto, e outros defendendo que o distanciamento foi, e é, um grande erro. Estaria a "Ciência" engatinhando na compressão dos presentes desafios?

Não quero defender uma ou outra corrente, até porque acredito que os extremos geralmente não apresentam a melhor solução. Só quero compartilhar minha leitura até aqui: A única certeza é a incerteza.

Mas se a única certeza é a incerteza, como não entrar em pânico?

Não há vida sem riscos. Quando optamos por um caminho profissional, corremos determinados riscos. Quando formalizamos uma relação matrimonial, corremos riscos. Quando decidimos aumentar a família, corremos riscos. Qual o valor de uma vida sem riscos?

Tenho observado atentamente os números da pandemia, assim como a forma como os mesmos têm sido noticiados. As estatísticas apresentadas frequentemente induzem a uma interpretação equivocada sobre a realidade, que invariavelmente sugere o caos e leva ao pânico da população, mesmo quando os números relativos não são tão assustadores.

Não me interprete mal, não estou menosprezando o vírus nem suas consequências, mas estou procurando avaliar e refletir sobre os números em uma perspectiva mais ampla. A pandemia é uma realidade e exige cuidados e precaução, mas será que não estamos exagerando nas medidas? Será que os efeitos na saúde não serão ainda maiores se mantivermos esta postura de pânico?

Vamos refletir sobre alguns dados. Nos últimos cinco anos, o Brasil registrou uma média superior a 1,260 milhão de óbitos por ano, o que equivale a uma média diária de 3.468 óbitos. Nos quatro primeiros meses fechados de 2020, tivemos um pouco menos de 400 mil óbitos registrados. Uma média diária de 3.329 óbitos.

Desde a primeira morte registrada como Covid, até o dia 12 de maio, houve uma queda de aproximadamente 39% nos óbitos diários registrados como pneumonia, em pleno outono, período em que historicamente os óbitos por pneumonia crescem. Em 2018, foram aproximadamente 80 mil óbitos registrados como pneumonia. Até o presente momento, são cerca de 25 mil óbitos atribuídos à causa Covid (confirmados e suspeitos).

Mais uma vez, não me interprete mal, não estou menosprezando o vírus, só estou me encorajando a enfrentá-lo. Até quando vamos fugir da realidade? Até quando seremos reféns do fique em casa?

Será que os efeitos colaterais deste remédio "fique em casa" não serão mais devastadores que o próprio vírus? Milhares de pessoas já perderam seus empregos, milhares de sonhos empreendedores transformados em pesadelo. Milhares de pessoas passando fome.

Historicamente, quem está em maior vulnerabilidade são os que mais sofrem durante as crises. Cada semana sem retomarmos nossas atividades representarão meses para uma mínima recuperação, onde o distanciamento social de classes, infelizmente, é o que tenderá a prevalecer.

Se estamos em guerra contra o vírus, pergunto: já viram alguém vencer uma guerra escondido por tanto tempo? Sejamos cautelosos, sejamos prudentes, sejamos propagadores de mais coragem, não de pânico.

Precisamos preservar e apoiar as pessoas do grupo de risco, seguindo as orientações de precaução e confiando em nossos profissionais da saúde, mas não podemos esquecer do resgate da confiança. Sem confiança, não há retomada.

(Fontes: IBGE, Portal da Transparência, DataSus e Worldmeters. Data de corte 12/05 para limpar a defasagem de registros. Somente considerados óbitos dos meses já fechados em 2020, para que as informações sejam comparáveis na métrica de média diária)


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