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Quando a Luisa Neves, editora do Opinião e Variedades do Diário, me telefona e solicita que faça parte do grupo das palavras, confesso que pensei em comprar um guarda-chuva. - "Lá vai.", pensei, e, pelo que me conheço, haverá uma concentração média de prós e contras, apoios, contestações, chutes ou proposições retóricas que exigirão de mim - como de todo aquele que opina e escreve - uma estratégia de neutralidade em tempos de interação midiática.

Não mais se envia uma coluna à redação de um jornal ou se expõe um pensamento em rede sem a imediata resposta de quem está do outro lado. Também não existe antídoto contra o mal-estar que pode provocar uma reação incivilizada diante de algo escrito em modo opinativo, pois hostilidades estão em voga e ganham manchetes, memes, atravancam grupos de WhatsApp em formato de vídeos e áudios vistos e ouvidos sorrateiramente, e, mesmo, na forma de comentários jocosos e compartilhamentos.

A cada novidade, não tão nova assim, como a última declaração do nosso governador, surgem, nos porões da internet, as reações-espelho da natureza do nosso povo. Supostamente, num país dividido política e ideologicamente, há uma resultante. A prova é o enfrentamento vocabular diário que enfrentamos. Digo vocabular, porque a guerra entre humanos virou uma batalha de palavras.

Pensei no guarda-chuva porque, com o passar dos anos, a vontade de se resguardar da tempestade supera a de enfrentá-la. Afinal, passaram-se muitas experiências de vida, as trilhas foram percorridas, o filme da existência foi encenado com os recursos da observação, das conclusões imperfeitas, dos entraves e das chegadas e partidas a que todos estamos sujeitos.

As aposentadorias nos conduzem a um preguiçoso "dèja-vu". De antemão, nossas pulsões de novidade se amainam e os solavancos cardíacos diante dos novos desafios preferimos silenciar no sofá, sem descuidar da academia. Quarenta e três anos de serviço público não podem ser disfarçados com indiferença. E, mais uma vez, cá estou eu a fazer a minha parte.

Claro de que tenho consciência de que estou diante de uma tarefa de responsabilidade. Quer queira ou não, represento minha cidade - São Gabriel - inserida na fatia dos que alcançam o domínio do Diário. Mas o indivíduo que me habita transcende as raízes telúricas e ultrapassa qualquer forma de tendenciosidade, seja ela política ou de que natureza for. Há assunto de sobra para tratar e uma página em branco é sempre um desafio. A esse vazio, hoje luminoso e quase instantâneo, me proponho auscultar. O silêncio embalado a vácuo de uma tela em nossa frente pode ser um nascedouro fértil e profundamente enriquecedor.

Enfim, pronta a exordial, espero que o leitor, em especial os de vogal temática A, ou E, como queiram, pois parece que se relativizaram as coisas nesse mundo, inclusive a gramática, encontre nos meus textos algo que vá ao encontro de suas perguntas, com a ressalva de que não apresentarei certezas.

Prometo que ficarei longe de estatísticas, afastada da medição dos grandes pensadores, e equidistante da filosofia do bem-viver(!). Preparem apenas um café quente com bolinhos de chuva.

Texto: Valderez Oliveira*
Professora estadual inativa e ex-servidora do Poder Judiciário

*Interina

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